Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Da resposta que o arquitecto Carlos Cardoso me enviou e que aqui mesmo em baixo se publicou, parece só pertinente acrescentar umas linhas àquilo a que se refere no seu ponto 3. Por isso, cá vai.
Há uma diferença clara entre as opiniões que se exprimem publicamente e as opiniões que se partilham com amigos, ou mesmo opiniões que apenas se pensam. A diferença entre um crítico e um comum mortal reside nessa nuance: o crítico não pode deixar-se levar pela emoção, a não ser que consiga usar isso para enriquecer a crítica. Como isso é difícil e só está ao alcance de alguns, o melhor é esquecer. Dito isto, resta saber em que plano se coloca um blogue, este ou outro. Não há resposta prévia. No meu caso o blogue é claramente uma coisa pessoal. Raramente revejo o que escrevo antes de publicar, tornando os textos mais
abruptos, mesmo aqueles que apresentam uma maior complexidade. Tudo o que aqui é escrito é
opinião, não é
crítica. Nos blogues são permitidas certas liberdades que noutros meios são vetadas. Está certo, é consensual. Por ser tão livre, é importante que os textos sejam claros no seu tom: dizer
coisas sérias em
tom sério, dizer
coisas menos sérias num
tom menos sério. O que me leva ao post em questão.
Começo pela título. A frase é claramente uma alusão ao meio de expressão oral. Pela bujarda, «foda-se», pelo pronome, «isto», e pela adjectivação, «mau». Quis com o título predispor o leitor para o conteúdo do texto: impressivo, descontrolado, sem coerência.
Não conheço ninguém, e em especial arquitectos, que não utilizem este tipo de linguagem e atitude perante a arquitectura. A diferença é que o guardam para si, e bem. Se chamados a comentar a mesma obra publicamente, então utilizam outra abordagem, outra linguagem, outros argumentos. Ainda que para dizer o mesmo, ou seja,
isto é mesmo mau. Repare-se que não se avalia a
funcionalidade, a
qualidade de construção, o
rigor do desenho. Apenas se avalia uma
estética, uma
atitude, uma
coisa que nos aparece à frente. Não discordo nem pretendo que se passe a dizer publicamente tudo e mais alguma coisa. Continuemos.
Acho graça às obras do arquitecto Troufa Real. Acho graça e não gosto mesmo nada. Se é um arquitecto que tem «muito para me ensinar», disso não duvido. Mas duvido sim que, mesmo depois dos ensinamentos, a minha visão sobre o que é ou pode ser a arquitectura vá tornar-se semelhante à sua.
Mas o que digo eu no texto que incomodou tanto o arquitecto Cardoso? Peço desculpa aos leitores (que a este passo se reduzem a dois adolescentes atraídos pela expressão
foda-se, e dois ou três amigos que fazem o favor de ler qualquer merda que eu escreva), e passo a analisar tão ofensiva prosa, escolhendo os trechos que me parecem serem mais «ofensivos».
«(...)eu sei que ele é maçon(...)»
Não sei se é ou não, dado o secretismo da organização. Assumi que sim, disseram-me, e invoquei esse facto devido ao enorme misticismo e simbolismo que a Maçonaria gera, sendo por isso relevante na análise da obra de um dos seus membros (conheço outros arquitectos maçons que envolvem a sua obra nesse tipo de ambiente e discurso, se bem que seja uma arquitectura bastante distinta.)
«(...)pois, mas qual arquitectura?...(...)»
Como já disse, a minha visão da arquitectura (vale o que vale) pouco tem a ver com a obra de Troufa Real. A imagem que vi (publicada na primeira página do Expresso) causa-me estranheza. Qual arquitectura?
«por certo há aqui parâmetros de qualidade que não saltam imediatamente à vista... isto é, tem de haver não é? não é?...»
Não é ironia, nem humor. É uma inquietação verdadeira, escrita num tom (lá está o tom outra vez, arquitecto Cardoso) que evidencia alguém que vagueia no seu pensamento. O que levou isto a ser publicado na primeira página do Expresso?, penso.
«(...)é do Troufa Real, eu sei, não se deve esperar muito, sim(...)
Para quem, como eu, conhece e não gosta do estilo Troufa Real, não se pode esperar muito. A mesma atitude se pode observar em quem não gosta do Siza: é sempre tudo igual,
branco e liso,
não se pode esperar muito.
«(...)se isto é uma merda? é um modo de pôr a questão, mas não sei se será o mais indicado...(...)»
Quantas vezes não disse, caro arquitecto Cardoso, «acho isto uma merda», comentando alguma obra de um colega arquitecto? Nenhuma? Temos santo.
«(...) o Troufa é pateta? não, nem pensar... mas é um modo de abordar a coisa, sim... é cómico? humor? talvez haja espaço para uma arquitectura de humor... ou talvez não... o meu mal deve ser sono... coitado, deve ter tido boa vontade... só tenho pena dos fiéis do restelo...»
Devido à estupefacção que causa a imagem, pergunto-me: mas isto é feito por um pateta? Não, a inquietação cresce, não foi nenhum pateta, foi Troufa Real. Ele é cómico? Talvez a sua obra seja uma ironia bem-humorada sobre o ambiente que o rodeia, não sei. Concluo, no mesmo tom que comecei, intimista e sem sentido, o
meu mal deve ser sono.
Respondo, agora, às questões levantadas pelo meu interlocutor:
Tem a noção do teor do comentário que escreveu?
R: Tenho, acabei de explicar.
O que o move contra o arquitecto Troufa Real?
R: Nada.
Seria capaz de dizer isto em público?
R:Mas, não o disse?
E cara a cara com o próprio?
R: Por motivos de humildade e boa educação, não.
Sabe o que este post evidencia?
R: Não.
Pois bem, agradeço à pessoa que chegou até aqui e peço desculpa. O blogue segue dentro de momentos. Assunto encerrado.
publicada por Lourenço Cordeiro #
23:47