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As
maquetes do João dão um belo post, pensei. Há na sua publicação on-line uma atitude surpreendente. As imagens que nos são oferecidas são a antítese da imagem arquitectónica. As maquetes não estão acabadas, são rudes, com traços de lápis que denunciam a linha de corte no cartão. São absolutamente abstractas, adivinham-se dois pisos, mas nem por isso a escala se denuncia. Vê-se arquitectura ali? Uma procura intensa pelo genuíno, mandando à fava tudo o resto, mandando realmente tudo a fava com a exposição total das fotos. São maquetes autistas, para serem vistas apenas por quem as fez, e que, num passo desconcertante, aparecem aos olhos de todos como um work-in-progress explícito. A cola escorre por sítios indevidos. Como os pensamentos que julgamos privados, como a gavetas das meias que nunca se arruma, aquelas maquetes são um instrumento, apresentadas como objecto, mas que ninguém se iluda. São o ventre do paciente eviscerado durante a cirurgia. Ao olhá-las afasto-me da arquitectura que representam e centro-me na sua essência. Ao olhá-las oiço a lâmina a furar o cartão e sinto a cola a escorrer nos dedos, a colar-me a ponta do indicador com a barriga do polegar. O que se quer expôr é o processo. Nunca é limpo. Nunca é bonito.
publicada por Lourenço Cordeiro #
19:54