O PROJECTO
Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
blog_oprojecto@hotmail.com (com minúsculas)
sexta-feira, outubro 31, 2003
cegueira
Quando se retira qualquer tentativa, ainda que ingénua, de criatividade à arquitectura, ela vinga-se, fecha os olhos e a boca, recusa falar connosco, mete-se no quarto sozinha e manda-nos à merda.
LAC
quinta-feira, outubro 30, 2003
«Pecados para a esquerda, virtudes para a direita»
O
JPC voltou. Ou apareceu. Deu à luz. Para minha grande felicidade está lá um dos textos que mais me ficou na memória nos últimos tempos. Vejam em «INVEJA». Bom humor.
LAC
quarta-feira, outubro 29, 2003
Dez Mil
Ao ter atingido (hoje) as 10.000 pageviews percebo que andamos a enganar gente a mais.
LAC
FG – A Vanguarda Digital
Falo de um aspecto que ainda não foi tocado: o digital. Hoje fala-se muito da digitalização do processo, da análise, do objecto, das vivências. Na arquitectura há de tudo.
No entanto esta digitalização pode ter duas géneses distintas. Se por um lado o próprio tema digital é por si um imaginário autónomo capaz de despertar um campo próprio de reflexões, por outro pode constituir-se apenas como ferramenta. É isso que Frank Gehry faz.
E é aqui que se entende a conversa sobre o escultor. De facto a construção vive apoiada num sistema de concepção e representação bastante tradicional, cartesiano. Ainda hoje. O modo como comunicamos ainda se reflecte em projecções bidimensionais da espacialidade, a planta, o corte e o alçado. É interessante ver como uma reflexão em planta é muito distinta de uma reflexão em corte. Considero isto fundamental para se entender a arquitectura. A geometria, a matemática, o rigor, a ordem.
Alguém imagina sequer o que seria o produto de uma tentativa de construir algo de semelhante às formas de Gehry pelo processo ortodoxo? Pois.
Onde entra então esta relação da escultura com o digital?
Gehry conseguiu atingir um estado de manipulação formal livre, nunca antes experimentado. Gaudí, para dar um exemplo, concebeu apoiado numa geometria rigorosíssima, que só ao mais distraído dá a ideia de liberdade total. Gehry sabe que não há limites. Pela primeira vez o arquitecto manipula a forma como um escultor o faz: a forma pela forma. Badamerda para a tectónica! Porquê? Porque através de um sistema de levantamento digital do volume e da sua racionalização viável essa forma livre é execuível!
Acho que as contradições que a sua obra levanta prendem-se com um desfazamento entre o processo criativo e a tecnologia construtiva. Não é por acaso que Gehry não se conforma com os materiais tradicionais. Provavelmente este tipo de arquitectura só atingirá todo o seu potencial com o advento de um novo sistema construtívo, um novo material, uma nova cultura. Tal como o foi o betão armado e a estrutura pilar-viga no período moderno.
É por isto que o mundo da arquitectura tem algumas dificuldades em aceitar este fenómeno. Ele é tão estranho e custa a entranhar. Não o resultado, mas o processo. É o processo conceptual de Gehry que mais assusta. E a sua transposição para o discurso. Como falar do edifício Gehry? Como explicá-lo? Como justificá-lo?
LAC
dádivas
Este post do José Mário fala de coisas simples.
LAC
terça-feira, outubro 28, 2003
Links
A coluna de links tem crescido. Não é por acaso, eu leio mesmo tudo o que ali está. E mais.
LAC
Combatendo os concensos
Quero antes de mais dizer que fiquei muito contente com o arranque da discussão. O último post tinha esse carácter algo provocatório. O que ali disse não significa que me possa contradizer daqui para a frente. Se ficássemos todos a dizer o mesmo era mais aborrecido. As contribuições do
João e do
Pedro são muito interessantes e provavelmente melhor fundamentadas que o meu post
inaugural. Ficamos à espera da entrada em cena do
Rafael.
Com a devida licença quer do
Pedro quer do
João continuo com o tom provocatório, na certeza de não ter certezas.
