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O
Daniel atira-se com unhas e dentes ao João Pereira Coutinho. Devo dizer que não acho JPC
«um idiota». O seu estilo de escrita (porque ele o tem, coisa rara em Portugal) é conhecido. Eu gosto. E o texto que o Daniel cita tem mais do que se lhe diga.
Não alinho nesse ponto de vista que define a arte contemporânea como menor. Quem me conhece sabe bem disso. Costumo inclusive levantar o tema do Impressionismo quando entro nesse tipo de discussões, tentando provar que quem considera que a arte morreu depois de Monet só pode ser pobre de espírito. Mas, e como em tudo, a vanguarda e a contemporeneidade não são valores em si mesmos. Por isso, não posso concordar com o que o Daniel diz:
«Talvez este conservador imberbe tenha de voltar aos livros de onde saíu para compreender que se em 1900 todas as obras de Monet tivessem pegado fogo muitas vozes como a dele se teriam feito sentir, menosprezando e regozijando-se com a sua destruição.» Está bem. Pode ser verdade. Mas não prova absolutamente nada. Continuemos.
Não escondo uma inquetação. Não sei, nem posso saber, até que ponto vai a arte do século XX sobreviver. Sobreviver a essa
«segunda vez», a que JPC alude. O problema está no modo de fruição da própria arte. Qualquer objecto artístico não pode ser plenamente compreendido sem um background cultural. Qualquer. Seja a Gioconda ou o urinol de Duchamp. Mas esta perspectiva implica uma consideração cultural da arte. Uma abordagem racional, estruturada, interessada. Contudo, sabemos bem que a arte se oferece a qualquer um. E que é tão legítimo uma paixão ingénua por uma imagem, uma obsessão pessoal que se reveste de significado, como a análise fria do conhecedor. Em que ficamos? Se um analfabeto chora perante os Nenúfares de Monet, o que dizer?
Muita da arte contemporânea sobrevive e valoriza-se pela actulidade. Pelo que significa neste momento. Pela retórica que lhe está subjacente. Os Nenúfares de Monet superaram essa condição. Será a arte contemporânea capaz de ganhar o seu espaço equivalente na história? E JPC afirma:
«Talvez seja. Mas, com a devida vénia, não sei o que será pior: que uma obra de arte desapareça pela força das chamas ou que desapareça em nós depois de um primeiro olhar.» Talvez tenha razão. O que não é confortável admitir, nem desejável. Mas não excluo a hipótese que o rapaz tenha razão. Será um dia triste, se isso acontecer. Mas a verdade é que eu não quero o Urinol de Duchamp para nada.
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
12:41