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Quando tiver fôlego tentarei escrevinhar qualquer coisa acerca do tema da dualidade da condição de arquitecto: negócio-arte. É um tema fundamental que pode significar uma crise na disciplina. O problema não se centra na pessoa do arquitecto, na sua condição, na sua definição. Mais grave é o resultado da sua obra. Devemos preocupar-mo-nos com o fenómeno contrastante da arquitectura/ produção face à arquitectura/ arte. Ou se quisermos podemos ver a coisa de outro prisma. De um lado há a arquitectura que se demite de qualquer responsabilidade cultural e se limita a "satisfazer" um cliente (também este cada vez mais abstracto), do outro há a arquitectura como ciência humanista, que procura responder a comportamentos e se assume como espelho/ provocador da sociedade.
Lembrei-me do assunto por causa do Siza. A sua arquitectura não é, já o disse, aquela com a qual mais me identifico. Mas sempre que visito uma obra sua sinto que alguém sofreu bastante para que aquele espaço, no qual eu me encontro, comunique comigo. A sua arquitectura reflete uma coisa espantosa. Produto como é das angústias do criador (daí o ritmo próprio de trabalho) o seu resultado não deixa de ser o oposto disso tudo. Cito Eduardo Souto Moura, pois foi ele (seu discípulo) que melhor traduziu a arquitectura do Siza:
«Gosto da naturalidade dos edifícios do Siza. Parecem gatos a dormir ao sol.»
Sobre esta dualidade, que pode ser abordada de vários ângulos, apetece-me dizer mais uma coisa. Coitado do leitor que vai ficar ainda mais confuso. Mas repito aqui uma ideia que oiço repetir muitas vezes, e que aos poucos vai adquirindo significado. Louis Kahn, falando desta responsabilidade que a arquitectura tem de ir mais além do simples cumprimento de requisitos e parâmetros, costumava falar na diferença da «
casa do ser e da casa do estar». Em alguns edifícios
está-se, outros são maiores e
são, conquistam a sua identidade. De certeza que mais tarde vou voltar a falar destas coisas. E suspeito que o António e a Luísa também.
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
23:16