Vou por ordem cronológica e debruço-me primeiro no post do
hARDbLOG.
i) Quanto aos mestres de Gehry já aqui demonstrei antes o meu apreço por Venturi, mais no que escreveu no que construiu. Sem dúvida que a questão da banalidade dos materiais e dos motivos populares é datado historicamente. Contudo não acho que a sua manipulação tenha perdido o sentido, hoje.
ii)
«O contexto em que Ghery se move é-nos absolutamente estranho.» Talvez não seja, ou seja menos hoje do que ontem. Para o bem e para o mal a arquitectura tem vindo a perder esse seu carácter
vernacular. É uma situação real que merece toda a atenção (o trabalho de Rem Koolhaas e do OMA é neste campo exemplar.)
iii)
«O pior... o pior vem depois... quando Gehry se torna "o" homem do regime.» Era deste tipo de reacção que eu falava no ponto 1. do post anterior.
iv)
«(...) Bilbau, envolto em linhas e formas que nos tocam e dizem-nos a todos do mundo em que vivemos, no seu interior, mais não é que um espaço contentor (...)» Concordo particularmente com esta afirmação. Poder-se-á falar mesmo em fraude, já que o interior é uma desilusão, uma desonestidade de quem promete tanto com a forma exterior.
E agora sigo com as provocações em direcção à
Epiderme.
i) Quanto à sugestão de discutir o Siza, calma! Vou precisar de um mês de recuperação depois desta semana. Contudo não podia concordar mais com a necessidade de se discutir fundamentalmente os valores estabelecidos. Esta discussão é disso exemplo.
ii) Com o ponto 2. concordo plenamente. Viva a ambiguidade, contradigo-me violentamente. Claro que não
vale tudo e hoje mais do que nunca urge discutir seriamente o caminho da arquitectura. Contudo reforço a ideia de vivermos num tempo em que as ideologias são fracas, os manifestos escasseiam. No fundo é apenas mais fácil avaliar a qualidade arquitectónica à luz de referências sólidas, como sempre aconteceu. De outro modo corremos o risco de entrar na pura argumentação.
iii) Quanto à popularidade Pedro, discordo frontalmente. Nem 8 nem 80. Não confundamos popularidade com populismo. Considero urgente que o mundo do arquitecto se aproxime da sociedade. Ninguém gosta de ficar a falar para as paredes, e sinceramente às vezes parece que isso acontece com a classe da arquitectura. O pintor pode mandar o público à merda. Basta tocar uma pessoa que o trabalho é válido. O arquitecto tem outra responsabilidade (nomeadamente financeira, em relação ao promotor do projecto). Acho o teu ponto 4. também cai na lógica do 8 ou 80. O
mall é eficaz, mas não tem um décimo do arrojo de Gehry. A questão está aqui: arriscar, provocar, inovar sem perder a eficácia (funcional, económica).
Por agora fico-me por aqui. Isto promete. Acabo com uma frase fantástica do
Pedro:
«Gostaria o pós-modernismo de ter falhado tão bem.» Sem dúvida, sem dúvida.
LAC
P.S.: Não vale puxar citações da cartola. Por coincidência nos dois blogues foi referido Souto Moura. Olhem que eu tenho aqui um Porttoghesi ou um Venturi pronto a usar!
segunda-feira, outubro 27, 2003
Gehry: eu também...ou talvez não
Agora que leio o post do
LAC lembro-me nítidamente de quando conheci o projecto EMP (Experience Music Project) do Gehry e da indecisão que foi na altura para chegar a alguma conclusão. Já tinha tido a felicidade de visitar Bilbau, experiência que deixou marca indelével. A verdade é que ao tomar conhecimento do EMP as coisas aconteceram de forma diferente, notei na altura um certo facilitismo na aplicação da fórmula mágica. Lembro-me do desajuste entre a liberdade criativa e a necessidade pragmática de elaboração de áreas com utilizações bastante específicas e constrangedoras. O que leva à questão, de que se por um lado há um esforço na criação de uma "linguagem nova" esta perde o pé na altura da elaboração do "miolo", do "cerne" do edifício. É que rodeados pelas "fachadas" há uma série de espaços perfeitamente banais, com uma organização ortogonal e sem grande história. Uma coisa é a evolução do pensamento puro arquitectónico, a outra é a real evolução da arquitectura enquanto dado físico. Creio que o contributo do Gehry é mais no sentido desta última, o que não é de alguma forma uma crítica negativa, bem pelo contrário.
AD
Frank Gehry (FG) - pontos prévios
No primeiro post dedicado ao tema que iremos discutir deixo uns pontos prévios de base, à laia de declaração de intenções para não haver confusões:
1. Em Portugal (não só) há uma suspeição permanente quanto ao sucesso. Quando um arquitecto consegue atingir uma unanimidade da crítica, quando é constantemente elogiado e principalmente quando tem um claro sucesso comercial, é logo lançada sobre ele uma campanha de desvalorização. O bom é sempre o marginal, não pode ser popular. Não alinho nisto.
