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domingo, junho 15, 2003

 

Santos Populares

«"Cheira bem, cheira a Lisboa"! Lisboa entrou em festa e não pára até 30 de Junho. Manjericos, sardinha assada e marchas são os ingredientes fundamentais.»
Jornal O Público, 12-06-03

Sem dúvida que Alfama se confunde com as suas festas. É um bairro popular com festas populares.O mês de Junho, quando se celebram as festas do concelho, transforma os bairros históricos numa praça pública que “nunca dorme”. Alfama, the district that never sleeps. Podia ser este o slogan do bairro.
Um dos grandes pólos dinamizadores da festa é o Campo das Cebolas. Com a Casa dos Bicos a apadrinhar, esta praça funciona como ponto de encontro no meio da confusão. Contrastando com as ruas e ruelas tortas e contorcidas, o Campo das Cebolas é uma espaço amplo, generoso, público, de escala citadina. E faz parte da Frente Ribeirinha. Ou seja é o ponto mais próximo do rio onde a festa tem lugar.
Mesmo ao lado a praça mais nobre de Lisboa descansa vazia. Toda a festa a contorna. Cais do Sodré, Bairro da Bica, Bairro Alto, Baixa, a Rua Augusta, Sé, Castelo, Alfama. Por todo o lado sente-se a cidade em festa. Mas no maior cartão de visita da cidade os festejos não têm lugar. Não é alvo de apropriação popular. A grande praça essa é o Campo das Cebolas.
Talvez isso seja o reflexo do espírito da festa bem como todo o espírito da cidade velha. A característica é o labirinto. O escondido. Com praças no meio claro. Mas estas praças, as de Alfama, da Bica, da Sé, funcionam como corações que bombeiam sangue para as ruas. E como as ruas são apertadas as praças têm de se encher de modo a darem força à vida das artérias. Assim o Campo das Cebolas é muito mais um ponto de encontro, de referência, de partida, do que um lugar em si mesmo.
O rio está lá.
Só que não tem importância.
Aliás essa é outra das características muito curiosas da relação da cidade com o rio. Continua a prevalecer o jogo do labirinto. Toda a encosta sul do Castelo vive sem ver o rio. Bem, há algumas abertas, mas o rio existe mais na cabeças das pessoas do que realmente. E isso nota-se nas festas populares. Sendo á “beira rio” o Tejo não faz parte da festa. É um elemento secundário. Não parece muito lógico. Mas o River Front desta parte da cidade é mais Front e menos River.
Talvez tenha a ver com a dimensão do Tejo. A tradição popular não vai muito em grandezas. O Tejo é majestoso, é imperial. A cidade é difícil, tem recantos. E por isso o Terreiro do Paço com a sua abertura majestosa e imperial para o Tejo fica sozinho em noite de festas populares.
O cozimento da cidade com o rio é feito através de aterros industriais. Aterros planos, com barracões grandes, alinhados ortogonalmente com a linha de margem. Tem cancelas que não deixam as pessoas entrar “ZONA MILITAR”. E assim os bairros e os bairristas viram as costas e fazem a festa sozinhos.
É interessante este aspecto da dimensão do rio. O Tejo em Lisboa já não é rio. É Mar. O Tejo não tem habitação, o Tejo tem portos industriais. O Tejo tem a Torre de Belém que imediatamente nos transporta para os oceanos. Assim o rio Tejo acaba em Alverca. Lisboa é banhada pelo Oceano Atlântico. É a única cidade que tem travessias diárias de oceano, os cacilheiros. Não se podem fazer festas no oceano!
A questão da escala é central para a identidade da cidade. Os símbolos da festa são a sardinha e o manjerico. A “sardinha”. Não é a “sarda”, é a “sardinha”. È um peixe pequeno, com um nome familiar, que com um bocadinho de jeito até se come as espinhas sem dar por isso. O manjerico é o bonsai português. É uma planta sui generis que se assemelha a uma pequena árvore. Este é apenas um exemplo que ilustra a centralidade da questão da escala para a identidade da cidade e dos seus cidadãos.
A importância das festas populares dominam os acontecimentos tradicionais desta área. É um mês que domina todo o ano. LAC

Comentários:
Ola

"O manjerico é o bonsai português"
Bonsai é uma ÁRVORE/ARBUSTO numa taça/prato.
O mangerico é mais da família das herbáceas e é plantado num vaso alto. ;-)
Ou seja bonsai =/= mangerico ;-)
 
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