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quinta-feira, junho 19, 2003

 

Tomás Taveira e as Amoreiras

Ah! Ainda bem que a frase polémica gerou reacção! Vou tentar explicar o que me levou a escrevê-la.
Antes disso um nota prévia: é claro que a obra do Taveira tem muitos pontos negros, mas isso pronto, o que é se há-de fazer?
O conjunto das Amoreiras é uma obra emblemática. Poucas obras em Portugal conseguiram atingir aquele nível de identidade. É uma obra fortíssima. Rejeito os argumentos que dizem que essa força advém da dimensão e do factor-choque que provocam.
Vou tentar argumentar este meu reconhecimento comparando as Amoreiras com os três edifíos que a circundam tendo sido construídos posteriormente: o Diana Parque, o Hotel D. Pedro e por último o Amoreiras Square.

1. Sobre o Diana Parque (não sei quem é o arquitecto) não me apetece falar muito. Haverá ali alguma coisa que saia do banal? É um edifício revestido a um mármore bastante horrível, volumétricamente sem interesse e que, apesar do seu pretenciosismo, passa perfeitamente despercebido.
1a. As Amoreiras são tudo menos banal. Tem uma marca muito forte, uma boa implantação e uma imagem que (não entrando pela conversa do gosto) revela a arquitectura de autor.
2. O Hotel D. Pedro (arq. Nuno Leónidas) é um objecto francamente desinteressante. Tirando a brincadeira formal que se faz na base para anunciar a entrada do hotel e, consecutivamente, jogar com a esquina, a torre é um monolíto de catálogo. O modo como os dois materiais da fachada se conjungam, a pedra e o vidro espelhado, é uma desilusão (o esboço que é apresentado no site é bastante mais interessante).
2a. As Amoreiras maravilham. Criam um imaginário próprio (não me estou a esquecer de todas as suas referências, nomeadamente dos EUA) e com isso contribuem para o enriquecimento de Lisboa. São sem dúvida um local de dinamização da cidade. O jogo formal que é conseguido, quer nas torres quer no edifício de habitação, é na minha opinião feliz. Conseguiu-se um ícone.
3. O Amoreiras Square (arq. Arsénio Cordeiro) é um desastre. Quando estava em betão ainda se podia vislumbrar algum interesse. Agora que está praticamente concluído é de fugir. O pórtico da fachada é dos gestos mais arrogantes que podemos encontrar em Lisboa. Parece querer atingir uma monumentalidade superior. Dá ares de tribunal de país sub-desenvolvido, onde o estado quer marcar a sua força. Aqueles quadrados superiores que formam um triangulo invertido e que reforçam a simetria da coisa são aberrantes. O vidro espelhado não tem qualquer sentido. A pedra de revestimento fica manchada com a água da chuva, parecendo uma esponja. As janelas à face (também espelhadas) do corpo mais baixo contribuem para a diluição do gesto tridimensional, transformando a fachada numa pele desinteressante.
3a. Apesar da sua pompa, as Amoreiras não são megalómanas. Não são arrogantes. Identificam-se até com o popular. Uma vez ouvi um comentário interessante. Dizia determinada pessoa, no meio de uma crítica feroz ao "gosto" das Amoreiras: "... e estes arcos aqui da entrada, francamente, fazem lembrar aqueles arcos do St. António, não é?" É. De um certo modo, há nas Amoreiras uma vontade algo ingénua de forma e côr. Sem ser a aberração da guitarra do BNU, aqui o edifício aproxima-se de um imaginário que tem mais de popular do que de elitista cultural. Sinto-me bem no centro comercial das Amoreiras.

É por isto que digo que o arq. Tomás Taveira é um grande arquitecto. Está preso a uma época? Talvez. Mas é daí que vem a sua verdade artística. De uma coisa podemos ter a certeza: não se trata de um arquitecto camaleão que se contorce para ir agradando ao "gosto" do cliente ou do povo. Há ali algo de genuíno. Uma imagem de marca para vender? Claro. Quase todos os arquitectos tentam construir uma "brand" para vender. O mercado não perdoa. LAC
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