2. Devemos olhar para Frank Gehry como um fenómeno de excepção. Não é possível analisar a sua obra seguindo os habituais espartilhos comparativos. A arquitectura é uma actividade plural acima de tudo. Já não vivemos uma época de
tipos, de modelos de referência. Frank Gehry é arquitecto, não é escultor.
3. Admiro a capacidade de gestão de grandes ateliers. Só é possível construir com tamanha complexidade se tal acontecer com base numa extraordinária capacidade de trabalho e coordenação. A ideia só é válida se for exequível. Aqui se traça a linha entre o artista e o arquitecto. Só por isto Gehry já é fenomenal (apesar de não ser o único).
4. Gehry torna a arquitectura moderna (utilizo o termo com o seu significado mais quotidiano) popular. Por norma ela não o é. O
clássico e o
tradicional neste campo batem-na aos pontos.
5. As suas obras são talvez o melhor exemplo de monumentalidade moderna, ou pós-moderna, o que quiserem. A modernidade reage mal à monumentalidade. Salvo raras excepções (ex: Kahn) a monumentalidade moderna conota-se com os regismes totalitários, e/ ou com manifestações neo-clássicas. Gehry exprime de uma forma magistral uma monumentalidade (escala, significado) do nosso tempo.
6. Os seus edifícios funcionam e são um sucesso económico. O «Efeito Gehry» é uma realidade.
7. Há de facto uma sobre-importância do exterior, da manipulação da forma. Mas isso é um caminho, uma opção. E só no Modernismo é que esta ideia foi abandonada, em prol de uma racionalização e de uma relação interior/ exterior absolutamente nova. Mas o Modernismo fracassou, sigamos em frente.
8. Numa globalização acelarada a arquitectura vive uma era de redescoberta, de auto-análise. Numa globalização acelarada Gehry já rompeu fronteiras. Ninguém se lembra que o senhor é Canadiano.
Posto isto a discussão segue dentro de momentos.
LAC
domingo, outubro 26, 2003
Agradecimentos e reconhecimentos
Ontem ouviram-se agradecimentos vários. Foram lembrados todos aqueles que tornaram possível aquela «grande obra», o «magnífico estádio». Desde a direcção do Benfica, aos seus vários membros, ao Governo, a Durão Barroso, a José Luis Arnaut, à Câmara e ao Santana, ao Sampaio e à Somague. Ninguém escapou.
Será?
Pois. O estádio pode ser uma «beleza». Mas ninguém se lembrou de mencionar quem concebeu o estádio como uma beleza. Não faz mal. Ninguém reparou. Mas eu reparei. Parabéns à
HOK Sport, esta gente não vos merece.
LAC
sábado, outubro 25, 2003
variações
Uma observação...
Apesar de já ter passado tantas vezes na Almirante Reis, reparei agora que realmente nem parece uma avenida, é mais uma rua com um grau de parentesco distante. É curioso o facto de haver uma grande quantidade de edifícios que têm umas arcadazinhas em baixo, o que quer dizer que para chegar ao comércio temos que nos meter por aquele espaço canal. Incomoda-me, é escuro, normalmente pouco limpo e ligeiramente afastado da rua. Acho que perdem ambos com este afastamento, a rua e o edifício.
...um comentário...
Há quem diga que os jardins não servem para nada, são espaço verde morto e que ninguém os utiliza. Verdade seja dita que pelo menos eu não tenho paciência para perder ali muito tempo. A nossa cultura mediterrânica parece que se está a perder, a ideia da rua, da praça, do convívio no espaço público pouco a pouco desaparece (lembro-me agora de que até o Terreiro do Paço já foi ladeado por árvores). Mas isto incomoda? Claro que não, é suposto existir uma evolução social,e consequentemente da cidade. O que não significa que os espaços verdes estejam obsoletos. O nosso tempo de estadia é que é bem menor, não é suposto alguém passar lá um domingo inteiro, apenas cinco minutos enquanto se espera por outra coisa qualquer. Gosto de passar pelos jardins, não própriamente de utilizá-los.
....e uma contradição
Não que seja particularmente importante mas estas coisas às vezes acontecem. De passagem pela Estação do Oriente creio ter ficado pela primeira vez satisfeito pela sua existência. Não falo da obra arquitectónica do ponto de vista conceptual, falo sim da sua "edificabilidade". Apesar de tudo pareceu-me notável a reunião de saberes que ali aconteceu. Ainda que programaticamente não seja uma obra demasiado complexa creio que há um esforço para não deixar a construção/realidade se sobreporem à ideia arquitectónica. Claro que a dificuldade de construção não é um justificativo para formular uma crítica ponderada, mas a verdade é que às vezes é perigoso dizer "não gosto".
