O PROJECTO

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sexta-feira, março 12, 2004

 

Cidades alvo

O ataque de ontem em Madrid representa a cobardia humana na sua mais sanguinária expressão. Utiliza a morte de inocentes para lançar uma onda de terror e pânico que vai para além das duas centenas de vítimas mortais. A natureza do ataque e o local são uma afirmação de rotura total de grupos fanáticos perturbados e desorientados.

O sistema de transportes públicos é a materialização da(s) sociedade(s) democrática(s), o veículo de comunicação de pessoas, sendo as grandes estações locais de identificação moderna, palco de uma cultura de trocas, de relações, de partilhas. O edifício ícone de Atocha (arq. Rafael Moneo) é neste campo bastante afirmativo: uma planta circular, um vazio cilíndrico inundado de uma luz que é filtrada através de uma repetição de um elemento vertical simples que pontua todo o perímetro da fronteira interior / exterior. É ao mesmo tempo anónimo e símbolo. Um daqueles pilares isolado nada é; juntos formam um espaço público. Com uma geometria simples, que não reclama para si qualquer protagonismo além daquele que é conferido por essa simplicidade.

Quer este edifício quer a própria noção de interface de transportes carregam hoje um significado quase religioso. No passado as grandes multidões tinham nas catedrais o seu ponto de encontro. De novo o mesmo mecanismo de representação: um grande vazio, alto, com uma planta de simples reconhecimento, que se caracteriza por uma filtragem da luz cuidada. Hoje as novas catedrais são os interfaces de transportes. Numa sociedade global assim deve ser. Os locais de troca e comunhão são locais simbólicos, verdadeiramente públicos.

A liberdade como valor tem na comunicação o seu pilar fundamental. Num tempo de comunicações virtuais as comunicações efectivas não deixam de ser o que sempre foram. O transporte de pessoas, a sua liberdade de deslocação, o marco físico dessa comunicação que são as linhas férreas, administradas como bem público (mesmo quando sob alçada de privados), representam tudo aquilo de que o Ocidente se orgulha. Fazer rebentar várias bombas à hora de ponta em várias carruagens é uma afirmação de uma total negação pelos valores democráticos. Pela civilização. Pela vida em comunidade. Mais do que matar duzentas pessoas, quer matar o modo de vida que representam.

O alvo são as cidades. Cidades físicas e cidades como mote da cidadania. Os centros urbanos são a vitória da vida organizada em comunidade. São a expressão do imperativo destino humano que é a partilha na diferença, a aceitação na diversidade. A frieza com que os alvos são criteriosamente escolhidos contrasta com o fanatismo doente e perturbado desta gente.

Hoje de manhã chegam notícias de Madrid que relatam um funcionamento do transporte ferroviário, na medida do possível, normalizado. As pessoas fazem-no com medo. Mas fazem-no movidas por um sentimento de expressão colectiva, uma vontade de dar o sinal aos cobardes que não vencerão. Mais uma vez a união faz a força. Por muito cegos que estejam os terroristas, não serão capazes de ignorar os sinais que lhes chegam. Ligam os televisores e surpreendem-se. Em vez do medo, semearam solidariedade. Em vésperas de eleições, conseguiram que os adversários se unissem. Por um valor mais alto.

Contra eles. LAC

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