O PROJECTO

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sábado, julho 17, 2004

 

A cena

A lente deforma sempre. E quando não deforma, quando o material se apresenta "perfeito" pois não produz variações perspécticas, então deforma à mesma pois não produz um resultado natural. O olho humano deforma. A lente também. Mas de modos diferentes. A mudança de escala através da manipulação da perspectiva induz ao erro e ao preconceito. A perspectiva controlada contribui para o dramatismo de uma cena. De uma cena, pois é disso que se trata. A composição fotográfica é uma actividade cénica. Prepara com antecipação, estuda, respira calmamente.  Neste campo, a fotografia de arquitectura é específica. Não há o "instante decisivo". O acaso não é para aqui chamado. A fotografia de arquitectura é extremamente encenada.
O Pavilhão de Portugal, de Siza Vieira, foi o último grande monumento construído em Portugal. O grande símbolo da viragem do milénio. A sua imagem é "moderna"? Nem por isso. Este edifício faz-nos sentir pequenos, como qualquer monumento que se preze.  O salto de escala que dá reduz o homem. O enorme espaço coberto é quase impossível. E a fotografia facilmente empola o facto. Nesta imagem, através da peerspectiva e da insinuação do ponto de fuga, a exaltação do contraforte acentua o carácter de monumento. Acentua a vertente escultórica e abstracta. A sugestão metafísica do edifício é ajudada pelo céu. Raramente se publicam fotografias de arquitectura sem sol. O céu azul e a luz são condições quase obrigatórias. Neste caso isso é substituído por um céu ameaçador e carregado. Sente-se  a presença do "deus da chuva", ou de uma força do alto. O edifício estica-se, impõe-se, fica de pé. Luta com os céus. E lá ao fundo os homens parecem pequenos. Pequenos demais.
 





Comentários:
Acho a imagem do edifício poderosíssima. A mim, causa-se sempre impacto, e já o vi incontáveis vezes. Gostava que tivesse uma placa, aposta num pequeno suporte, que explicasse alguma coisa da construção. Que falasse das 600 toneladas de peso da pala. Dos contrafortes. De como poucos acreditavam.

O edifício devia ser a Presidência do Conselho de Ministros. O Tribunal Constitucional. Enfim, funções de Estado que estejam à altura do Pavilhão de Portugal.

Do imbróglio pós-expo, em que o Estado tinha de pagar o Pavilhão à Parque-Expo, não sei como ficámos. E agora, "aquilo" serve para quê? Quem lhe dá uso? Qualquer dia sucede de facto o absurdo que um parlamentar socialista pediu na Assembleia da República a Cavaco Silva, a respeito do Centro Cultural de Belém - "deixem-no cair, pedra por pedra, porque é demasiado caro para manter aberto a funcionar".

Poderá isto acontecer ao Pavilhão de Portugal, por mera incúria? O Pavilhão do Futuro já está a escamar, em degradação contínua e visível...
 
O Pavilhão de Portugal.
A mim parece-me mais que se deveria chamar "Pala de Portugal". De pavilhão tem muito pouco, de edifício de uma exposição tem muito pouco, pouco não será, pois tem uma "pala" que o torna na sua imagem de marca. Quase apostaria que se perguntasse às pessoas como é o edifício só falariam da "Pala"
Desculpem as pessoas que gostam do edifício e que o consideram um monumento mas para mim ali só existe uma coisa com dignidade suficiente para ser monumento a "pala", bem sei que ela não existiria se não estivesse ancorado ao resto do edifício.
Mas tirando o que chamam de "pala" o resto deixa muito a desejar, nomeadamente porque foi concebido por um arquitecto tão idolatrado.
A vida às vezes é injusta.
 
clap clap clap... ao ultimo post! o siza ao contrário do que todo o mundo pensa não é o " rei midas " da arquitectura. Um edificio torna-se brilhante quando de adapta a diversas e determinadas tipologias de uso. Não me parece que "aquilo" se adapte a coisissima nenhuma.
 
O edificio vive com duas partes separadas, mas que formam um conjunto. A pala não pode sobreviver sem o edifício nem o oposto. Do que foi construido para a EXPO, sem dúvida, o do Siza tem mais caracter, tem desenho, tem ambição. O Guggenheim de NY tb não é o mais indicado para um museu, mas ainda assim é um dos edificios mais famosos do mundo. E se o Pavilhão de Portugal não tem utilidade, é apenas por falta de vontade e cultura dos nossos queridos politicos. Porque não um museu de arquitectura para aquele espaço? Porque não um centro de formação continua para arquitectos? Porque não tanta coisa que possa fazer o comum dos mortais visita-lo, admira-lo e conhece-lo? O grande problemas dos edifícios arquitectonicamente bem concebidos em Portugal, é o facto de não poderem ser visitados.
 
O que é para vocês um edifício arquitectonicamente bem conseguido?
 
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