AD
Eu Fico!
Li no Expresso que o Santana Lopes terá garantido a continuidade de Frank Gehry no projecto do Parque Mayer. Sem rodeios é uma boa notícia.
LAC
lá vou
Hoje vou à luz. Causa-me arrepios esta designação de «Nova Catedral». Ainda mais preplexo fico quando oiço o arquitecto australiano fazer uma comparação entre os arcos da cobertura do estádio e os «arcos» das catedrais (presumem-se românicas ou góticas). Uma mistura de falta de oportunidade, de muito disparate e uma extrema irracionalidade. Mas o que nos move é exactamente esta paixão irracional pelo fenómeno desportivo. Enfim, rumo à luz.
LAC
sexta-feira, outubro 24, 2003
Sublime
Não tencionava escrever nada hoje. Mas achei bem realçar uma expressão lida na blogosfera. Realmente só com o
talento literário que se lhe reconhece é que se consegue proferir uma expressão como «os merdosos de Bruxelas». Um dia gostava de escrever assim.
Bom fim de semana.
LAC
quinta-feira, outubro 23, 2003
Nova rúbrica
O prometido é devido.
Vamos dar início a um espaço que se quer frequente de discussão. Querem-se participações, muitas participações, não se inibam. Recorram ao nosso mail, encharquem-no de opiniões, fundadas, infundadas, coerentes, disparatadas.
Nós também daremos o nosso contributo, mas fica muito chato se ficar por aqui. Escolhemos este tema aqui à esquerda por estar agora na ribalta. Contudo interressa-nos discutir a sua arquitectura, e não qualquer polémica cá do burgo.
Entretanto na blogosfera o tema mexe aqui, aqui e aqui.
As hostilidades serão abertas na segunda feira. Contribuam!
discutindo gehry
A discussão sobre Frank Gehry, o fenómeno e a arquitectura, não a polémica do Parque Mayer, seguirá aqui dentro de dias. Entretanto no
Epiderme já se mexe com o assunto, com uma opinião sustentada com a qual discordo nalguns pontos.
Já falei no assunto num
post pessimista, quando se falava muito do casino. E também numa
resposta a um mail que recebemos.
Quanto ao Gehry passem por cá que se esperam novidades.
LAC
quarta-feira, outubro 22, 2003
Gehry
Aqui n'O Projecto andamos a pensar introduzir umas alterações. Criar um espaço frequente de discussão sobre um tema específico é uma delas, numa tentativa de apelar mais à participação de quem lê. Lembrei-me disto quando li um repto do
Mar Salgado para comentarmos a obra de Frank Gehry. Podia ser um bom tema para iniciar estas discussões. One way or another
Nuno não deixarei de responder à interpelação.
LAC
terça-feira, outubro 21, 2003
Luz
Há qualquer coisa de sobre-humano na manipulação da luz. De todos os elementos que compõem o espaço arquitectónico aquele que mais gosto é a luz. Misteriosa, intensa, fria, tocante, invisível, escura, redentora. Sem ela nada existe: côr, textura, forma. Através dela tudo se transforma. Um bom trabalho sobre a luz tudo perdoa, tudo alcança.
No fim a arquitectura resume-se à luz. O resto é paisagem.
LAC
segunda-feira, outubro 20, 2003
Ajuda
Quando este blog é publicado não acontece imediatamente em
oprojecto.blogspot.com. Contudo tal acontece em
www.oprojecto.blogspot.com, bem como no arquivo. Se alguém puder ajudar a compreender este fenómeno avise. Agradeceríamos muito. Já sabe, blog_oprojecto@hotmail.com.
Mais um agradecimento
O
Puto Paradoxo faz-nos uma agradável referência. Muito obrigado, é sem dúvida uma honra.
Quanto à Luana Piovani ela saberá escolher o melhor para ela. Não te desanimes, há mais mulheres no mundo.
LAC
Afinidades
Já aqui escrevi algumas vezes sobre a crítica. No recém criado
Epiderme fala-se também deste tema. Atrevo-me a transcrever o texto:
«A crítica, apesar (ou precisamente por causa) da sua subjectividade deveria ter aqui um papel fulcral. Mas a (a)crítica portuguesa é demasiadas vezes inócua e asséptica. A (a)crítica portuguesa parece ter medo da crítica. Há quem se esqueça que a crítica não tem que agradar. Pelo contrário, deve incomodar. Espera-se de um crítico que tome uma posição. Pessoal, concerteza. Subjectiva e discutível. Do mesmo modo, a crítica não deve ser uma teoria abstracta, envolvida no deleite da palavra, mas um estímulo concreto, suscitando a reflexão sem a preocupação de dar respostas definitivas. Uma reflexão que não existe na leitura de textos em que empenhamos todo o nosso esforço na simples descodificação das frases que, no fim, revelam-se completamente vazias. Quando se faz a crítica pela crítica, quando se começa a fazer teoria da teoria da teoria, começa-se a cair num discurso que raia a ininteligibilidade ou, pelo menos, o tédio. O que até já provou ser uma fórmula de sucesso, granjeando prestígio a muitos dos praticantes deste estilo.»
