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A constituição europeia é mais um passo para o esfumar das fronteiras nacionais. Tudo começou com um tratado que tinha nome de jogador de futebol (ah, saudoso Sousa Cintra). Entretanto, com o evoluir da coisa, já temos moeda única. Em breve iremos ter uma constituição, um exército, um presidente. Com o seu tempo chegará também o Hino Europeu (que será cantado numa mescla de inglês, francês e alemão).
O que será de Portugal? Estaremos destinados a ser um gigantesco campo de golf? Tornar-se-ão as nossas cidades em parques temáticos? Seremos reduzidos às manifestações regionais, de artesanato, "very typical"?
O que é uma cidade "parque temático"?
Com o crescer de uma atitude iminentemente económica de preservar tudo o que é típico a todo o custo, as cidades, ou os seus centros históricos, correm o risco de se cristalizar. A população abandona a habitação para dar lugar a lojas de "recuerdos". Tudo é pensado em função do turista. Em vez de se assistir ao pulsar natural de uma cidade, as ruas transformam-se em cenários conservados de uma realidade histórica. Impede-se o desenvolvimento natural da cidade, congelando um cenário que é vital para manter os níveis de turismo lá em cima.
Nunca a consciência histórica foi tão presente como hoje. Tudo é valorizado. Tudo tem de ser catalogado. Vivemos num período que procura cada vez mais no passado soluções para o futuro. A historiografia tornou-se numa ciência preponderante.
Um País como Portugal corre um sério risco: o complexo da identidade nacional.
Com o avançar cavalgante desta "redução ao mínimo divisor comum" que vemos na Europa, Portugal sente a sua identidade ameaçada (soube no outro dia que até o ouro já foi alvo deste fenómeno, agora os 24 quilates do ouro nacional transformaram-se em 22, é mais europeu...). Como poderá este pequeno País resistir? Como poderá manter ainda a sua identidade cultural? Qual irá ser a diferença entre nós e Espanha? A língua? (já saíu a directiva que obriga os sinais de trânsito a ostentar comunitariamente a tradução para inglês e francês?)
É neste cenário que o perigo espreita. Confiantes de que a nossa história é um valor importantíssimo para a Europa, vamos lá preservar a todo o custo estes oito séculos? Lisboa terá de se cristalizar, de modo a que daqui a cem anos a memória Portuguesa ainda perdure.
Se vamos relegar todas as manifestações arquitectónicas contemporâneas para guetos como a Expo, é meio caminho andado para a tranformação de Lisboa (e Porto) em parques temáticos. E isso já se vê. Porquê esta febre colectiva de se considerar que a melhor localização do casino seria na Expo? Chegámos ao ponto de considerar (como o fez José Sá Fernandes) que o Jardim do Tabaco é uma zona histórica!
Para a Cidade parar é definitivamente morrer.
Vou apenas dar um exemplo. França é, a par da Itália, o país europeu que mais estudos faz sobre a sua história. É normal. São os países com os maiores legados arquitectónicos. Como todas as cidades Paris tem um série de ex-libris que contribuem para o seu orgulho. O Louvre é um deles. Pois bem, neste edifício carregado de história e significado nacional, foi construída uma pirâmide de vidro com uma linguagem contemporânea. A pirâmide (arq. Ieoh Ming Pei) é hoje mais um desses símbolos. Tornou-se património. A cidade ganhou. O País ganhou.
Confundimos muitas vezes a noção de Património com a História. Cada época tem o dever de fazer património. Que património irá deixar o séc. XXI português para as gerações futuras?
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
13:11