O PROJECTO

Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:

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quinta-feira, setembro 30, 2004

 

Sinais dos tempos

Tenho a idade que tenho. Para mim mandar um sms para o outro lado do mundo e receber uma resposta em 30 segundos não me impressiona. Estar num chat internético com uma ligação wireless com alguém a mil quilómetros de distância é banal. Video-conferência, been there, done that. Mas eis que aparece o reverso da medalha. Fui enviar uma carta, para longe. «Quer por correio azul, para chegar mais depressa?», perguntou-me o funcionário dos CTT, ali no Rato. «Não», respondi, não me dando ao trabalho de explicar que se quisesse urgência mandaria um e-mail, não uma carta. Fiquei a achar que a carta iria demorar uma eternidade a chegar. Demorou 3 dias. 3 dias apenas. Fantástico. Nunca pensei. Estas tecnologias...

 

As Sete Falácias: Ser lento e nu num mundo mediático e acelerado

[Os media não só apagaram o moderado e o local, como também encorajam e precipitam mudanças com um apetite que a arquitectura nunca será capaz de satisfazer. A ciência e a tecnologia podem oferecer essa mudança constante que os media exigem, mas a arquitectura e o urbanismo construídos são tipicamente muito lentos, complicados e caros. O ambiente construído está a ficar cada vez menos permanente, isso é um facto, mas ainda é o maior investimento da sociedade e uma das suas realizações mais antigas. A AIA (American Institute of Architects) e a ACSA (Association of Collegiate Schools of Architecture) bem podem organizar uma equipa para entrar na NBA ou na NFL para tentar competir com a velocidade da arte, da música, e da indústria do entertenimento. Os tijolos e as argamassas, o aço e o vidro, as árvores e os lagos, podem ser lentos, mas a sua imutabilidade e permanência são cada vez mais apelativos e potentes num mundo virtual.

Só a arquitectura virtual pode acompanhar este vício dos media da novidade e das grandes e excitantes descobertas da ciência e da tecnologia, bem como dos novos materiais e processos. A arquitectura também pode por vezes voar, mas precisamos de aceitar e saber aproveitar o facto de que o nosso meio é normalmente local, pesado, caro, diferente em cada sítio, humano, e mesmo humanitário - e lento e calmo, quando comparado com, digamos, a MTV. Todos os edifícios são realidade palpáveis e nus a todos os sentidos. São acontecimentos físicos, não realidades electrónicas como os media digitais, onde os erros podem ser simplesmente apagados já depois da fase de produção.

Como se os media não bastassem, a arquitectura precisa ainda de um cavalo de Tróia para ultrapassar o «Tribunal dos Grandes Inquisidores». A frase de Dan Solomon refere-se aos promotores, aos spin doctors, aos legisladores, aos burucratas, aos engenheiros, aos empreiteiros, aos banqueiros, e ao gosto público. A arquitectura sempre teve dificuldade em ser bem sucedida com base apenas no seu próprio mérito. Os projectistas também procuram alguma coisa que os faça sentir que não estão a ser arbitrários ou caprichosos. Foi a engenharia dos primeiros modernistas, a cultura social dos anos 60, a energia nos anos 70, o historicismo pós-moderno e a teoria literária dos anos 80, e os computadores nos anos 90. Hoje, as bases de apoio mais prometedoras de uma «boa arquitectura» são o urbanismo e a sustentabilidade. Estes impertativos gémeos são não apenas fins nobres, mas possuem também o apelo necessário para ultrapassar os Inquisidores, oferecem a bússola para reorientar o desenho, e têm a capacidade para revigorar a cultura arquitectónica.] FIM

quarta-feira, setembro 29, 2004

 

Momento Sic Radical do dia

This is a city that's dominated by a number of people who have been radically inventive in their professional lives but, at the same time, radically normal in their private lives, in how and where they live, the houses they buy, the way they dress. And I can understand it, I suppose--maybe you invent better if you live in a degree of conflict.

Rem Koolhaas, in Metropolis, «Reading Rem: An Exclusive Q&A with Koolhaas», 27.09.2004

Ignorando a maravilhosa expressão «radically normal», esta ideia exposta por Rem Koolhaas é, no mínimo, pouco inteligente. Koolhaas acha que, pelo facto de uma pessoa se vestir de uma forma «radicalmente normal», pelo facto de ter uma casa «radicalmente normal», ou pelo facto de viver num sítio «radicalmente normal», deve por isso ter uma vida profissional «radicalmente normal». Como isso não acontece, já que estas pessoas de quem fala são profissionalmente muito inventivos, então só podem viver em conflito. Não espanta, vindo de uma cabeça que só pensa no Extra Large e no totalitarismo (intelectual, político, arquitectónico, etc...) É o velho complexo da esquerda contra o conservadorismo: até na maneira de vestir temos de ser progressistas, chiça! Bom, é deixá-los falar...

 

As Sete Falácias: #7, «Mais, Maior, Mais Alto»

[Até ao embargo de 1973, a arquitectura Modernista, bem como toda a sociedade Ocidental, vivia num alegre consumo e exploração dos recursos naturais. Mesmo com as massivas reformas ambientais e com as alterações universais de comportamento que emergiram durante as décadas de 70 e 80, os Americanos ainda consomem cerca de 5 vezes mais do que a sua cota energética e produzem uma quantidade semelhante de gases estufa. A nossa casa média ocupa hoje um lote maior e cresceu cerca de 40% na última geração, ainda que os agregados familiares tenham diminuído. Em 1900, a casa média americana nem tinha casa de banho; em 2000 a casa nova média tem menos ocupantes do que casas de banho! E gastamos mais nelas por metro quadrado do que em espaços públicos.

A responsabilidade legal tradicional do arquitecto na América de proteger «a saúde pública, a segurança, e o bem-estar» precisa de ser recalibrada: por saúde pública já não se entende o controlo de doenças infecciosas mas a limpeza dos terrenos livres e do ar poluído; a segurança é mais sobre ruas seguras e segurança nos edifícios do que a protecção a colapsos estruturais e controlo do risco de incêncios; o bem-estar é hoje mais sobre a conservação dos bons locais existentes e a criação de novos ambientes calmos e acessíveis num mundo cada vez mais caro e frenético.

As três bases da sustentabilidade - Ambiente, Economia, e Equidade - precisam de um quarto vector, a Estética, como Fritz Steiner e outros arquitectos paisagistas têm indicado. Porque se um edifício, paisagem, ou uma cidade não forem belos, não serão amados; e se não são amados não serão mantidos nem sustentados. Adicionar a Estética ao conceito de sustentabilidade é a chave que falta para tornar mais «verde» a cultura arquitectónica profissional e académica.

A arquitectura pode fazer muito mais com muito menos. Vamos ensinar a próxima geração bem como a nós próprios a construir menos mas melhor, e com menos; a reciclar; melhor ainda, a reutilizar; a projectar para o «agora a longo prazo»; a lembrar que a sustentabilidade e a justiça ambiental são intergeracionais bem como internacionais.]

terça-feira, setembro 28, 2004

 

n. 1981



E já que se fala no The Village, atenção a este nome: Bryce Dallas Howard.
 

The Village

O novo Shyamalan, e está tudo dito. Mas estará? Shyamalan aproveita-se da situação: o público já o conhece, sabe que há um estilo Shyamalan. E corre para as salas de cinema, à espera de. Todos criam os montros nas suas cabeças, mesmo antes de entrar na sala. A predisposição para o medo é evidente. Shyamalan sabe disso. O seu último filme, The Village, é um hino à sugestão. É uma obra-prima. É uma história de amor. Um filme que nos faz abrir os olhos, ou que nos mostra que às vezes o melhor é não os abrir. De uma certa maneira todos vivemos na nossa própria reserva territorial. Estará tudo na nossa cabeça?

