Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Podemos (certamente) dizer que nos interessa o território, o esquema, o diagrama, o óbvio. A actual vanguarda holandesa dá-nos rectaguarda nesse campo. Na publicação da Porto 2001
Post.Roterdam, Pedro Gadanho escreve:
«Relacionando-se as opções de projecto com dados mensuráveis que se traduzem em verdades estatísticas ou regulamentações comunmente aceites, delineou-se um instrumento crucial de comunicação do projecto(...)»
Parece não haver lugar a contraponto, a contraditório. Acaba a discussão, os
SuperDutch têm razão, as
verdades estatísticas são indesmentíveis. E como são dados
mensuráveis são desprovidos de beleza. Diz Rem Koolhaas, umas páginas à frente:
«Mas penso que talvez a nossa mais profunda dificuldade na relação com a estética é que hoje em dia a estética está muito próxima da beleza, e a beleza está muito próxima do luxo.»
A arquitectura nega a beleza. A beleza não é objectivizável.
Mas para mim não acaba aí. O fascínio das possibilidades infindáveis da análise computadorizada leva a uma obsessão pelo
projecto.verdade. É um admirável mundo novo que nos hipnotiza mas não chega.
No meio das estatísticas ainda há lugar para o humanismo?
Ana Vaz Milheiro chamou a Manuel Vicente o último dos humanistas. Não quero acreditar que seja verdade. Vivo na utopia que hoje ainda é possível essa arquitectura do deslumbre e da paixão, uma paixão falsamente ingénua que maravilha, desenhando lugares, sombras e materialidades que nos aprisionam na sua essência.
A arquitectura ainda é um meio de nos redimirmos do mundo.
Para mim ainda é uma questão de forma. Seja ela qual for, mais discreta ou exuberante, melhor ou pior, mas torta ou mais direita, mas a forma ainda é tudo! Quero continuar a perder a fala numa luz surpreendente.
Um espaço que sirva para uma coisa, serve para tudo (as reapropriações dos conventos, dos claustros, das igrejas). O contrário não existe.
Não aceito o óbvio.
Por muito indiscutíveis que sejam as análises (e são-no quanto maior for a escala), o espaço é sempre resultado de uma opção. Uma escolha motivada e enquadrada por uma conjuntura cultural do autor, que decide que a luz vem da esquerda e não da direita.
Os argumentos irrefutáveis devem ser utilizados na comunicação (e aqui dou razão a Gadanho) do projecto. Ao cliente, ao repórter, à revista, ao investidor. Mas o importante, aquilo que fica, aquilo que redime, não se explica num índice, num esquema, numa planta colorida, numa abstração.
Reside naquela incerteza inquietante quase mágica que só arte suporta.
Sem querer estamos a ficar quadrados como este ecrã.
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
13:15