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sexta-feira, dezembro 05, 2003

 

um parêntesis para falar sobre política

Não escrevo neste blogue sobre política. Há muitos outros que o fazem de um modo muito melhor do que eu. Mas hoje apetece-me dizer algo.
O deputado do BE João Teixeira Lopes apelidou o CDS/PP de estrema-direita, a propósito da discussão sobre o aborto. Isto é uma declaração de puro terrorismo político. Não admito esta campanha de desinformação hodionda.
Desde o 25 de Abril que Portugal é o único país da Europa que não tem partidos de direita pura e dura, pelo menos com expressão, não me esqueço deles. Porém a extrema esquerda perdura, imaculada e legal. Portugal é hoje um país desiquilibrado. Profundamente comprenssivo e perdulário com a Esquerda (veja-se o caso das FP-25), e dogmaticamente sanguinário e implacável com a Direita. Esta quando chegou ao poder fê-lo sempre através de um distanciamento ideológico de campanha. Cavaco não se dizia de Direita, Durão é um ex- MRPP. A palavra pesa, traz consigo uma desadequada colagem ao Salazarismo, ao totalitarismo. Daí não espanta toda esta conversa da «Nova Direita». Há a necessidade de enterrar de uma vez por todas os fantasmas da «Velha Direita», seja ela qual for.
O PSD é hoje o partido com mais condições para governar o País. É a verdade simples. O CDS é um pequeno partido de direita, algo folclórico e centrado em Paulo Portas. O PS é uma confusão ideológica. Ainda acredita em ideologias, só não sabe bem quais. O PCP morreu e ainda ninguém os avisou (resta-nos um Carvalho da Silva de megafone na mão). O BE é um projecto narcisista dos seus líderes. Um grupo de intelectuais, ideologicamente muito coloridos, que decidiu reunir-se para se fazer ouvir.
Num primeiro momento, e para não ferir o seu orgulho académido, diziam-se um partido de contra-poder. Afastavam qualquer hipótese de ser governo. O que lhes deu muita margem de manobra, disparando barbaridades atrás de barbaridades. Ainda me lembro quando se dizia que ninguém lhes ligava. Alguma direita até lhes achava graça.
Só que agora perceberam que vão ser governo. Há uma janela que se abre com a inevitável coligação com o cansado PS. Tu dás-me os votos, eu dou-te a oratória eleitoral. Por isso o discurso mudou. Afinal Louçã não é o contra-poder. Quer o poder, a qualquer custo. Não há um único projecto para o País daqueles senhores. O BE é sinónimo de direitos dos homossexuais, salas de chuto e descriminalização do aborto. Muito pouco para quem quer ser governo.
Por isso o terrorismo informativo começou. Conhecendo bem os complexos do povo, lançam-se as primeiras farpas: o CDS é extrema-direita. Começou o jogo do empurrão ideológico. As eleições ganham-se ao centro. O PS de Ferro encostou-se à esquerda, o que permitiu ao PSD conquistar simultaneamente o centro e o poder. Grande erro. Agora há que remediar a asneira. Toca de colocar o PSD lá na Direita, para o PS sentar o cuzinho no centro. Mas para isso temos de arrumar o CDS lá na ponta. Não fica bem ao maior partido da oposição preocupar-se com 8% dos votos. Por isso os amigos do BE encarregam-se disso, exigindo um ministério ou dois.
Isto tudo só é possível, ironicamente, devido à morte lenta do PCP, a quem já ninguém liga.
Não tenho hoje em dia muitas afinidades com o CDS/PP. Já as tive, no tempo do excelente parlamentar que era Paulo Portas. Não sou militante de nenhuma casa. Irrita-me a demagogia do pequeno partido. Mas não posso deixar passar em claro estas declarações estúpidas. João Teixeira Lopes fez figura de urso.
Desculpem-me o desabafo político. Voltemos a coisas mais interessantes.
O Teatro por exemplo. LAC
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