 

A cidade do Barão

His work had destroyed much of the medieval city. It is estimated that he transformed 60% of Paris' buildings.

Confesso que, apesar de perceber que a esquerda goste do que Paris representa, nunca percebi como é possível que a esquerda goste realmente de Paris. (Nota: nunca fui a Paris, só a conheço através de fotografias, plantas e da história da arquitectura.) Explico o porquê desta minha perplexidade. Paris é, essencialmente, fruto de um urbanismo autoritário, quase sanguinário. A sua monumentalidade, o gosto pelo requinte académico, os quarteirões deitados abaixo e as pessoas desalojadas, tudo contribui para um fenómeno que nunca poderia ter acontecido em democracia. Este é o ponto fundamental: Paris não seria possível em democracia. Por isso achei normal este texto do Rui Tavares no Barnabé, A minha sentença de morte: Paris é pior do que o nó da Buraca. Apesar de não concordar, por exemplo na argumentação totalmente a despropósito sobre a torre Eiffel, é uma opinião que cai bem à esquerda. Ainda por cima o homem era Barão, quer dizer.



segunda-feira, setembro 27, 2004

 

Parem as máquinas, ou Ó meu amigo, o que aconteceu foi muito simples

É oficial. Em Novembro, vai sair o DVD do Gato Fedorento.

 

As Sete Falácias: #6, «O Centro Esquecido», ou «Apenas o Rico e o Pobre»

[Desde que a civilização construída existe os arquitectos têm servido o poder - quer seja o estado, a Igreja, a aristocracia ou oligarquia. O patronato das elites não é surpreendente, dado o elevado preço dos edifícios. O Iluminismo e o Modernismo, honra lhes seja feita, expandiram o repertório dos arquitectos de modo a incluir a habitação social e as estruturas utilitárias do dia-a-dia. Mas desde o declínio do Movimento Moderno, a academia e os profissionais têm de um modo geral desistido desta agenda social progressiva. As razões deste fracasso são estruturais e estão para além do nosso controlo, por exemplo, as correntes de resregulamentação, globalização e consumismo.

Também traímos a nossa obrigação profissional de não causar danos e a nossa confiança pública de contribuir para a alegria e diginidade humanas. A maioria dos nossos projectos são para os 5 ou 10 porcento priviligiados - ricos clientes privados, governo, instituições, e clientes empresariais. (As empresas de arquitectura cobram 50% da sua facturação a comissões institucionais.) Ainda fazemos muito pouco trabalho para os 5 ou 10 porcento mais desfavorecidos, por exemplo habitação para os pobres, os doentes, e estudantes universitários. Devemos expandir o nosso serviço, incluindo pro bono, para as classes económicas mais baixas, especialmente para os povos que não são americanos por escolha como os afro-americanos e os nativos.

Contudo, a grande omissão é a classe média. Nem patrões, clientes, ou classes protegidas, este «quarto estado» da clientela de arquitectura é o indivíduo, parte desse grande exército de consumidores que compra casas como quem compra carros e frigoríficos. Apesar do trabalho dos arquitectos influenciar indirectamente a sensibilidade vernacular, nós geralmente vemos o gosto da classe média como vergonhosamente banal e indigno da nossa atenção. Tirando os apologistas do New Urbanism, a maioria dos arquitectos receiam trabalhar neste mundo sem classe de construtores e empreiteiros, banqueiros, e casas-modelo, apesar de isso representar o núcleo do ambiente construído.]

domingo, setembro 26, 2004

 

As Sete Falácias: #5, «O Global triunfa sobre o Local»

Desde que Alberti e Palladio se abriram a uma audiência internacional (ainda que Ocidental), os arquitectos têm procurado empregos e reconhecimento bem fora da sua comunidade e clientela locais. Lidando não só com a construção de edifícios mas também com o mundo das ideias, os arquitectos (e artistas) tornaram-se rapidamente os pares sociais e intelectuais dos seus mecenas aristocratas. Também criaram uma rede, então continental, agora global, de crítica e publicação, onde os livros, os prémios, e as revistas são frequentemente o verdadeiro local de competição e status. E onde a fotografia - e recentemente a imagem digital - é priviligiada, às vezes mais do que e às custas do verdadeiro objecto. Se a rede global de hoje é electrónica, a rede local tem de incluir uma existência pública diversa, cara-a-cara, cada vez mais essencial quando as comunidades se polarizam.

Haverá sempre procura para edifícios de assinatura das grandes estrelas internacionais, devido ao seu elevado nível de talento. (Nós, os académicos, esquecemo-nos do díficil que é desenhar e construir um edifício de qualidade.) Seria culturalmente mais enriquecedor se estes edifícios de assinatura enveredassem por uma atitude de diálogo com os valores, tradições e sensibilidades locais (ex: o Centro Cultura da Nova Caledónia de Renzo Piano.) Projectos que são específicos para um sítio, clima, cultura, história, materiais de construção, e práticas determinadas - o que já foi chamado de Regionalismo Crítico - põem em sentido a força das grandes marcas globais.

sábado, setembro 25, 2004

 

raio de calor

A estação já mudou, mas o Outono custa a chegar.
 

Olha, afinal sou de esquerda

Fiz o teste. Fui insultado:



Eu só não percebo é porque razão num teste para se determinar opções políticas se colocam questões como: «Abstract art that doesn't represent anything shouldn't be considered art at all.» Enfim.

sexta-feira, setembro 24, 2004

 

As Sete Falácias: #4, «A arquitectura triunfa sobre o urbanismo»

[Se os estudantes e profissionais são em primeiro lugar artistas e só arquitectos em segundo lugar, são urbanistas em terceiro lugar. As nossas cidades são demasiadas vezes como uma Esposição Mundial de edifícios isolados, cada um a excepção à regra e gesticulando mais amplamente do que o próximo para chamar a atenção. São abstractos e sem escala, recusando-se de modo algum a convergir com os vizinhos. Um circo arquitectónico de estilos ou uma profusão tipológica não fazem uma cidade. Nem são emblemáticos de uma cidade democrática, como apregoa Frank Gehry, entre outros.

Uma hierarquia coerente de tipos arquitectónicos, de tipo de ruas, e de espaços públicos com uma distinção clara entre edifícios de primeiro plano e edifícios de segundo plano ? podem resolver e tornar legível a complexa mistura dos usos do solo e das funções dos edifícios que as cidades sempre tiveram. A tipologia gera edifícios menos egoístas que nem sempre clamam para ser o centro das atenções. À medida que voltamos a um urbanismo de usos mistos preocupado com o peão e com os cruzmentos entre pessoas - a única tendência sobre a qual toda a gente desde Krier até Koolhaas concorda - o tipo arquitectónico torna-se mais importante do que o estilo arquitectónico.

Devemos também ter presente que a arquitetura não faz escala. Porque o corpo humano é fixo na sua dimensão e alcance, a arquitectura não pode simplesmente ser ampliada ou reduzida como uma fotografia. Os princípios de composição e as experiências espaciais alteram-se com a escala, e isto é a razão pela qual Corbusier foi um grande arquitecto mas um perigoso planeador de cidades. A arquitectura tem de abdicar dos direitos adquiridos sobre o urbanismo nos últimos 75 anos, em que o planeta evoluiu de uma predominância rural para uma situação de semi-urbanidade.]

quinta-feira, setembro 23, 2004

 

Legalize

Passou por mim hoje um homem, nos seus vinte e tais, de aspecto moderado, vestido de preto, com uma t-shirt que ostentava em letras calmas e brancas: «LEGALIZE MURDER». Ele parecia tranquilo com isso.

