Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Passada a anestesia injectada ao ar livre, a entrada no museu parece inevitável. Desce-se em direcção à porta, uma atitude bastante pós-moderna, diga-se. O primeiro contacto com o interior parece querer dizer que o espectáculo continua. O átrio sobe até lá cima, livre, com um pé-direito enorme, torcido, semi-transparente. Afinal, o interior parece estar à altura. O que não sabemos é que o átrio é o único espaço do edifício onde há uma correspondência efectiva entre interior e exterior. Ainda assim é um espaço interessante. As pessoas que passam por cima, em passadiços estreitos a diferentes cotas, animam a cena, deixando dúvidas sobre se estamos num museu ou numa sala de espectáculos.
A partir deste momento tudo começa a cair. As salas de exposição são banais divisórias (horizontais e verticais), com uma organização francamente desinteressante. Se não fosse o mapa entregue à entrada ninguém seria capaz de fazer uma visita minimamente tranquila. Mas o pior é que as formas sensuais e provocantes que são apresentadas no exterior não parecem fazer sentido nas salas de exposição, chegando mesmo a atrapalhar. Não é uma visão excessivamente funcionalista, pelo menos assim acho, mas é a constatação do método de Gehry. Um desprezo pelo utente, como parece ser indicado denominar aquele que interage com um edifício. Um desprezo pelo utente, dizia, que não é capaz de se concentrar nas obras expostas. Nem mesmo Rothko (em exposição quando lá estive) consegue introduzir algum silêncio naquela gritaria.
Os momentos mais interessantes da visita ao museu são, oh espanto, quando nos é permitido sair outra vez para umas plataformas condicionadas, qual camarote numa encenação luxuosa. Voltamos a ter uma prespectiva sobre o museu, desta vez diferente, e isso reconcilia-nos por uns breves momentos. Breves porque o calor aperta e rapidamente voltamos para o frio interior.
Finda a visita (não importa continuar a descrever) acontece algo de extraordinário: lançamo-nos numa peregrinação à volta do edifício, à procura de outros motivos de interesse que não se encontraram no interior. Aliás, esta peregrinação é intencional, existe um percurso que fumega (fumega mesmo), sobre o qual o visitante deambula, num enésimo convite à admiração das formas em titânio.
publicada por Lourenço Cordeiro #
11:49