Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
Permito-me discordar de
Vital Moreira. Ora vamos lá:
«(...)num regime de separação constitucional entre o Estado e as igrejas, como o nosso, o Estado só pode adoptar uma posição de neutralidade e indiferença em matéria religiosa.»
Não concordo com a «indiferença». Ser indiferente significa ignorar. Mesmo num Estado laico, não é razoável ignorar a presença das confissões religiosas, e especialmente num país onde a sua história se confunde com a história religiosa. Para o bem e para o mal (acredito que bastante mais para o bem), não faz sentido nenhum adoptar uma posição de indiferença. Neutralidade, talvez, mas indiferença nunca.
«A religião não faz parte da sua agenda. É evidente que não pode hostilizar as igrejas, nem muito menos os crentes.»
Outra confusão. Religião e Igreja. Sem dúvida que a religião não faz parte da agenda do Estado, contudo a Igreja não pode ser tratada como uma simples organização cívica. A Igreja, relembremos, tem uma acção preponderante em campos ligados directamente ao serviço público: a educação, a saúde, a acção social. Nenhum governo em Portugal pode prescindir desta experiência.
«Mas a liberdade religiosa não consiste somente em ter e praticar uma religião, mas também em não ter nem praticar nenhuma. E esta vertente "negativa" da liberdade religiosa também merece a mesma protecção do Estado. Para ele deve ser tão meritória, ou não, a posição do crente mais fundamentalista como a atitude do anticlerical mais militante.»
Não vou comentar a «posição meritória» do «anticlerical mais militante». Mas fica uma preplexidade: porque razão o facto do Estado ter uma relação com qualquer Igreja significa uma hostilização ou desrespeito para quem não tem religião? Onde está a exclusividade? A democracia, que me lembre, ainda se trata de tratar de modo igual aquilo que é igual, e de modo diferente aquilo que é diferente. Discrimiação positiva, caro professor. E neste caso só faz sentido uma discriminação positiva em relação à Igreja Católica. Por muito que isso custe aos «anticlericais mais militantes». Porque se, de um dia para outro, a Igreja deixasse de prestar os serviços que hoje presta, o país ficava a braços com um belo imbróglio.
Quer isto dizer que a Igreja Católica se permite ter previlégios que outras confissões não têm? Teoricamente não. Contudo, há motivos históricos para isso poder acontecer. Porque a Igreja Católica, além de ser uma confissão religiosa, é uma instituição que tem apoiado, substituido, reforçado, amparado, colaborado directamente com o Estado português. No futuro (já hoje se fosse possível), e é o que desejo, todas as confissões religiosas que manifestamente têm uma influência positiva na sociedade portuguesa serão sujeitas a uma discriminação positiva. Não me peçam é para aceitar uma «neutralidade» do Estado em relação à Igreja Católica e à IURD, por exemplo. Isso não aceito.
E pronto. Perdi oficialmente a cabeça. Discuto com um prestigiado professor assuntos onde o meu conhecimento é bastante rasteirinho. Ah, democracia!
LAC
publicada por Lourenço Cordeiro #
13:23