E mais não digo.
LAC
Pequenos gestos
Um dos blogues que mais gosto adicionou-nos à lista de links. Porque sei que aí cada pormenor é importante e nada é deixado ao acaso, muito obrigado.
LAC
Eh pá, isto resulta mesmo
Ora bem. Às 10.49 da manhã escrevi um
post reclamando do silêncio do Pedro Mexia e do Gato Fedorento. Dava-lhes 2 dias para voltarem antes de começar um movimento de apelo à desordem pública. Pois bem. Às 15.09 do mesmo dia o
Gato miou, quebrando um silêncio de 7 dias. À 1.35 da manhã do dia 17, menos de 24 horas depois, o
Dicionário regressou. Como tanto eu como a outra senhora não acreditamos em coincidências acho que mereço uns agradecimentos.
LAC
sexta-feira, outubro 17, 2003
Parque Mayer
Tenho vindo a tentar restringir os posts que escrevo ao assunto da arquitectura e cidade. Por isso não escreverei uma linha sobre esta polémica da possibilidade de afastamento do Frank Gehry.
LAC
Epiderme
Chegou ao nosso conhecimento o nascimento de um novo blogue de arquitectura. Tem o sugestivo nome de
Epiderme. Para aperitivo
«A arquitectura existe apenas na multidisciplinaridade, para sempre contaminada pelo que nos rodeia. Ignorar esta realidade é ignorar a sua essência.» Visitem-no.
LAC
quinta-feira, outubro 16, 2003
Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal (IAP – XX)
Seguindo as pisadas do sucesso do «Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa», a Ordem dos Arquitectos lançou agora, 50 anos depois, um ambicioso projecto que tem os seguintes objectivos:
«1 – Inventariar o património arquitectónico do século XX em Portugal, projectando-o no contexto Ibérico e Europeu;
2 – Constituir uma base de dados de suporte a um arquivo digital de arquitectura do século XX, integrada na base de dados europeia;
3 – Realizar a edição em livro e em formato digital;
4 – Promover a classificação dos exemplos mais paradigmáticos inventariados em articulação com as autarquias e com os intervenientes do ordenamento territorial;
5 – Sensibilizar a opinião pública e os agentes económicos para a salvaguarda e gestão deste património cultural como elemento estruturante do desenvolvimento local, nomeadamente no Espaço Sudoeste;
6 - Mudar o olhar das comunidades regionais sobre o valor do património arquitectónico do século XX no espaço ibérico e Europeu.
7 – Incentivar o turismo cultural com base em roteiros definidos a partir do inquérito.
8 – Contribuir activamente para a consolidação da rede europeia de defesa do património arquitectónico do século XX.
9 – Disponibilizar um conjunto de métodos e resultados, que possibilitarão interacções com outros projectos similares, nomeadamente no Espaço Sudoeste.»
Mais informações.
LAC
Where the hell are you morning blogs?
Há coisas que me irritam. Este silêncio do
Gato Fedorento e do
Dicionário do Diabo exaspera-me. Mais dois dias e começo a apelar à desordem pública.
LAC
quarta-feira, outubro 15, 2003
Há muito muito tempo
Há muito muito tempo num local distante perguntaram-me:
-Queres ir para que curso?
-Arquitectura.
-Paisagista ou a
outra?
-Ainda não sei..qual é a diferença?
-Então...na paisagista fazes rotundas, na outra fazes casas!
Volvidos estes anos creio já ter vislumbrado uma casa...deve ter sido engano.
AD
A brincar
Numa antevisão brilhante do futuro prevejo que daqui a 50 anos a totalidade da população portuguesa será constituída por arquitectos, o que nem é um problema visto que a arquitectura é uma profissão interdisciplinar o que quer dizer que dá para tudo. O que eu queria mesmo era ser educador de infância.
