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Lautrec, Warhol e Venturi
No Reino Unido sabem fazer televisão de serviço público. A BBC Prime, à noite, transforma-se em BBC Learning. Um espaço, a altas horas da madrugada está certo, onde se pode ver programas realmente interessantes. Ontem foi dado destaque, durante uma hora, a um dos meus pintores preferidos, Henri de Toulouse-Lautrec. Interessa-me principalmente devido à sua obsessão pelo banal, o vulgar, o ordinário. Repugnava a pintura de "paisagem". Dizia que a "paisagem" só tinha justificação quando era utilizada para compôr ou realçar as características físicas ou emocionais de uma pessoa. As pessoas eram o seu objecto. Era tratado nos bordeis como um senhor, era amigo das putas, seu confidente. Dava-lhes alguma dignidade, diziam. O tema da banalidade sempre me interessou muito. É também presente na arquitectura. Já falei da
arquitecura hi-tech, que considero ser o paradigma de uma lógica de
form follows finance . Agora falo da arquitectura do banal, que se pode situar no campo oposto (um dos dias das conferências da Protoypo - Prototypo #007 - foi dedicado a este tema). É muito fácil criar uma imagem apelativa recorrendo a materiais fora do comum. O simples emprego desses materiais significa a presença de vanguarda. O "tudo em vidro" continua, ainda hoje, a seduzir muita gente. Mas existe um campo de produção arquitectónica que é, por vezes, mais discreto mas muito mais rico. O modo criativo como alguns arquitectos manipulam a banalidade é fantástico. Aqui impera a experimentação, contrastando com o carácter "pronto-a-construir" de certa arquitectura. Não vou alongar-me mais. Só queria explicar esta sequência lógica que me levou de Toulouse-Lautrec à arquitectura do banal. O pintor francês foi o pai da artes gráficas. Os seus cartazes foram de tel modo revolucionários que mantêm uma aparência vanguardista. Anos mais tarde Andy Warhol veio a pegar nessa estética, nessa atitude do ordinário, constituindo-se como o ícone da arte-pop. Toulouse-Lautrec foi, de certo modo, um artista pop dos finais do séc. XIX. Nos anos sessenta vivia-se na arquitectura um momento de contestação ao modernismo, de procura de novos conceitos. É neste contexto que surge a obra de Robert Venturi. Este paralelo é interessante. O impressionismo nasceu como reacção ao intitucionalismo académico da pintura. O pós-modernismo (não é a melhor designação) nasce tembém, quase um século depois, como reacção ao academismo que entretanto se tinha imposto, o explicitamente chamado Estilo Internacional. Em ambos os casos há um situação de elitismo académico que é posto em causa por uma reacção de inspiração popular, de inspiração realista. Retratar a vida como ela é.
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
13:48