 

As Sete Falácias: #3, «La Tendenza Estrema»

[Os movimentos contemporâneos não têm passado de tendências ou modas. São normalmente impulsos impetuosos e pormíscuos para posições extremas, frequentemente posições polares. O pêndulo está mais rápido do que nunca, balançando de um extremo para o seu oposto dialéctico. Por exemplo, o domínio da forma sobre o fundo na minha geração deu lugar a um domínio do fundo sobre a forma, e do padrão sobre a composição. O encanto recente por imagens e padrões hiptnóticos gerados por computador será mais positivo quando penetrar mais profundamente nos estratos físicos, económicos, ecológicos e sociais mais fundamentais.
E a máquina dos media, sempre à procura do choque, normalmente aborrece-se com o equilíbrio e a moderação, e tem vistas curtas sobre as consequências e efeitos colaterais do novo. O extremismo do centro, a moderação apaixonada, ou um equilíbrio extraordinário são exemplares, mas raramente reconhecidos ou recompensados, porque a acalmia do pêndulo não é do interesse dos media.]

terça-feira, setembro 21, 2004

 

Here it is, your moment of Zen (1)

NEW MARIINSKY THEATER
St. Petersburg, Russia
Eric Owen Moss


 

As Sete Falácias: #2, «A Falácia da Invenção Obrigatória»

[Muitos estudantes e profissionais sentem-se não só no direito como artistas individuais mas também obrigados a ser constantemente inovadores, provocadores, e críticos, se não mesmo espectaculares - em todas as escalas, desde o corrimão até à autoestrada. Apesar da preocupação com o edifício-objecto ser já antiga, a invenção da forma figurada deu recentemente lugar à invenção de campos abstractos, e na tectónica (ou a aparência de tectónica), especialmente superfície e pele, quanto mais liso e brilhante melhor. O choque do novo é hoje em dia ortodoxo e estranhamente conservador, exigindo cada vez mais energia. O conceito modernista transformou a audácia e a permanente mudança em fins em si mesmo, e não meios para um fim maior, ou a resposta a um problema. A invenção e re-invenção obrigatórias tornaram-se tão servis e previsíveis como os modernistas apregoaram em tempos acerca do ecletismo e historicismo das Belas-Artes. Liberdade para ser inventivo ou até mesmo chocante não é necessariamente sinónimo de ser livre.

A originalidade não é sinónimo de criatividade. Ambas requerem imaginação e engenho, mas a criatividade não é tanto sobre inventar do zero, mas mais sobre trabalhar dentro de um dado sistema. A imprevisibilidade e o acaso têm um lugar próprio, mas raramente há uma «luz no escuro». Os estudiosos do Talmude debatem há muito o significado da primeira frase da Bíblia - «No princípio Deus criou o céu e a terra.» Esta frase ainda desperta questões de interpretação sobre se Deus estaria a inventar do nada ou a organizar elementos já existentes de forma a dar-lhes ordem. Estamos ligados e em dívida com o nosso passado mais do que realizamos e estamos disponíveis a admitir. «... qualquer pessoa criativa é uma esponja em em negação,» para citar Robert Campbell. T.S. Elliot é mais abrupto: «O mau poeta pede emprestado. O bom poeta rouba.» É aceitável roubar e pedir emprestado, mas, nas palavras de John Habraken, devemos admiti-lo livremente e glorificar os nossos antecedentes. (Os escritos de Habraken, já agora, são dignos de louvor e eu admito sem rodeios que influenciaram este ensaio.)]

P.S: Já agora, e porque as coisas só têm sentido se as conseguirmos relacionar, lembro-me de um ensaio de Jorge Calado, que seguro agora nas mãos, intitulado «Em defesa da memória», onde às tantas se lê: «(...)O meu argumento é que a memória é o instrumento da detecção das semelhanças, isto é, a memória é a chave ou porta da Imaginação.(...)»


segunda-feira, setembro 20, 2004

 

As sete falácias

Porque me parece um óptimo ensaio (aqui em baixo), vou, nestes 7 dias, de hoje até domingo, traduzir a versão reduzida, um capítulo por dia. E até porque me poupa o trabalho de inventar novos temas.
 

As Sete Falácias: #1, «O Artista a Solo»

[Os estudantes e profissionais de hoje sentem-se no direito de usar edifícios, que são promovidos, construídos e usados por outros, como veículos para uma expressão e exploração pessoais. A originalidade artística e a autoria individual são altamente aclamadas e tidas como muito importantes, em função da cultura de celebridade corrente. A arquitectura é uma arte, mas mais uma arte pública e social do que uma das belas artes. Nós hoje aceitamos edifícios-objecto isolados, por vezes balançados acrobaticamente sobre um dedo, ou torcidos numa posição de yoga, como a unidade de urbanismo e o parâmetro base para práticas sofisticadas. Howard Roark, de Ayn Rand(NT), ainda é o arquitecto mais influente da américa. Ele é a definição perfeita de génio artístico - possuído de uma visão pessoal, previsivelmente imprevisível, e não apreciado pelo público que o considera obstinado. As estrelas projectistas americanas são normalmente mais roarquianas do que os seus pares europeus, que levam o contexto urbano, a energia, e o clima mais a sério.]

NT - Howard Roark é a personagem principal do romance de Ayn Rand, The Fountainhead (1943), personagem que se suspeita ter sido inspirada por Frank Lloyd Wright.


sábado, setembro 18, 2004

 

a ler

SEVEN FALLACIES IN ARCHITECTURAL CULTURE
By Douglas Kelbaugh FAIA, DeanA. Alfred Taubman College of Architecture + Urban Planning
University of Michigan

(versão completa em .pdf)

 

Era isso e ser astronauta

Desde pequenino que queria ter um blogue com, não uma, mas duas barras laterais. (A coluna da direita é, obviamente, um work in progress.)

sexta-feira, setembro 17, 2004

 

Lei do arrendamento

No Planeta Reboque:

«Segundo dados oficiais, há cerca de 550 mil fogos vagos no país. Destes, 170 mil estão no mercado de venda ou aluguer, os restantes (380 mil!), nem uma coisa nem outra - limitam-se a estar abandonados.
Hipótese 1: A lei das rendas revela-se eficaz em reanimar o mercado do arrendamento - principal objectivo da sua aprovação - e a maioria dos fogos agora vagos é arrendada. O que acontece com o mercado da construção, o qual representa cerca de 30% do PIB? Se continua no mesmo ritmo vai produzir para não vender. Se pára, onde vão ser absorvidos os excedentes de mão-de-obra e como vão cobrir as autarquias as receitas em falta?
Hipótese 2: O mercado de arrendamento continua estagnado (porque não é a actualização de rendas antigas por si só que vai afectar os valores das novas rendas) e a única coisa que a nova lei vai realmente conseguir é penalizar, mais uma vez, a classe média da faixa etária entre os 45 e os 65 anos, aquela que se casou antes da grande explosão da compra de habitação própria.
Espero que o Governo tenha analisado todas as vertentes deste problema em profundidade.»

 

Novidades

1. Uma nova citação ali em cima, na caixa lateral, de Kurt W. Foster. Faz parte do seu texto da Bienal de Veneza, que já tinha feito referência. Por estes dias tudo parece girar à volta de Veneza (e pensam que falo da Bienal?)
2. E também um novo link internacional: Pixel Points, um blogue que arrancou hoje, onde Nancy Levinson se questiona:

«What's the role of architecture in contemporary life? What's the role of an ancient art - an art whose works are large, heavy, immobile, costly, durable - in a quick-moving culture addicted to the instant, obsessed with the new and the next? What's the role of a profession trained to plan for the future in a society that's moving too fast to think ahead? What's the role of an inescapably three-dimensional, experiential, utilitarian medium in a world where omnipresent screens stream unending images at once marvelous and unbuildable?»

quinta-feira, setembro 16, 2004

 

aeroporto IV

É difícil.

 

aeroporto III

A partir de hoje o tempo vai passar muito lentamente, arrastando-se como se carregasse uma pesada bola de chumbo atada aos tornozelos.

