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A arquitectura de facto morre. Ou renasce. Mas será certamente uma experiência diferente. A fotografia é como um adolescente irrequieto. Não é capaz de fazer aquilo que lhe pedem. É demasiado cheia de si. Pedem-lhe para capturar um edifício, para explicar uma obra. Ela, sorrateiramente, finge que é isso mesmo que faz. «Olha», parece dizer, «aqui está o edifício que me pediste». Mas o processo foi subversivo. Pegando na encomenda trasnforma-a para a sua glória. A fotografia tem de ser, antes de mais, uma obra de arte. Não cede a outra forma de arte, se a arquitectura pode ser assim chamada. No duelo entre rivais, a fotografia leva sempre a melhor. É isso que ela pensa, orgulhosa.
Mas não sabe que a arquitectura, mais velha e experiente, já cá anda há muito tempo. A arquitectura parece reduzir-se no positivo, na reprodução. A fotografia parece ganhar o pódio. Não é isso que se passa. A arquitectura manipula o fotógrafo. Este, ao descobrir um ângulo surpreendente com uma luz mágica, exclama em exaltação «eureka!». Como um rato que descobre o queijo na ratoeira. Como uma aranha, a arquitectura teceu a sua teia. A presa é fácil. O objectivo é atingido.
Os anos passam e tornam-se amigos. São hoje cúmplice no mesmo crime. Assumem isso, sem rodeios, como dois velhos que desistem de implicar um com o outro. Para fora vão dando sinais de algum desconforto mútuo. «A arquitectura subjuga-se à imagem», ouvem-se os velhos do restelo, bramindo contra a perda de autenticidade. «Não pode ser, a arquitectura corre risco de vida». No fundo já ninguém se escandaliza. Os níveis de exigência baixaram, baixam continuamente. A pobreza mascara-se e a fotografia redime-a. A arquitectura tornou-se preguiçosa. A fotografia reparte as culpas no cartório. Toda a gente assobia para o lado. «There is nothing to see, there is nothing to see.»
publicada por Lourenço Cordeiro #
16:10