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terça-feira, novembro 11, 2003

 

Uma construção em altura sustentada

Antevendo as reacções que o post «Que se lixe Alfama! Construam as Torres do Siza!» provocaria, ontem anotei umas ideias sobre o problema da construção em altura. Devido à situação em que me encontro só posso postar hoje.

Qual a razão da necessidade de construir em altura? Porque é (hoje) fundamental? Continuam válidas as premissas da carta de Atenas, ao que a este tema dizem respeito. De facto permite a libertação de espaço ao nível do solo, possibilitando novas áreas verdes. Contudo esse não é de todo o seu principal motivo nos dias que correm.
A cidade tem hoje mais do que nunca uma necessidade de densificação. Desmontemos o conceito: não se fala de densificação da construção, usada como slogan de campanhas anti-construção, mas sim de densificação de actividades. Consequentemente densificação de pessoas.
Paradoxalmente esta nova era de comunicação explosiva não atenuou este factor. A internet não possibilita o afastamento, na medida em que uma existência virtual não pode ser autónoma de uma vivência física. A cidade como espaço central, como ágora, não se dilui nos cabos de informação. Não se assiste a uma virtualização da sociedade.
Uma crescente urbanização da sociedade implica novas exigências às cidades. Mobilidade é uma delas. Se os espaço físico das vias de comunicação, as ruas, era suficiente há uns anos, hoje esse sistema atinge a ruptura. Exemplos como o de Londres que taxa (pesadamente) a entrada de automóveis no centro da cidade irão multiplicar-se. A cidade espaço físico já não suporta a outra cidade, das pessoas.
Não é possível nem desejável, a bem do próprio desenvolvimento económico, que se perca tanto tempo diariamente em deslocação. Uma vida urbana não é compatível com uma distância considerável entre casa e emprego. Essa deve ser a excepção. Hoje é a regra. Assim é urgente densificar, encurtar distâncias, criar simultaneidades espaciais. O modelo de grandes áreas distintas (habitacionais, comerciais, escritórios) não se constitui como cidade.
Para isto poder acontecer é preciso uma rede de transportes públicos eficaz. O futuro da cidade passa pela inversão radical da situação actual. O transporte individual não deverá ser privilegiado. Neste campo Nova Iorque é incomparavelmente melhor sucedida que Los Angeles. Não se fala só no metropolitano (fulcral). Trata-se de tornar possível o transporte rodoviário colectivo. Se continuar a tendência para o êxodo periférico e consequente entrada massiva de carros diariamente na cidade atingir-se-à a ruptura. O sistema cairá.
A área metropolitana de Lisboa comporta sensivelmente 3 milhões de habitantes. Um número considerável desses 3 milhões entra, congestiona e sai diariamente de Lisboa. A qualidade urbana é completamente corrompida. Nada resiste a este delírio automóvel. Com a construção em altura suprimem-se os inconvenientes desta situação. E garante-se gente nas ruas. Vida urbana.
Em Lisboa como já disse a construção em altura tem sido renegada para guetos. Sejam de boa qualidade (ex: Parque das Nações) sejam exemplos menos conseguidos (ex: Chelas). A re-densificação de Lisboa passa por apostar na construção em altura em pontos vitais da cidade, capazes de polarizar actividades e contribuir para a verdadeira revitalização das áreas circundantes. Há que densificar a ocupação de pontos nevrálgicos, assumindo-os como situação de excepção. Não se pode condicionar o desenvolvimento de uma cidade a uma regra estúpida dos 45º. É absurdo.
Como é óbvio este cenário pode ser problemático. Os exemplos nacionais de grandes áreas de construção em altura assustam qualquer um. Como evitar isto? Simples, através do desenho. Da qualidade do desenho. Do controlo no processo de licenciamento das questões do desenho. Da resolução e harmonização do espaço público através do desenho. Só o desenho pode resolver estas questões. Simples índices e plantas de zonamento (como é feito o PDM) não chegam, sendo mesmo questionáveis. A resposta está no desenho.
Esse é o papel do arquitecto. LAC
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