 

aeroporto II

Apesar de não ter dormido, esta aurora foi das mais violentas que vivi. O sol nasceu, tudo está diferente.

 

aeroporto

Hoje tudo me parece indiferente. Não dormi, olho para o que fiz, é-me indiferente. Há dias assim. Não, não há, assim nunca houve. E espero que nunca volte a haver.

terça-feira, setembro 14, 2004

 

é isto mesmo, senhores

Ora bem. Devido a um acaso que não se explica, foram ontem publicadas as seguintes frases:

«Querem lá saber que tenhamos estado uma noite inteira no atelier a resolver questões de milímetros?, (acreditem que já o sucedeu comigo).»

«Architecture has always represented the prototype of a work of art the reception of which is consummated by a collectivity in a state of distraction.»

Isto, meus amigos, explica tudo, tudinho. Um gajo mata-se a trabalhar para conseguir que a porta fique alinhada com a porra da grelha da ventilação, que por sua vez alinha com a janela, que por sua vez torna o alçado comprometido, que por sua vez implica que a estrutura rode 30º, que por sua vez leva a que as escadas deixem de ter um patim de 1,20m para ter um patim de 1,25m, enquanto as áreas do programa se encaixam todas, levando, obviamente, a que o projectista tenha um esgotamento. Mas, milímetros? Sim, mi-lí-me-tros. Para quê, olha a merda, para quê? A distracção de Benjamin é tão certeira que não percebo porque continuamos todos com preocupações. Foda-se isto. A arquitectura não se faz para o cliente. O cliente não quer saber da arquitectura para nada. Euros, o resto é palha. Resta-nos o meta-discurso construído. Tiram-nos isso, tiram-nos tudo. Milímetros.

 

Um pouco de metabloguismo para desanuviar

1. O Memória Inventada é o melhor blogue português. Aqueles rapazes transformam qualquer momento em literatura, o que me faz pensar em desistir de escrever sempre que lá vou.

2. A bem da vossa saúde leiam, no Esplanar, a tradução que o Rui Branco está a fazer do conto de Emmanuel Carrère, «Vamos a jogar uma coisa». Comecem no primeiro capítulo, mesmo no primeiro. Eu estou maravilhado, tal e qual o senhor de meia idade que aparecia no reclame àquela linha tele-amizade, ou lá o que era, foda-se.

3. Afinal, o Memória não é o melhor, o melhor é o blogue do maradona (com minúscula), desculpem lá Ivan, Tulius e Difool. É a vida. Reparem-me neste texto sobre (pausa para fazer três vénias apesar da dor nas costas) Roger Federer:

«... o concerto da Madonna deve estar mesmo a começar. Apetece, pois, falar de Roger Federer. Mamava umas migas de espargos quando Federer despachava um surfista australiano com seis secos, sete seis (para descansar) e, novamente, seis secos. Só contra deus nosso senhor o magnânimo Agassi, Federer teve que jogar ténis. As suas pancadas não me fazem lembrar nada: são secas, colocadas, displicentes, quase involuntárias. Batendo a bola cedo ou tarde; subindo à rede ou ficando lá no fundo de corte; forçando os erros dos adversários ou batendo winners em catadupa; o resultado só não é mais um ponto para Federer se a ordem natural do mundo ainda contiver mistérios para o Homem. Dá a sensação que o jogo o enfada. Como consegue bater a bola de qualquer sitio para qualquer lugar à velocidade que mais lhe convir através da trajectória que lhe der mais jeito, uma partida de ténis, para Federer, é, na sua forma actual, mais uma luta contra a sua imaginação do que contra um adversário. Explicam-se assim facilmente os factos de ter mais derrotas contra tipos desconhecidos do que contra o conjunto dos jogadores que neste momento formam o top ten do ranking ATP e de nunca ter perdido uma final. Não se admirem, portanto, se um dia derem com a seguinte noticia: "Número 1 do ATP Champions Race adormece durante segunda ronda do torneio X". É dificil manter um tipo acordado quando a sua superioridade é tão avassaladora. Que seja ganancioso e que não se farte, é o que desejo.»

É do caraças, é do caraças. (Os mesmos 76 kg.)

Agora, se me permitem, vou ali inicializar a aplicação mais conhecida por Autocad. Fundo preto, linhas brancas, não há que enganar.

segunda-feira, setembro 13, 2004

 

Eu devia estar a trabalhar, mas enfim

Da resposta que o arquitecto Carlos Cardoso me enviou e que aqui mesmo em baixo se publicou, parece só pertinente acrescentar umas linhas àquilo a que se refere no seu ponto 3. Por isso, cá vai.

Há uma diferença clara entre as opiniões que se exprimem publicamente e as opiniões que se partilham com amigos, ou mesmo opiniões que apenas se pensam. A diferença entre um crítico e um comum mortal reside nessa nuance: o crítico não pode deixar-se levar pela emoção, a não ser que consiga usar isso para enriquecer a crítica. Como isso é difícil e só está ao alcance de alguns, o melhor é esquecer. Dito isto, resta saber em que plano se coloca um blogue, este ou outro. Não há resposta prévia. No meu caso o blogue é claramente uma coisa pessoal. Raramente revejo o que escrevo antes de publicar, tornando os textos mais abruptos, mesmo aqueles que apresentam uma maior complexidade. Tudo o que aqui é escrito é opinião, não é crítica. Nos blogues são permitidas certas liberdades que noutros meios são vetadas. Está certo, é consensual. Por ser tão livre, é importante que os textos sejam claros no seu tom: dizer coisas sérias em tom sério, dizer coisas menos sérias num tom menos sério. O que me leva ao post em questão.

Começo pela título. A frase é claramente uma alusão ao meio de expressão oral. Pela bujarda, «foda-se», pelo pronome, «isto», e pela adjectivação, «mau». Quis com o título predispor o leitor para o conteúdo do texto: impressivo, descontrolado, sem coerência.

Não conheço ninguém, e em especial arquitectos, que não utilizem este tipo de linguagem e atitude perante a arquitectura. A diferença é que o guardam para si, e bem. Se chamados a comentar a mesma obra publicamente, então utilizam outra abordagem, outra linguagem, outros argumentos. Ainda que para dizer o mesmo, ou seja, isto é mesmo mau. Repare-se que não se avalia a funcionalidade, a qualidade de construção, o rigor do desenho. Apenas se avalia uma estética, uma atitude, uma coisa que nos aparece à frente. Não discordo nem pretendo que se passe a dizer publicamente tudo e mais alguma coisa. Continuemos.

Acho graça às obras do arquitecto Troufa Real. Acho graça e não gosto mesmo nada. Se é um arquitecto que tem «muito para me ensinar», disso não duvido. Mas duvido sim que, mesmo depois dos ensinamentos, a minha visão sobre o que é ou pode ser a arquitectura vá tornar-se semelhante à sua.

Mas o que digo eu no texto que incomodou tanto o arquitecto Cardoso? Peço desculpa aos leitores (que a este passo se reduzem a dois adolescentes atraídos pela expressão foda-se, e dois ou três amigos que fazem o favor de ler qualquer merda que eu escreva), e passo a analisar tão ofensiva prosa, escolhendo os trechos que me parecem serem mais «ofensivos».

«(...)eu sei que ele é maçon(...)»

Não sei se é ou não, dado o secretismo da organização. Assumi que sim, disseram-me, e invoquei esse facto devido ao enorme misticismo e simbolismo que a Maçonaria gera, sendo por isso relevante na análise da obra de um dos seus membros (conheço outros arquitectos maçons que envolvem a sua obra nesse tipo de ambiente e discurso, se bem que seja uma arquitectura bastante distinta.)

«(...)pois, mas qual arquitectura?...(...)»

