Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Caro
João,
A referência ao Manuel Vicente era inevitável. Não a fiz para não ser repetitivo. É dele a atitude anti-propaganda, o elogio do genuíno, desse mundo nada liso, nada branco, nada limpinho. A sua arquitectura é forte por isso. Falo por experiência própria: a primeira reacção que tive às piscinas, através de uma fotografia do Expresso, foi de repulsa. As da Outurela, que bem conheces. Vi a pequena foto do edifício torcido côr de salmão e não me atraiu. Depois li «Manuel Vicente» e li o texto do Graça Dias. Voltei a olhar para a fotografia e já o fiz com outros olhos. É a grande vitória da arquitectura, quando o segundo olhar surpreende. Essa arquitectura de revista, das «projecções 3D», esgota-se no primeiro olhar. Escusado será dizer que quando visitei o edifício o fascínio foi completo. Mas adiante que o assunto não é este. Admiro essa tua atitude e reconheço que não conseguirei igualá-la. Escolho o caminho mais fácil. Sei que as imagens devem ser limpinhas. Tento que isso não atrapalhe nem condicione. Dizes que as maquetes são «(a)bstractas para quem não conhece nem o projecto nem o processo». Mas João, quem para além de ti conhece o projecto e o processo? Quem o conhece verdadeiramente? Temo que a nossa envolvência num projecto nunca seja partilhada. E então,
at the end of the day, o que se comunica é sempre parcialmente mentira. Essas maquetes rejeitam essa mentira e dizem, de pulmões abertos, o que são. Quem gosta, gosta, quem não gosta, não gosta. E acabou. Nesse sentido são hARDcORE. Oh, se são.
P.S.: É claro que já tinha percebido que o blogue serve para impressionar as miúdas. Julgas que ando a dormir? Também tenho um blogue, sei bem o que a casa gasta.
publicada por Lourenço Cordeiro #
17:56