AD
Na metrópole
Já não chega andar enfiado num buraco escuro, o Metro parece ter também um dispositivo qualquer que
atrofia o cérebro dos pobres passageiros. Há dois ou três tipos de utilizadores: aqueles que têm uma cara deprimente e que olham para baixo, aqueles que sorriem enquanto estão a olhar para cima e os que vão a olhar pela janela, como se vissem o céu azul e árvores (claro que é uma técnica para topar a rapariga do lado!). Ainda bem que em dias como o de hoje toda a gente saiu à rua de carro, assim pelo menos o pessoal sempre dá uso ao cérebro quando é para soltar uns palavrões ou para buzinar.
AD
Luana Piovani
Ontem o Jô Soares entrevistou a menina.
I'm in love with an alien.
LAC
Já um ano?
Faço minhas as palavras do
Tiago:
«Há precisamente um ano atrás era escrito o primeiro poste na Coluna Infame. Só a descobri uns meses mais tarde mas a partir daí nunca mais as coisas foram as mesmas. Impressões massivas para o papel, surpresa com a identificação ideológica, despertamento para determinados assuntos e muito divertimento na leitura daquelas linhas foram alguns dos ingredientes que me levaram a querer fazer uma coisa igual.
A existência da Coluna Infame foi uma das coisas que mudou o ano de 2003 deste bendito país. Nem mais nem menos.» LAC
O Abrigo
Quando chove lembramo-nos da necessidade primordial da construção.
LAC
terça-feira, outubro 14, 2003
E ela cresce
A lista de links foi actualizada. Entre omissões imperdoáveis e novos blogues.
LAC
O Projecto vai para 4 meses
E nesse dia 14 do quente mês de Junho
escrevi:
«Espero que esta merda tenha leitores. É para isso que serve.
O Projecto nasce com um ambicioso objectivo: tentar que leigos na matéria se interessem por estes assuntos. Provavelmente vai fracassar. Não faz mal. Isto é de borla.»
Nem a taróloga Maya faria melhor.
LAC
segunda-feira, outubro 13, 2003
O Minimalismo ou a Humildade
A expressão arquitectónica, a linguagem construtiva, é aquilo que fica. Que é retido na memória, que se grava na história. Principalmente hoje que a imagem é tão facilmente reproduzível e transmitida, a capacidade de síntese atinge uma importância extrema. Quase como um populismo da arquitectura, uma tentativa de chegar mais rápido às massas. A simplicidade do gesto tem muita força quando facilmente identificável.
Então less is more. Num mundo sobrelotado de informação o silêncio destaca-se. Lembro-me de um spot publicitário mudo, sem som, que tinha um impacto brutal no meio da histeria dos intervalos. De repente tiram-nos o chão e caímos do nosso conforto.
A certeza não faz parte do espírito humano. Falava disso, elogiando a ambiguidade. Falava disso também de uma forma muito melhor o
Pedro Lomba no seu texto do Independente:
«Eu, pela minha parte, acredito em muitas (coisas) e nem todas jogam bem entre si. Sei que deve ser assim.» Por isso, pela existência de mais do que um referencial, a expressão minimalista atinge a dimensão que mais me agrada, a pausa. Não como uma crítica à sociedade da globalização consumista, não como uma tentativa de alcançar o transcendente, mas como um mais humilde gesto de silêncio.
Toda a obra de Souto de Moura me lembra este silêncio intemporal. Quer o arquitecto construir uma escola, brandindo a sua condição de purista, criticando a envolvente? Não creio, apenas sente o prazer de manipular o simples, numa muito própria exploração da textura, da materialidade.
Siza não é minimalista. Para ser sincero não sei o que é um minimalista, mas reconheço algumas atitudes minimais.
Pavilhão de Portugal.
Seria fácil ceder a tentação do simbolismo, da evocação histórica, evocando o passado marítimo da nação. Em vez disso um único gesto, directo. A capacidade que teve de apropriação foi espantosa. Edificou-se um símbolo.
Não gosto do design minimalista. Ou melhor, não gosto quando o minimalismo se torna prisão, quando a sua expressão se torna mais importante do que o utilizador, nós. Não gosto de contemplar o minimal, não gosto da vanglorização do minimal.
Mas pelo silêncio, pela redução ao essencial, pela humilde simplicidade há espaços minimalistas que nos são necessários.
LAC
sexta-feira, outubro 10, 2003
Ambiguidades
Gosto de ambiguidades. A nossa vida é feita de ambiguidades. Fortes, suaves, boas, más, desconcertantes. A ambiguidade é a força que nos faz mover. Sem ela estaríamos mortos. As máquinas não são ambíguas. Nós somos, felizmente. Normalmente a palavra tem uma conotação negativa. Eu atribuo-lhe uma conotação bastante positiva.
