Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
José Romano assina hoje um
esclarecido artigo sobre a polémica das torres:
«(...) Os promotores imobiliários destes projectos sabem de antemão que os terrenos de que são titulares não encontram nos instrumentos de planeamento em vigor, nomeadamente o PDM, legitimação automática para a altura de construção que propõem. Sendo assim porque é que se dão ao trabalho de encomendar os projectos e propor cérceas que sabem à partida estarem inibidas? Porque em Lisboa como em Nova Iorque ou Xangai, os promotores querem construir a solução que lhes assegure maior visibilidade e consequentemente maior retorno. É natural e legítimo que assim seja, mas às autoridades de gestão urbana, nomeadamente à Câmara de Lisboa, compete a salvaguarda de um conjunto de valores e políticas urbanas que garantam a qualidade de vida de toda a cidade.
(...)
Qualquer outra solução, que legitime a construção de edifícios altos, de forma arbitrária e à margem do PDM, labora em três erros grosseiros: Lança no mercado a ideia perniciosa de que as regras não são para cumprir; a arbitrariedade que dai resultaria induz a práticas de tráfico de influências quando não de corrupção e os lugares em causa, nomeadamente a sua envolvente mais próxima, ficam prejudicados pela falta de infra-estruturas.
(...)
Ao longo da investigação que fiz sobre o tema dos edifícios em altura, identifiquei um conjunto de variáveis que se verificam na maioria dos territórios onde se constroem edifícios altos: explosão demográfica, altíssimo valor do solo, limites naturais ao crescimento na horizontal da cidade - como montanhas ou rios - experiência construtiva e mão-de-obra qualificada, baixo custo do aço e risco sísmico pouco significativo. Em Lisboa não se verifica nenhuma destas condições. A população está a decrescer, o valor do terreno não é, apesar de tudo, proibitivo, a cidade ainda não tem uma pegada muito grande, o aço é substancialmente mais caro do que o betão, a nossa mão-de-obra é genéricamente pouco qualificada e o risco sísmico é muito alto.
(...)
Dito isto podemos perguntar se não haverá, ainda assim, lugar à construção de edifícios altos em Lisboa? Na minha opinião há. Desde que salvaguardada a natureza dos lugares. Os edifícios altos têm, entre outros, o papel muito importante de assinalar pontos de interesse na cidade. São marcos ou ícones que assinalam praças, entradas na cidade, eixos viários, grandes avenidas ou outros pontos de interesse. São, nos casos dos edifícios mais modernos e nomeadamente de Foster, mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, permitindo altos níveis de conforto com baixos níveis de consumo de energia e emissão de poluentes. São além de tudo isso magníficos pontos de observação da cidade, permitindo normalmente a construção de miradouros muito populares entre os locais e os turistas. São, por fim, demonstrações claras de capacidade tecnológica e de modernidade.
(...)
O estigma apriorístico da altura é uma atitude retrógrada, conservadora e sem lugar no mundo contemporâneo. Como dizia Pancho Guedes, "Eu reclamo para os arquitectos os direitos e liberdades que os poetas e pintores gozam há tanto tempo". » LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
16:47