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Quando se fala no Guggenheim de Bilbau é frequente ouvir-se frases começadas por «por fora», deixando bem claro que a apreciação que se segue diz apenas respeito ao aspecto exterior do edifício. É caso único? Certamente que não. Mas com Gehry o exterior é tudo. O seu modo de projectar, priviligiando a forma, o volume, a implantação, não deixa margem para dúvidas. É honesto, não engana ninguém. «Por fora» é ele quem manda.
O museu não se impõe ostensivamente. Estando na margem (do rio, da cidade), ocupa um espaço que lhe é dado de bandeja. Um palco. Nesse sentido não interfere com a malha ortogonal, repetida, de Bilbau. Confesso que era isso que esperava, um volume imenso e torcido, aos gritos por todos os lados, criando um ruído insuportável, qual criança chamando a atenção. Não. A malha regular da cidade, daquele bocado da cidade, recebe muito bem o intruso. Aceita-o sem reservas.
O edifício é bonito. As suas formas, «por fora», funcionam. O mundo de magia que sugere, tal é o afastamento da realidade, da gravidade, das leis naturais que sempre condicionaram os edifícios, garante-lhe facilmente o adjectivo de atracção. É dinâmico (palavra que parece ser imperativa nos «dias que correm»), proporcionado, sedutor. Brilha e rebrilha para nosso espanto. Dança à nossa frente, nu, sem qualquer tipo de pudor.
As pessoas navegam à sua volta, de boca aberta, meio à deriva, meio sem sentido.
O «fenómeno Bilbau» é positivo. Lembro-me de alguém perguntar, num debate, a Carrilho da Graça (acho que era ele, não me lembro e também não faz diferença), se não havia o «perigo» que o «efeito Bilbau» se instituisse como norma, tornando o arquitecto um exibicionista, uma estrela inserida no circuito pop. Carrilho da Graça respondeu energicamente «quantos mais efeitos Bilbaos melhor», já que se a arquitectura sofre de alguma coisa é falta de atenção, e não o contrário. Na altura não concordei, estranhei, mas a convicção com que disse aquilo impressionou-me. Hoje percebo. Apesar de como museu ser uma bela merda, apesar de ser bastante arcaico e sem graça como edifício de exposições, apesar de «por dentro» não fazer sentido, «por fora» é um êxito fenomenal, um acontecimento (quase) único, que tudo perdoa, que tudo justifica, que deixa Bilbau mais segura de si.
É claramente um edifício filho da internet, da multiplicação da imagm, da «fotocópia até ao infinito». É um produto do
zeitgeist. Sem conteúdo, com muita
forma. (continua)
publicada por Lourenço Cordeiro #
12:53