Como já disse, a minha visão da arquitectura (vale o que vale) pouco tem a ver com a obra de Troufa Real. A imagem que vi (publicada na primeira página do Expresso) causa-me estranheza. Qual arquitectura?

«por certo há aqui parâmetros de qualidade que não saltam imediatamente à vista... isto é, tem de haver não é? não é?...»

Não é ironia, nem humor. É uma inquietação verdadeira, escrita num tom (lá está o tom outra vez, arquitecto Cardoso) que evidencia alguém que vagueia no seu pensamento. O que levou isto a ser publicado na primeira página do Expresso?, penso.

«(...)é do Troufa Real, eu sei, não se deve esperar muito, sim(...)

Para quem, como eu, conhece e não gosta do estilo Troufa Real, não se pode esperar muito. A mesma atitude se pode observar em quem não gosta do Siza: é sempre tudo igual, branco e liso, não se pode esperar muito.

«(...)se isto é uma merda? é um modo de pôr a questão, mas não sei se será o mais indicado...(...)»

Quantas vezes não disse, caro arquitecto Cardoso, «acho isto uma merda», comentando alguma obra de um colega arquitecto? Nenhuma? Temos santo.

«(...) o Troufa é pateta? não, nem pensar... mas é um modo de abordar a coisa, sim... é cómico? humor? talvez haja espaço para uma arquitectura de humor... ou talvez não... o meu mal deve ser sono... coitado, deve ter tido boa vontade... só tenho pena dos fiéis do restelo...»

Devido à estupefacção que causa a imagem, pergunto-me: mas isto é feito por um pateta? Não, a inquietação cresce, não foi nenhum pateta, foi Troufa Real. Ele é cómico? Talvez a sua obra seja uma ironia bem-humorada sobre o ambiente que o rodeia, não sei. Concluo, no mesmo tom que comecei, intimista e sem sentido, o meu mal deve ser sono.

Respondo, agora, às questões levantadas pelo meu interlocutor:

Tem a noção do teor do comentário que escreveu?
R: Tenho, acabei de explicar.

O que o move contra o arquitecto Troufa Real?
R: Nada.

Seria capaz de dizer isto em público?
R:Mas, não o disse?

E cara a cara com o próprio?
R: Por motivos de humildade e boa educação, não.

Sabe o que este post evidencia?
R: Não.

Pois bem, agradeço à pessoa que chegou até aqui e peço desculpa. O blogue segue dentro de momentos. Assunto encerrado.

 

Direito de resposta

«Face à sua estupefacção, as seguintes observações:

1.
(...)Não percebo sequer porque lê este blogue. Sinceramente, é muito fácil ignorá-lo, vai ver que consegue fazê-lo sem dificuldade. (...) Nem percebo o seu incómodo por ver uma «truta nova» escrever o que lhe apetece. Se estes textos produzissem algum impacto público, se eu lucrasse com o que aqui escrevo, se isso contribuísse para a minha promoção pessoal (...)

Como leitor da revista Arquitectura e Vida, o Lourenço de certeza que sabe que o seu blogue foi mencionado na rubrica Internet da edição 45 (Janeiro, 2004) da referida revista. Posto isto, e entre outras coisas, não me queira convencer de que os seus textos não produzem qualquer impacto público, quanto mais não seja dentro da própria classe, o que já é significativo.
Assim, se lucra com o que escreve não sei. Se isso contribui para a sua promoção pessoal (positiva ou negativamente), também não sei. Agora que causa impacto público, essencialmente junto da classe, penso que já não restam dúvidas.


2.
(...) Em primeiro lugar, eu não produzo crítica, não sou crítico, tenho um respeito considerável por essa actividade que me impede de aspirar a tal condição. Quanto às «invejas doentias», não sei por onde pegar. Eu não «invejo» ninguém, principalmente aqueles que critico. (...)

Aqui apetecia-me dizer apenas: NO COMMENTS.
No entanto, e uma vez que estas contradições comprometem a coerência do seu discurso (se é que alguma vez ele foi coerente), se conseguir esclareça-nos.
Produz crítica ou não produz?
Critica ou não critica?

3.
(...) Acha que sou desonesto com o trabalho de muitos arquitectos portugueses? Mas que arquitectos portugueses? Com quem fui desonesto? As suas acusações são muito vagas. (...)

Pois bem, se pensa que estou a ser muito vago, eu especifico recorrendo a um post seu datado de 25 de Julho do corrente ano. Ora recorde...

foda-se, isto é mesmo mau

Pois, err... bom, o que eu quero dizer é que... isto é, na perspectiva de que não... não é bem isto, esperem, é só que... não, eu sei que ele é maçon, mas acho que não tem a ver... o que eu quero dizer é que a arquitectura... pois, mas qual arquitectura?... sim, qual arquitectura... bom a análise não se deve basear unicamente na imagem... por certo há aqui parâmetros de qualidade que não saltam imediatamente à vista... isto é, tem de haver não é? não é?... é do Troufa Real, eu sei, não se deve esperar muito, sim... mas há limites, ou pelo menos eu acho que há limites... se isto é uma merda? é um modo de pôr a questão, mas não sei se será o mais indicado... o Troufa é pateta? não, nem pensar... mas é um modo de abordar a coisa, sim... é cómico? humor? talvez haja espaço para uma arquitectura de humor... ou talvez não... o meu mal deve ser sono... coitado, deve ter tido boa vontade... só tenho pena dos fiéis do restelo...

Recorda-se? Na verdade nem sei por onde começar, tal a estupidez denunciada neste post. Ainda mais, se tivermos em conta que tudo isso é baseado numa única fotografia, que nada esclarece. No entanto, nem assim lhe dá o beneficio da dúvida, mas antes trucida-o por completo. Deixe-me perguntar-lhe o seguinte:
Tem a noção do teor do comentário que escreveu?
O que o move contra o arquitecto Troufa Real?
Seria capaz de dizer isto em público?
E cara a cara com o próprio?
Sabe o que este post evidencia? (além da estupidez, anteriormente referida)

4.
(...) Mas deixe ver se percebi: por ser «truta nova» devo ser humilde, recatado e cumpridor? Respeitar os mais velhos e aprender com dedicação? Está bem, aceito, mas o que tem o blogue a ver com isso? (...) Tenho muito tempo para aprender. (...) E mesmo que seja desonesto para alguém (coisa que duvido ter sido), lembro-lhe mais uma vez que esse tipo de coisas são permitidas num blogue. (...)

Começo este ponto com a ultima pergunta do ponto anterior, uma vez que a temática é a mesma. E porque presumo que, neste momento, ainda não saiba o que evidência aquele post dou-lhe a resposta. Tal como na generalidade dos textos do seu blogue, aquele denuncia a sua falta de respeito (neste caso, respeito é algo que deveria ter por qualquer colega de profissão, independentemente do seu gosto pessoal) e de humildade (uma vez que ataca inadvertidamente um colega que "já leva muitos anos disto" e com o qual, o Lourenço, não duvide que teria muito a aprender). Agora, não pense que por escrever num blogue, pode dizer todas as barbaridades que lhe vêem à cabeça caluniando e ofendendo qualquer pessoa.

5.
(...) Por último, recomenda que publique aqui alguns dos meus projectos para que, dessa forma, me coloque num patamar de igualdade com quem critico. Caro Carlos Cardoso, essa cai em saco roto. Sou o primeiro a criticar o que faço e acredite não sou muito benevolente. Não percebo o que tem isso a ver com o que escrevo. É o velho complexo de quem é criticado: devolver a crítica à procedência (...)