LAC
Siza e Gehry
Ao que parece Álvaro Siza Vieira e Frank Gehry estiveram juntos no dia 26, em Lamego, onde deram uma conferência e onde foi feito um convite muito particular:o de recriar alguns dos atavios ligados à "arte do Vinho do Porto". Ambos aceitaram, embora seja a primeira vez que projectam obras em prata (aqui o Gehry já leva algum avanço porque pelo menos já está habituado ao titânio).
AD
Obrigado
O Salmoura
dá-nos os parabéns. Diz que o despertamos para
«outras formas de ver, sentir, estar e abordar a cidade; e despertar-nos os sentidos para realidades que por vezes nos furam os olhos e mesmo assim não as vemos.» Pela parte que me toca muito obrigado.
LAC
CGD
A minha vida centra-se na Sede da Caixa Geral de Depósitos, por razões meramente de vizinhança. Nunca entrei no edifício. Sejamos claros: um gajo levantar-se de manhã com uma ressaca ainda se aguenta, agora levar com aquele edifício todos os dias leva-me a questionar se terei ofendido irremediavelmente alguma força divina.
LAC
quinta-feira, outubro 09, 2003
IMPRESSIONANTE
Até pode parecer um daqueles títulos que abrem o telejornal da TVI mas espero que seja bem mais do que isso, até porque não creio que tenha uma relação com sencionalismo. Vi no cine-estúdio 222 o filme Mega Cities, inserido dentro do programa do Ano Nacional da Arquitectura. Sem saber o que esperar lá fui eu na ignorância do que estava para vir.
O filme, para quem não conhece, aborda o tema das cidades, ou do viver na cidade, através de 4 exemplos: Bombaim, cidade do México, Nova Yorque e Moscovo. Não são cidades vulgares, são
mega-cidades, cada qual com uma extensão de edificado a perder de vista, não são vulgares porque são demasiado populosas para isso, porque o que lá acontece é demasiado absurdo para poder ser considerado banal. Claro que o assunto não é direccionado no sentido da arquitectura, ou talvez até seja, fala-se da cidade sem falar da arquitectura, fala-se da cidade sem falar de urbanismo, fala-se de cidade através de pessoas dessa cidade, ou seja, fala-se daquilo a que corresponde da forma mais primária o nosso conceito de cidades: uma aglomeração de pessoas, que vivem, utilizam e fazem funcionar uma determinada área com uma qualquer variedade de serviços e bens.
Com uma história mais ou menos comum, as cidades que conhecemos hoje, ou têm uma origem medieval (para não dizer anterior) ou então desenvolveram-se por acção directa do “big-bang” da Revolução Industrial. A partir daí parece que o crescimento foi mais ou menos rectilíneo, evoluindo no sentido de uma crescente melhoria e desenvolvimento das mesmas, o que é dizer das gentes que dela fazem parte. Como já foi referido antes, o que se vive actualmente é uma espécie de implosão da cidade, quando depois de um crescimento acentuado a estrutura da cidade contém em si mesma uma série de ambiguidades que se traduzem no aparecimento de áreas “mortas”, estagnadas e carentes de reabilitação. Podia-se dizer que é sobre isto que Megacities fala, mas a verdade é que para os casos escolhidos a realidade é bem mais atroz: há as cidades que quer a nível de estrutura física quer a nível de estrutura social entraram em colapso. O que se vê não são cidades, não na plena expressão do termo, porque não são sinónimo de evolução ou de prosperidade, o que se vê são locais onde a degradação humana é reflexo da degradação circundante e onde para milhares ou milhões de pessoas o nome cidade é sinónimo de uma vida mal vivida na companhia de um número infidável de pessoas na mesma situação. Muitas foram as imagens que mostravam uma forma de vida que se poderia dizer medieval, se não fosse pelo simples facto de numa altura medieval não existirem tantos sonhos e tanta contradição entre progresso e realidade.
Questiono-me acerca da evolução de tais cidades, uma vez que tendencialmente essa evolução será feita no sentido de um aumento progressivo da população, da degradação e das zonas de lixo, que actualmente já são a perder de vista, já são por si próprias uma parte da cidade e da forma de viver em cidade. Não quero entrar pelo lado do fatalismo e anunciar aqui o fim do mundo mas a verdade é que de repente a ”cidade” levada ao limite é uma armadilha, um equívoco ao qual só sobrevive a incansável esperança humana. Claro que é fácil apontar o problema mas difícil é a sua resolução, até podia dizer que cabe aos arquitectos da nova geração guiarem a actualidade a um futuro risonho, mas não acredito no entanto que a arquitectura consiga transportar em si a pesada obrigação de encontrar uma solução. De qualquer forma gostava de contrariar uma das frases do filme : “o absurdo é uma herança de toda a humanidade”.
