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Le Corbusier apelidou em tempos, durante um ataque de loucura ainda hoje por explicar, a casa como uma «máquina de habitar». É claro que a contradição dos génios faz perdoar todos os devaneios, pois quando definiu o Purismo a máquina já não se habitava: a máquina emocionava. Aqui penso que esteve mais perto da questão que interessa. Se pensarmos bem não há outro objectivo que o arquitecto persiga. Tudo com jogos de cintura para fazer acreditar que é a satisfação do cliente a meta a atingir. Nada disso, como sabemos. Todas as paredes traçadas; todos os vãos abertos; todos os ângulos previstos só têm como finalidade a emoção primitiva do futuro utilizador. Aliás, chamar utilizador ao habitante é um bom espelho do estado da arquitectura actual. O utilizador, como em user, e então Corbusier poderá ter tido razão antes de tempo. Voltando ao cerne de toda a problemática: um edifício que não emocione não serve. Não me serve, mas perdoem esta minha obsessão de observar o mundo através dos meus olhos. Em vez de «utilizador» deveríamos usar a palavra «espectador». Politicamente incorrecto, levantaram-se já as vozes da razão. A arquitectura não se vê, vive-se. O truque consiste em tornar a «vida» num fenómeno inteiramente estético. Como? Transformando algo tão bruto e agressivo como a construção em momentos de verdadeira revelação, quando a respiração nos atraiçoa e o batimento cardíaco perde o passo.
publicada por Lourenço Cordeiro #
23:37