No que diz respeito ao seus projectos, lancei o pedido de que os publicasse no blogue para ver até que ponto aceitaria expor-se à critica e analisar a forma como lidaria com esta. Foi, no entanto, sem qualquer surpresa que recebi a sua reacção e o temor que demonstrou pela crítica. Mas, e aproveitando a sua tenra idade, pergunto-lhe:
E na faculdade, não mostrava os seus trabalhos aos professores? E as opiniões deles, aceitava-as?
E dos seus colegas, também deles escondia o seu trabalho?
Ou será que tem medo que alguém adopte a sua postura, e "atire" com um comentário do género: foda-se, isto é mesmo mau (onde é que eu já ouvi isto?!) ?


6.
Cardosão: (...) dê-nos a cara antes que lhe desejemos o cu. Por enquanto, palhaço! Tenho dito.
(...)
O arq. Cardoso é um ressabiadeco qualquer
(...)
o gajo tá parvo!... já tinha dito?

Comentários ao post das trutas.

De facto, os comentários deixados no seu blogue espelham a sua qualidade. No seu lugar eu estaria tremendamente satisfeito (certamente que se identificam com a sua escrita, só pode!).

7.
Por ultimo, mas não menos importante, aproveito para esclarecer que a expressão "truta nova" por mim, inicialmente, utilizada não padecia de nenhum sentido pejorativo, mas sim irónico, pelo que não compreendo o porquê de tanta celeuma levantada à volta desta expressão. Também não me identifico com a expressão "truta velha" (tenho 37 anos) ou "velhos do restelo", uma vez que não tenho mentalidade retrógrada nem tão pouco saudosista. Tenho isso sim RESPEITO pelo trabalho dos outros, quem quer que eles sejam.

Atentamente subscreve-se,
Carlos Cardoso, arquitecto.»


Por enquanto não posso responder, mas logo que puder volto ao assunto.
 

luz:

Inundo-a de luz indirecta. Ao princípio fui tímido, com receio de abusar. Percebi depois que só resulta se abusar. Vem de todos os lados. Sul, filtrada pelos planos horizontais; nascente, idem; poente, (menos mas também) idem; norte, com dois janelões abertos, sem filtro; de cima, do céu, filtrada pelos planos verticais. O segredo é este: convidar a luz a entrar, mas com jeitinho.

 

da Holanda para a Holanda

O Pedro voltou, o Jorge foi: o Extractos volta a mexer.

domingo, setembro 12, 2004

 

La Bienalle

Arrancou hoje a 9ª Exposição Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza, este ano com Kurt W. Forster como director, sob o tema Metamorph:

«Few people today would not share the sense that we are living in times of great changes, of profound shifts in almost every discipline. In the field of architecture, these have taken on such a breadth and depth as to suggest the advent of a new era. The signs of these new times can be found dotted around everywhere and we have sought to collect them together to provide a world-wide survey under the concept of METAMORPH.»



Se o calendário não me atraiçoar, conseguirei apanhar a última semana.

 

Este post não tem interesse nenhum. O título só serve para afastar todos aqueles que têm mais que fazer, eventualmente uma vida própria. Xô.

Fui almoçar.

sábado, setembro 11, 2004

 

9.11



sexta-feira, setembro 10, 2004

 

View: front

Eu não gosto de alçados. A sua inutilidade moderna torna o desenho enfadonho. É hoje, sem dúvida, o menos valorizado (e bem) elemento das três representações. A planta revela a organização, a hierarquia, os percursos sinuosos ou evidentes de uma máquina que se habita (?); o corte evidencia a construção, a materialidade, o modo secreto como tudo encaixa; o alçado não é mais do que uma triste ocorrência que não se pode evitar. Pode ser apenas o resultados dos outros dois, e geralmente é. Pega-se na planta, junta-se-lhe dois ou três cortes q.b., e olhando de frente tem-se o alçado. Pobre, resignado, submisso. Num mundo perfeito não haveria alçados. Num mundo perfeito todos os edifícios seriam como o novo Estádio de Braga, onde Souto Moura confessou não ter «sabido» fazer o alçado, portanto fez «um corte». Há inclusivamente quem se dedique exclusivamente (não resisti a este jogo de palavras) a alçados: são os «arquitectos de fachadas», aplicados técnicos de resolução de envolventes. O que só mostra como a coisa se tornou complicada de gerir. Os especialistas só aparecem se houver mercado. A verdade é que a arquitectura já não gosta de alçados. E os alçados já não gostam de arquitectura.

quinta-feira, setembro 09, 2004

 

um para um

Quando se deixa para o fim a construção da maquete as surpresas acontencem. A confiança na representação bidimensional nunca é total e o espaço parece ter vida própria. Geralmente ficava desiludido. Começava pelas plantas, organização, passando quase imediatamente aos cortes, beleza, deixando os penosos alçados para último. O alçado, outrora a coroa de glória de qualquer arquitecto de talento, parecia assumir-se apenas como um mal necessário. O preconceito da beleza estava bem presente quando se punha a admirar um ritmo de vãos na fachada. Nunca gostava dos alçados. Quando começava a maquete já a desconfiança se tinha apoderado do x-acto. Depois de colado o último fragmento de cartão, parou, olhou, e pontapeou violentamente o volume colado nas arestas: tinha-se decidido a fazer uma maquete em tamanho natural.

 

O irreferendável

O presidente da câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, "mantém a intenção de fazer um referendo à construção de torres", na zona ribeirinha de Lisboa, procedimento que fora anunciado por Santana Lopes, quando estava à frente do município.

A ideia de submeter a referendo um conjunto de projectos distintos para a zona ribeirinha de Lisboa é absurda. Não faz qualquer sentido e só se percebe pela desenfreada pressão que os interessados vêm fazendo no sentido da sua construção.

Sou pela construção em altura, mas uma construção em altura que faça sentido, que seja coerente, que se enquadre num plano mais alargado que a justifique e integre. Não estão em causa os projectos em discussão (nesse caso diria sim ao Siza e não ao Foster), mas sim um ignorar do processo de planeamento da cidade. A voz do povo não tem sempre razão. Não se gere uma cidade por consulta popular. É de terceiro mundo fugir às responsabilidades e pôr nas mãos da população decisões tão importantes. O que vamos nós (eu também voto) avaliar? Que informação vai ser disponibilizada? E, mais imporante, que fé é esta que acredita na capacidade de avaliação dos cidadãos? A avaliar pela participação pública na elaboração e discussão dos vários planos que vão sendo sucessivamente aprovados, o planeamento urbano é um assunto que não interessa a ninguém. A população reage a casos isolados, e mesmo assim nunca o faz racionalmente. É incapaz de compreender um PDM, por causa da sua complexidade e do seu carácter fortemente técnico. O planeamento não é feito através da gestão de interesses. Não se trata de agradar a gregos e a troianos. Trata-se de colocar o interesse público acima de qualquer outro, e isso só a administração pública pode fazer. Com autoridade e capacidade de execução. Sem preconceitos antidemocráticos.

Referendar dois ou três projectos mediáticos é uma forma de contornar a lei para obter o objectivo a qualquer custo, ao abrigo do politicamente correcto da democracia. É pouco honesto e demagógico. É absurdo.


quarta-feira, setembro 08, 2004

 

História interminável

Dar um projecto por concluído é coisa digna de um residente do Júlio de Matos, tal é a insanidade do gesto. Ele nunca o conseguia. Chegado sempre o momento quando todos os objectivos tinham sido atingidos, recuava, olhava de longe o feito e pensava «pode ser melhor». Podia. Não se trata de perfeccionismo, essa característica que qualquer figura pública invoca quando perguntada sobre o «pior defeito» num inquérito de verão. O perfeccionismo trata de fazer o mesmo da melhor forma. Ele não queria fazer o mesmo, queria sempre fazer diferente. A sua ideia parecia uma criança sempre a correr à sua frente, ofegante, mas sem a mínima tenção de parar. Olhava para as enormes folhas acabadas de imprimir: ainda não estavam totalmente desenroladas e já a sua caneta derramava tinta sobre o papel, corrigindo, adicionando, riscando. Quando se deitava no fim do dia perguntavam-lhe: «já acabaste?», ao que sempre respondia «ainda agora comecei», e voltava-se de lado na certeza que mais uma vez não dormiria.

