Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
A lente deforma sempre. E quando não deforma, quando o material se apresenta "perfeito" pois não produz variações perspécticas, então deforma à mesma pois não produz um resultado natural. O olho humano deforma. A lente também. Mas de modos diferentes. A mudança de escala através da manipulação da perspectiva induz ao erro e ao preconceito. A perspectiva controlada contribui para o dramatismo de uma cena. De uma cena, pois é disso que se trata. A composição fotográfica é uma actividade cénica. Prepara com antecipação, estuda, respira calmamente. Neste campo, a fotografia de arquitectura é específica. Não há o "instante decisivo". O acaso não é para aqui chamado. A fotografia de arquitectura é extremamente encenada.
O Pavilhão de Portugal, de Siza Vieira, foi o último grande monumento construído em Portugal. O grande símbolo da viragem do milénio. A sua imagem é "moderna"? Nem por isso. Este edifício faz-nos sentir pequenos, como qualquer monumento que se preze. O salto de escala que dá reduz o homem. O enorme espaço coberto é quase impossível. E a fotografia facilmente empola o facto. Nesta imagem, através da peerspectiva e da insinuação do ponto de fuga, a exaltação do contraforte acentua o carácter de monumento. Acentua a vertente escultórica e abstracta. A sugestão metafísica do edifício é ajudada pelo céu. Raramente se publicam fotografias de arquitectura sem sol. O céu azul e a luz são condições quase obrigatórias. Neste caso isso é substituído por um céu ameaçador e carregado. Sente-se a presença do "deus da chuva", ou de uma força do alto. O edifício estica-se, impõe-se, fica de pé. Luta com os céus. E lá ao fundo os homens parecem pequenos. Pequenos demais.
publicada por Lourenço Cordeiro #
12:33