Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Depois de contornar o Marquês de Pombal, como todos os dias, meto-me na Braancamp em direcção ao Rato. Mas, ao contrário de todos os dias, não senti a mudança de piso, não notei aquela vibração no carro causada pelas pedras do pavimento. Gostava disso. Uma transição física, que produzia um ruído familiar, que assinalava a transição entre dois espaços distintos, a rotunda e a rua. Surpreso exclamo para mim próprio: «esta merda está com um piso novo». Como estive de férias não dei pelas obras, o que acentuou o carácter de surpresa. Bem, é o progresso, pensei. É sempre bom sinal. Não devemos criticar tudo o que seja dinheiro público bem empregue, como seja a repavimentação de uma das artérias mais importantes da cidade.
Pensava eu.
Até que o vi.
«JÁ REPAROU QUE A BRAANCAMP TEM UM PAVIMENTO NOVO?
ORÇAMENTO: 127 MIL EUROS»
Há limites. Aquele placard verde com letras amarelas destruiu o momento. A apreensão súbtil, real, natural, de uma cidade em mutação, deu lugar a uma acção de campanha, barata, vulgar, despropositada. É bonito fazer a obra. Mais bonito é o reconhecimento, a surpresa, a satisfação popular.
Aquele cartaz absurdo é um atentado à vida urbana e à inteligência do cidadão.
Estou bastante mais satisfeito com esta câmara municipal do que a anterior, liderada pelo João Soares. Mas com cartazes destes só me aptece dizer: «dr. Santana Lopes, vá-se lixar!»
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
12:38