Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Dar um projecto por concluído é coisa digna de um residente do Júlio de Matos, tal é a insanidade do gesto. Ele nunca o conseguia. Chegado sempre o momento quando todos os objectivos tinham sido atingidos, recuava, olhava de longe o feito e pensava «pode ser melhor». Podia. Não se trata de perfeccionismo, essa característica que qualquer figura pública invoca quando perguntada sobre o «pior defeito» num inquérito de verão. O perfeccionismo trata de fazer o mesmo da melhor forma. Ele não queria fazer o mesmo, queria sempre fazer diferente. A sua ideia parecia uma criança sempre a correr à sua frente, ofegante, mas sem a mínima tenção de parar. Olhava para as enormes folhas acabadas de imprimir: ainda não estavam totalmente desenroladas e já a sua caneta derramava tinta sobre o papel, corrigindo, adicionando, riscando. Quando se deitava no fim do dia perguntavam-lhe: «já acabaste?», ao que sempre respondia «ainda agora comecei», e voltava-se de lado na certeza que mais uma vez não dormiria.
publicada por Lourenço Cordeiro #
13:49