Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Quanto mais tempo passa mais desactualizado se torna este post. Apesar da troca de argumentos em relação ao 73/73, em relação ao qual concordo com a posição e argumentos do Lourenço, creio no entanto que grande parte das posições em questão têm a ver com perspectivas sobre o assunto que não foram exploradas. Proponho por isso falar das mesmas coisas mas não de uma forma tão institucional.
De uma forma geral o conhecimento do que é arquitectura não é de todo concensual e normalmente navega-se por águas incertas. Ainda que de forma abstracta o arquitecto seja entendido como um técnico que fornece um serviço, que passa mais ou menos pelo cumprimento de uma série de requisitos, há a tendência de se lhe adicionar uma dose de arte, estética, bom gosto etc. O problema é que se considera que o arquitecto é uma pessoa com algum conhecimento técnico e cuja capacidade principal é este adicionar de "gosto" mais ou menos duvidoso.
Sendo que não se pode falar de arquitectos sem se falar em arquitectura, esta enquanto fenómeno cultural não é entendida, anda sempre pelo domínio da obra de arte, sendo que de antemão se julga que no campo do banal não entra a arquitectura. Arquitectura é algo extra, algo dispensável.
Primeiro convém dizer que o arquitecto não é um técnico, tal como a arquitectura não é só uma questão técnica, é sim uma prática profundamente humana. Quando se diz que não é um técnico não quer dizer que o conhecimento técnico não exista, quer dizer sim que ao contrário do que se possa pensar à partida o processo de criação não é pautado por um procedimento específico e universal aplicado para qualquer situação. A razão pela qual isto acontece é que ao longo do percurso há a necessidade de efectuar escolhas, o trajecto não é linear, e depende destas escolhas a qualidade e conformação final do projecto. Se tal acontece é porque enquanto actividade humana a arquitectura explica a complexidade que nos é inerente: nem sempre sabemos o que queremos, porque gostamos mais disto ou daquilo ou quais são as escolhas mais adequadas. A arquitectura não é uma arte, existe em função de problemas humanos, colocados por humanos e aos quais se tenta responder com um humano, é dotada de um significado e de uma pragmaticidade.
Quando se toca no assunto dos regulamentos, que existem para serem cumpridos, e que o cumprimento dos mesmos não depende únicamente do arquitecto está-se a empolar a questão. Normas, leis, e regulamentos aplicados à construção/edificação em ultima análise não são mais do que simples questões de bom senso, limitam-se a regular aquilo que é entendido como o mínimo dos mínimos tolerável para a utilização humana. O problema de se considerar que determinado papel pode não ser desempenhado por um arquitecto, bastanto um simples técnico, assenta pura e simplesmente num factor de educação cultural. Claro que cada um tem o direito a ter uma opinião formada acerca de determinado assunto, bem como o seu próprio "gosto". O que não faz sentido é pensar que este gosto não pode ser
educado. Esta coisa do gostar, que é mais uma relação de empatia, está normalmente dependente da nossa capacidade de compreender o que se nos rodeia.
Tal como a arquitectura não é uma coisa autista também o processo não pode ser "não sentido". Quando abordada por um ângulo diferente a questão da perigosidade da prática de arquitectura pode ganhar uma maior importância. É apenas uma questão de escala de tempo. Um médico comete um erro e o paciente morre. O arquitecto trabalha debilmente e o cliente vive miseravelmente durante 30 ou 40 anos. Pois mas pode remediar-se não é? O problema é o acumular de falhas. Não são pontos específicos, são debilidades, pequenas ou grandes. O problema é quando se sobrepõem todas. A arquitectura nunca pode ser considerada autista ou privada porque não existe apenas para o cliente, entra-nos pelo domínio público.
É fácil perceber que cada um tem o direito à escolha de viver miseravelmente se assim o desejar. No entanto existem regulamentos contra isto. Porquê? Porque esta coisa de se ser livre nas escolhas só é válido até ao ponto onde a nossa liberdade não interfere com a liberdade dos outros.
Inocente? Talvez.
AD
publicada por Lourenço Cordeiro #
19:25