Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Na peça «Sete Minutos» acontece a dada altura um fenómeno curioso. Uma personagem diz que está ali, no teatro, para ver o
show. O público solta uma gargalhada fermentada pelo ambiente. Mas ri de quê? Um velho, caso típico de comédia de carácter, apelida uma peça de teatro de
show. Onde está o humor?
Talvez o motivo do nosso riso tenha a ver com a palavra inglesada
show, que quando pronunciada com o sabor do calor brasileiro torna-se imediatamente uma caricatura. Mas há mais do que isso. Sabemos que o teatro não é nenhum
show. Não é? Então o que é? Porque não é um
show?
Isto está caro para todos. Até a tanga temos de comprar em saldos. Só há uma coisa que estamos dispostos em gastar: entretenimento. Para nos divertirmos largamos a nota preta, sem medos. Para esquecer. O público médio, ao qual eu não tenho a pretensão de querer fugir, exige da sua peça de teatro uma elevada componente de entretenimento, uma alta capacidade para o divertir, uma dose valente de
show. É-lhe difícil conceber uma peça que tente ultrapassar essa bidimensionalidade. Ainda por cima porque é paga. O teatro hoje em dia transformou-se num
show, que como qualquer outro vive dos palhaços e dos truques, do homem elástico e da mulher peluda, do rapaz que decorou a lista telefónica, do homem que engole fogo e cospe espadas, de ilusões.
A nossa vida tornou-se numa constante luta contra ela própria. Só vivemos para esquecer, para desanuviar, para nos iludirmos, para nos esquecermos que existimos.
Então porque rimos todos quando o pobre velho diz que veio para ver o
show? Afinal, não viemos todos?
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
16:03