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sexta-feira, novembro 28, 2003

 

Porto (2) – A Casa Da Música, uma(s) passagem(ns) fugaz(es)

É difícil alhear-mo-nos da polémica. Torna-se quese impossível olhar para aquele objecto esquecendo todo o processo que lhe deu origem. Antes de sequer conhecer o edifício já todos ouvimos falar do seu grande impacto.
A primeira impressão vai nesse sentido. Já tinha lido muita coisa. Os mais cépticos falavam do impacto urbanístico, na escala desmedida, do desenquadramento. Esta última não me sensibiliza. O argumento «enquadramento na envolvente», no que à cidade diz respeito, é altamente questionável. Lembro-me de uma conferência de Manuel Graça Dias, em que lhe perguntavam acerca da obra dos Banhos de S. Paulo. Interrogavam-no sobre a fachada poente, dizendo que não era «característico» da zona. Graça Dias respondeu dizendo: «já olhou à sua volta? esta zona caracteriza-se precisamente por não ter característica, por ser uma amalgama de estilos».
Contudo ficava preocupado com a questão da escala. Há um sentido cívico que os edifícios devem cumprir, por respeito. A escala não se deve impor. Pelo que lia dava essa impressão. Pensava que a Casa da Música era uma espécie de monstro enorme e grotescto, que abafava ostensivamente os pobres edifícios que o rodeavam, pobres e desamparados. Por isso a primeira reacção ao ver finalmente a coisa foi «é só isto?»
É só isto, é isto que tem causado tanta polémica? Pareceu-me pouca coisa. Incrivelmente a escala do edifício está certa, funciona, dialoga, integra-se. É natural. Não percebo quem se insurge devido à sua dimensão.
Depois a segunda reacção foi a de espanto. Pegando naquilo que o António dizia ontem, só me apeteceu dizer «lindo». É de facto um objecto (e sobretudo um objecto) muito bonito. Estranho, provocador, alienígena. Mas ao mesmo tempo branco, calmo, pacífico. Um objecto que provoca silêncio. E espanto. Maravilha-nos.
Traz consigo um código representativo que não é o nosso. Vénia seja feita a Rem Koolhaas. É desprovida de estilo. Não é comparável. Por isso é única. Comunica, tem algo a dizer. Os seus planos inclinados são absurdamente naturais. São assim. Não podia ser de outra forma. Nós percebemos.
De realçar que apenas passei de carro. Algumas vezes, separadas no tempo. E cada vez que lá passava o fascínio crescia. Aquilo era sem dúvida um manifesto arquitectónico. Os manifestos não devem abundar. Mas de vez em quando são necessários. Fazem-nos bem. Libertam-nos do nosso mundo. Transportam-nos para outro sítio, do fantástico.
A arquitectura tem este poder. Como a música, ou a pintura. É desconcertante e põe-nos a pensar. Faz-nos sonhar. Inventa o seu próprio referencial. Torna-se arte. LAC

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