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Ouvi Helena Roseta há pouco, na RTPN, falar sobre o Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal. Dizia que é importante que as pessoas «aprendam» a apreciar a arquitectura. O argumento é simples: quem não tem um mínimo de formação não pode apreciar a arquitectura de qualidade e, bastante mais relevante, distinguir essa arquitectura daquela «medíocre». Totalmente de acordo.
Mas muitas dúvidas que se põem.
É muito difícil que o povo se eduque de um dia para o outro. Adquirir essa formação mínima que torne possível a identificação da arquitectura de qualidade é algo que apenas estará disponível a muito poucos. Muito poucos mesmo. Por isso, será relevante apostar nesta formação pública? Ou será demasiado idealista?
O público leigo chega lá por outras vias. A arquitectura é um serviço que é prestado a alguém que compra esse serviço. Arquitectura de qualidade significa portanto um serviço de qualidade. Se quem paga não fica satisfeito com o resultado nenhuma crítica positiva da classe salvará a obra.
O primeiro passo é por isso este. Ganhar a confiança do público sobre a utilidade e as vantagens em contratar um arquitecto. Convencer, através de obras concretas, que a arquitectura é um meio para melhorar a vida das pessoas.
Não se trata de reduzir a arquitectura a uma questão imediata de causa-efeito. Não nos podemos esquecer da realidade portuguesa. Internacionalmente a crítica não poupa elogios à arquitectura lusa, mas dentro do país poucos são aqueles que estão conscientes disso, e ainda menos são os que valorizam esse facto. Há uma enorme discrepância entre o que é a arquitectura dos arquitectos e a arquitectura do público.
Só depois de afirmada esta posição é que se pode ambicionar à tal situação onde o transeunte passará a distinguir a arquitectura boa e a arquitectura medíocre. Isso só acontecerá quando ele próprio exigir em sua casa a presença da arquitectura de qualidade. E, convenhamos, isso significa despesa. A arquitectura paga-se. O pato-bravo é mais barato: é mais rápido, mais simples, mais tosco. É um grande passo assumir a predisposição para essa despesa com a arquitectura. Isso só é possível se em vez de «despesa» falar-se em «investimento». O que ganho eu em contratar um arquitecto? Esta questão tem de estar bem clara.
Querer passar do actual estado para uma mobilização nacional em torno da cultura arquitectónica apenas com um inquérito parece-me demasiado voluntarioso.
publicada por Lourenço Cordeiro #
19:28