O PROJECTO

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quinta-feira, outubro 09, 2003

 

O clandestino

Sei no que se pensa quando se fala no cladestino: decadência do espaço urbano, lixo, locais perigosos etc... Até concordo, mas o cladestino de que falo é ligeiramente diferente, refiro-me ao tipo de espaços que nos oferecem um certo resguardo da exposição constante que acontece normalmente para quem vive na cidade. O espaço que percorremos é público, os edifícios em que entramos são partilhados com outras dezenas de pessoas e normalmente é difícil a apropriação do espaço no sentido da nossa individualidade. Esta história veio-me à cabeça ao reparar pela enésima vez naquelas janelinhas em metade de círculo que tantas vezes estão por cima do piso térreo dos edifícios. Aparentam ser uma espécie de mezzanines encaixados logo no início do edifício. Normalmente são muito subtis e quando vamos na rua nem reparamos nelas, se estão abandonados, se se desenrola algum tipo de actividade... no entanto não deixam de ser divertidos, fazem-me lembrar aquilo que gosto de chamar de imaginário do sótão. Para (quase) todos nós o sotão já foi um local secreto, de algum misticismo, um mundo de refúgio no qual qualquer criança desenvolve as mais variadas bricadeiras. É tudo isto que estes mezzanines me fazem lembrar, um espaço intermédio dedicado ao refúgio, à individualidade e à clandestinidade. Quem viu o Being Jonh Malkovich lembra-se certamente do piso fantástico de metro e meio encarcerado num arranha-céus. Quem sabe se não é através de um destes mezzanines que chegamos à mente de um Jonh Malkovich (em versão portuguesa claro). AD
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