 

A conspiração do piloti

A simpática Cris enviou-me uma explicação. Ora vejam:

ahan!!! mas logo que bati os olhos no seu croqui vi que se tratava de uma cópia quase perfeita do Palácio do Planalto, (casa não minha, mas do presidente da república, o Lula). ;-)

Depois, claro, percebi que seu projeto era algo parecido com todos os blocos (prédios) da maior e única cidade toda modernista do mundo!
E óbvio: corbuseanamente horizontal, pilotizado, envidraçado etc...Consequentemente, suuuuper parecido com meu prédio! :)

Então! olha agora as fotos que enviei e percebe como os pilotis do seu mimético projeto são calculadamente irregulares assim como os do palácio do Niemeyer ;-)
Brincadeiras a parte, gostei do seu projeto, bem legal. Gostei da escadinha lateral, que no palácio do Niemeyer é uma rampa ;-)




Mas quem é esse tal de Niemeyer? Nunca ouvi falar e, pelo que vejo, não tem muito futuro, a copiar assim projectos dos outros...

 

Em defesa da honra

A Cris diz que mora num «prédio igualzinho aqui em Brasília», referindo-se ao meu último projecto aqui publicado. Ora, isto é uma afronta à minha liberdade artística. Acusa-me a Cris de plágio? Só há uma maneira de resolvermos isto a bem: a Cris fazia o favor de enviar uma foto da sua casa aqui para o blogue para tirarmos a limpo esta história toda. Prédio igualzinho, francamente...

terça-feira, setembro 07, 2004

 

basta pôr isto ali

Depois de muitas variantes experimentadas, de voltas que dei à espera de um final impossível, descobri que tudo pode ser mais simples. É uma questão de refazer. A sensação de desconfiança esteve sempre presente à espera de produzir os seus resultados. A intuição nunca se tranquilizou, o que só poderia significar que algo corria mal, e agora dá sinais de uma acalmia. Nestas situações o povo costuma ter razão, até ao lavar dos cestos é vindima.

 

Reader poll

Na página do Building Design pode ler-se a seguinte sondagem:

Do you dream of quitting architecture for another profession?

Yes - 82%
No - 18%

Só queria chamar a atenção para o verbo: dream.

segunda-feira, setembro 06, 2004

 

Escrevendo sobre

Este tipo de coisas acontece sempre. Um gajo leva com o Expresso em cima todas as semanas, sem saber muito bem porquê. Todas as edições lá se procura alguma coisa com interesse, a maioria das vezes sem sucesso. Sim, há as crónicas de Jorge Calado, há o cinema, e, de vez em quando, a arquitectura. Pois bem, este fim-de-semana não comprei o Expresso. Nada de grave em situação normal. Mas parece que perdi um artigo do Graça Dias que deu que falar, sobre um assunto que vai aprecendo por estes lados com alguma frequência. Isto é mesmo para irritar um gajo, pá. Já agora faço referência a um texto crítico do mesmo Graça Dias na edição deste mês da Arquitectura e Vida. Escrito como a crítica de arquitectura deve ser escrita. É um texto impressivo, justo, acessível, agradável de seguir, que conta uma história, a história da aproximação a um edifício. A opinião de Graça Dias, como o edifício, é questionável. O crítico coloca-se numa posição que permite esse diálogo com o leitor. Não há aqui referências à teoria, a movimentos, a estilos. Há uma análise de uma função, objectiva, e uma reacção a uma forma, mais subjectiva, como por exemplo quando diz: «Talvez o ponto mais fraco do conjunto possa ter sido a excessiva confiança na entrega da imagem poente à auto-estrada (...)». O que é isto da «excessiva confiança»? Não é mais do que uma opinião do crítico, que discordamos ou concordamos, mas que é eficaz como apresentação de um edifício que, lembre-se, ainda nos provoca as mesmas sensações daquelas obras que apelidamos de «arte».

 

9/16

Onze de Setembro? A minha tragédia virá cinco dias depois.

 

à atenção dos críticos



Casa De Óbiva Inspiração Corbusiana Sobre Pilotis, Paralelipipédica, Com Exemplos De «Fenêtre en longueur», Com Chaminés Escultóricas

Autor: L.A.C
Data: Há 5 minutos
Software utilizado: «Windows Paint»
Colaboradores: Nenhum
Data de construção: indefinida

 

Serviço

O Porto é uma cidade irremediavelmente mais velha do que Lisboa. Mas digo-o como elogio. Simplesmente, há coisas que já desapareceram da capital. Empregados de mesa competentes, por exemplo.

 

Super-star

A caminho da Casa de Chá deparo-me com um cartaz que anuncia uma intervenção urbana em Leça: Obras de Siza Vieira - Não há duas sem três! E o que fez ele em Leça? Umas piscinas (discretas) e um pequeno restaurante, há já alguns anitos. São, de facto dois pontos altos da sua criação, mas não deixa de impressionar esta admiração que os nortenhos têm pela figura. É bonito, sim senhor.


 

Estou perfeitamente à vontade

«Não gosto de ouvir dizer que não se gosta do Porto, da cidade do Porto. Não gosto de ouvir dizer que o Porto é feio, triste e escuro.
Estou perfeitamente à vontade para falar porque, sendo lisboeta, e não tencionando especialmente deixar de viver em Lisboa, gosto imenso do Porto.
Aliás, de uma maneira muito geral, gosto muito de cidades; de cidades verdadeiras, complexas, confusas, variadas, com personalidade, com alma. E o Porto é uma cidade dessas. Mas a grande característica das verdadeiras cidades é serem todas muito diferentes umas das outras. Ainda que com pontos comuns, as cidades existem para nos imprimirem memórias diferentes, para nos proporcionarem momentos diferentes, serem palcos diferentes para o sempre igual desenrolar dos mesmos dramas humanos.(...)»


Manuel Graça Dias, «Porto Seco», O Homem Que Gostava de Cidades, ed. Relógio de Água

 

Um pouco de sal e pimenta

A arquitectura (contemporânea) do Porto continua com a fasquia elevada, lá bem em cima. Há pormenores que nos deleitam esquina sim, esquina não. Mas o reverso da medalha está bem presente: a qualidade é alta mas o estilo é invariavelmente moderno.

sexta-feira, setembro 03, 2004

 

Estou

de partida para a cidade das pontes. Dar mais uma espreitadela à Casa da Música. Tenciono elogiá-la muito, não vá o diabo tecê-las.

 

por falar em torres

«Grande grafismo, melhor conteúdo.» Confirma-se. Tall Buildings, MoMA online exhibition (obrigado André).

quinta-feira, setembro 02, 2004

 

Truta velha

Tem a palavra um leitor incomodado:

«Na qualidade de "regular" leitor de O Projecto, vejo-me agora na necessidade de tecer as seguintes considerações:

Ao atentar em alguns dos textos editados no seu blog, qualquer pessoa com o mínimo de bom senso fica estupefacta com a forma como uma "truta nova" disserta, com tamanha avidez, sobre arquitectura (algo que manifestamente não conhece), ao estilo de um qualquer actor de stand-up-comedy.
O seu discurso, que peca pela evidente falta de bom senso, pauta-se por um estilo burlesco, mal dissimulado e repleto de invejas doentias, que apenas o conduzem a uma crítica fútil e sem o mínimo de substracto.
Pelo que, deve aprender a controlar esse apetite voraz pela crítica desenfreada, desonesta e injusta ao trabalho sério de muitos arquitectos portugueses.
Por último, aproveito para lhe pedir que, num meio de comunicação tão privilegiado como o blog, nos dê a conhecer algum dos seus projectos (e digo projectos porque de certeza, ainda tão petiz, não deverá contar com qualquer obra concretizada...) para que também os leitores o possam criticar. Ou julgar-se-á imune?

