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O que será de nós agora? O arquitecto ainda é visto como alguém que possui um estirador. Sobre ele se debruça, de mangas arregaçadas, à procura de linhas paralelas, prependiculares, de intersecções. O braço é a medida do alcance. O ombro o centro da circunferência. É um processo extremamente físico, exigente. Ficamos com as costas doridas, com os dedos marcados. O gesto a traço gordo tudo motiva. Ofício de artesão. O som da grafite marca o ritmo.
É claro que pertenço a uma geração onde isto não passa de uma memória quase museológica. O som agora é outro. De percursão. O gesto fica reduzido à área do mousepad. Tudo tem de caber em 17 polegadas (ou 19, ou 21). Também o maquetismo, que ainda resiste e dá tanto prazer, ameaça ser mecanizado, com máquinas de “prototipagem rápida”. Onde nos levará isto? Se no tempo do racionalismo funcionalista do período heróico se reclamava um ser humano de linhas rectas, hoje reclama-se um ser humano sem corpo. Eu, que gosto de corpos (uns mais do que outros), fico apreensivo. E tudo no século XX parece tão rápido. E tão distante.
Estou a marimbar-me para as consequências sociais. Esta é uma perspectiva egoísta. Não sei se aguentarei uma vida ao monitor. Procuro uma solução para este drama. E olho para a “régua e esquadro”. Mas não vejo aí nada de redentor. Sei o que isso produz. Um grande desenho feito à mão é uma conquista fantástica, um motivo de orgulho. Faz parte da realização pessoal e humana. Uma crença nas nossas possibilidades. O que sai da plotter é instantâneo. Um copy/paste ou um delete, com muitos plots pelo caminho, é uma mentira. Ao menos no antigamente conquistávamos qualquer coisa. Hoje tudo está distorcido. Provavelmente para melhor, eu é que ainda não percebi.
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
15:50