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Cardoso, arquitecto.»

Antes de mais devo pedir desculpa porque de facto já tinha recebido este e-mail, dia 31 de Agosto, e não o li devido a um problema na configuração da caixa de entrada.
As desculpas acabam por aqui.
Caro Carlos Cardoso: Devo dizer que fiquei estupefacto. Não percebo sequer porque lê este blogue. Sinceramente, é muito fácil ignorá-lo, vai ver que consegue fazê-lo sem dificuldade. Contudo, vou tentar responder, por respeito a um «leitor regular».
Eu não escrevo para nenhuma publicação que me comprometa com qualquer tipo de estilo, conteúdos, ou amizades. Perceba isto, porque percebendo este pequeno pormenor passará a interpretar estes textos de outra forma. Nem percebo o seu incómodo por ver uma «truta nova» escrever o que lhe apetece. Se estes textos produzissem algum impacto público, se eu lucrasse com o que aqui escrevo, se isso contribuisse para a minha promoção pessoal, eu até perceberia a sua indignação. Acredite que nada disso se passa. E quanto ao facto de eu ser «truta nova» bom, isso não podemos evitar, pois não? Mas deixe ver se percebi: por ser «truta nova» devo ser humilde, recatado e cumpridor? Respeitar os mais velhos e aprender com dedicação? Está bem, aceito, mas o que tem o blogue a ver com isso? Se algum risco corro é ser ridicularizado por expôr as minhas opiniões, mas creio ser isso da minha responsabilidade.
Manifestamente não conheço arquitectura, afirma. Mas lá está, sou «truta nova», e talvez isso passe com a idade. Tenho muito tempo para aprender. Mas é quando fala do meu estilo que mais me espanto. Diz que o estilo é «mal dissimulado». Mas afinal o que quero eu dissimular? Dê-me lá uma ajuda que sinceramente não percebo. Mais. Diz que eu produzo uma «crítica fútil», «sem o mínimo de substracto», e «cheia de invejas doentias». Em primeiro lugar, eu não produzo crítica, não sou crítico, tenho um respeito considerável por essa actividade que me impede de aspirar a tal condição. Quanto às «invejas doentias», não sei por onde pegar. Eu não «invejo» ninguém, principalmente aqueles que critico. Invejo o Manuel Vicente, se quiser, ou Frank Lloyd Wright, por exemplo, mas aí acho que qualquer arquitecto com brio devia ter essa atitude.
Acha que sou desonesto com o trabalho de muitos arquitectos portugueses? Mas que arquitectos portugueses? Com quem fui desonesto? As suas acusações são muito vagas. E mesmo que seja desonesto para alguém (coisa que duvido ter sido), lembro-lhe mais uma vez que esse tipo de coisas são permitidas num blogue. O carácter dos textos, extremamente pessoais e intimistas, assim o definem. Tenho gostos e manias? Obsessões e imbirrações? Com certeza, não as escondo. Devia ser imparcial?
Por último, recomenda que publique aqui alguns dos meus projectos para que, dessa forma, me coloque num patamar de igualdade com quem critico. Caro Carlos Cardoso, essa cai em saco roto. Sou o primeiro a criticar o que faço e acredite não sou muito benevolente. Não percebo o que tem isso a ver com o que escrevo. É o velho complexo de quem é criticado: devolver a crítica à procedência, num sentimento de inveja que caracteriza o bom português. Por isso já sabe: não verá aqui publicado nenhum projecto meu, a não ser que me apeteça.
Tenho a sensação que escrevi demais. Acabo como comecei: não percebo porque se dá ao trabalho de ler este blogue.



 

Procura-se

Sujeito alto, barba grisalha, nos seus quarentas, risonho e simpático. Saiu de casa há uma semana para ir comer um pastel de nata e não voltou. Levava uma Playboy debaixo do braço, com a Mel Lisboa na capa.
 

Moçambique

No Ma-Schamba discute-se a qualidade arquitectónica da Sé de Maputo. Pelas imagens concordo com o JPT: é muito «feiosa» (aproveito para dizer que não é verdade que os «oficiais desse ofício são muito renitentes em aceitar foice alheia», mas não me venham é dizer que a Igreja de Canavezes se parece com um quartel de bombeiros e é um atentado ao bom gosto.) Adiante. Além de feiosa é um exemplo de igrejas em betão que foram construídas com o intuito de manter uma imagem qualquer que as identificasse como "igreja". Naturalmente o neo-gótico é o caminho escolhido. Repare-se nas semelhanças com a catedral original: a simetria da fachada, um torreão central, a verticalidade pontuada nos contra-fortes (perfeitamente escusados na actual construção). Parece-me que se tratou apenas de construir maior, devido a uma qualquer necessidade prática. Maior mas não melhor, parece-me.
Bom, mas não era sobre isto que eu queira falar. Queria lembrar que uma parte importante da história da arquitectura portuguesa do sec. XX fez-se em África, em Angola e Moçambique sobretudo. O José Manuel Fernandes tem muita coisa escrita sobre isso. E falando de igrejas vem-me à memória outra imagem, que não da Sé, de Maputo (a «antiga Lourenço Marques»), que deixo aqui. Se não me engano trata-se da igreja de Santo António de Polana, e parece-me um exemplo mais interessante de arquitectura religiosa. Além disto, há que vangloriar Amâncio «Pancho» Miranda Guedes, inventor insólito do «estilo Guedes», e a obra de José Forjaz, ambos com muita coisa feita em Maputo.


 

diário de um flaneur

Não resisto a reproduzir este post do Classe Média:

«Sou um tipo sem ideias. Acumulo observações inúteis. Provavelmente terei sido assim toda a minha vida. Não sei. Também a memória me ilude.»

E vou repetindo, acumulo observações inúteis...
 

vá de retro

Numa conversa dou por mim a dizer que «o Siza é mais facilmente criticável do que o Regino Cruz». Livra, qualquer dia apanham-me a elogiar o Sua Kay.

quarta-feira, setembro 01, 2004

 

gramática

Alguém chegou aqui digitando no Google: «foda-se os arquitectos», o que me parece mal, já que claramente a expressão não está correcta.
 

It's the final countdown (ou a coroação de FLW)

Fez-se uma pesquisa no Google com vista a apurar a popularidade das estrelas. Quem é mais vezes mencionado? Eis os resultados:

1. Frank Lloyd Wright - 530.000
2. Le Corbusier - 168.000
3. Mies Van der Rohe - 111.000

4. Frank Gehry - 80.200
5. Alvar Aalto - 79.400
6. Norman Foster - 68.300
7. Antoní Gaudí - 64.100
8. Rem Koolhaas - 62.800
9. Renzo Piano - 60.800
10. Oscar Niemeyer - 46.600

11. Daniel Liberskind - 46.500
12. Walter Gropius - 43.900
13. I. M. Pei - 39.700
14. Santiago Calatrava - 39.200
15. Richard Meier - 37.400
16. Zaha Hadid - 36.200
17. Louis Kahn - 33.500
18. Jean Nouvel - 32.800
19. Tadao Ando - 29.100
20. Herzog & de Meuron - 28.100
21. Aldo Rossi - 26.000
22. Peter Eisenman - 26.000
23. Eero Saarinen - 24.400
24. Louis Sullivan - 24.200
25. Adolf Loos - 21.000
26. Álvaro Siza - 20.000

Nota: A pesquisa foi feita por expressões, ou seja, os resultados mostram as páginas que contém os nomes dos arquitectos como estão na lista. Ficaram de fora nomes que não são consistentemente distinguíveis, como Philip Johnson, por exemplo. A lista tem como mínimo os 20.000 resultados, o que dá para incluir o «nosso» Siza, mesmo à justa.

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