AD
O clandestino
Sei no que se pensa quando se fala no cladestino: decadência do espaço urbano, lixo, locais perigosos etc... Até concordo, mas o cladestino de que falo é ligeiramente diferente, refiro-me ao tipo de espaços que nos oferecem um certo resguardo da exposição constante que acontece normalmente para quem vive na cidade. O espaço que percorremos é público, os edifícios em que entramos são partilhados com outras dezenas de pessoas e normalmente é difícil a apropriação do espaço no sentido da nossa individualidade. Esta história veio-me à cabeça ao reparar pela enésima vez naquelas janelinhas em metade de círculo que tantas vezes estão por cima do piso térreo dos edifícios. Aparentam ser uma espécie de
mezzanines encaixados logo no início do edifício. Normalmente são muito subtis e quando vamos na rua nem reparamos nelas, se estão abandonados, se se desenrola algum tipo de actividade... no entanto não deixam de ser divertidos, fazem-me lembrar aquilo que gosto de chamar de imaginário do sótão. Para (quase) todos nós o sotão já foi um local secreto, de algum misticismo, um mundo de refúgio no qual qualquer criança desenvolve as mais variadas bricadeiras. É tudo isto que estes
mezzanines me fazem lembrar, um espaço intermédio dedicado ao refúgio, à individualidade e à clandestinidade. Quem viu o
Being Jonh Malkovich lembra-se certamente do piso fantástico de metro e meio encarcerado num arranha-céus. Quem sabe se não é através de um destes
mezzanines que chegamos à mente de um Jonh Malkovich (em versão portuguesa claro).
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ide ler
Hoje
posto aqui
este link e não escrevo mais nada. Até amanhã.
LAC
quarta-feira, outubro 08, 2003
Você agradece?
Nunca percebi porque certas pessoas agradecem ao condutor quando atravessam uma passagem de peões. Será pela consciência do que fazem quando estão ao volante?
LAC
terça-feira, outubro 07, 2003
Não é verdade
Li algures (neste blog) que a crítica de arquitectura é muito teórica, que tem dificuldades em ser objectiva e que peca pela complexidade. Acho que isso é tudo mentira, até parece que nós portugueses somos pessoas complicadas! Para provar o contrário até tenho aqui um textinho: “(...) as valências apresentadas vão muito para lá da mera projecção simplista no real que o edifício tem. Para além de acrescentar uma maior profundidade no domínio da ocupação e apropriação individualizada, a complexidade inerente a esta mesma ocupação é na verdade um factor integrante no processo projectual, que fica assim enriquecido.”
Eu não sei mas...é claro como a água não é?
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Rusticidades
Há dois sonhos que não foram concretizados na infância: ter um sótão, o local maravilhoso cheio de pó e que é uma maravilha nos filmes do Spielberg; uma lareira em casa, para poder passar as noites de inverno aquecido no interior enquanto “neva lá fora”. O sótão já não faz muita falta mas da lareira não abdico. A importância é tão grande que ainda actualmente, nas recentes habitações, parece ser a cereja em cima do bolo. Quem não fica derretido quando vai ver a sua possível casinha nova, que tem parede dupla, convenientemente isolada, com uma dimensões porreiras da sala e da cozinha, tendo ainda uma lareira para passar as longas noites? Se bem que o que chamamos actualmente de fogo tem a origem na construcção medieval de duas divisões + lareira (por isso fogo) não deixa de me parecer caricata esta “obcessão”, até porque muitas vezes depois ninguém usa aquilo porque é preciso ir ao supermercado comprar lenha e por um motivo qualquer o fumo fica dentro de casa.
Em conversa com um amigo dizia-me ele que tinha visto um canal qualquer que se apanha com a parabólica em que se limitavam a filmar uma lareira, dando ao espectador a possibilidade de ouvir o crepitar do fogo. Parece-me bem, é prático, não suja e desliga-se com um botão! Eu até gosto de lareira, é divertido, mas não é aqui em Lisboa, num apartamento qualquer no 12º piso. Isto faz-me lembrar o denominado gosto
rústico, em há as asnas de madeira , a aplicação da pedra no interior da habitação, enfim, quando se quer viver com no séc. XIX mas com um computador e uma televisão...já agora um microondas que também dá jeito, é que cozinhar na lareira é muito demorado.
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O Discurso (formal, escrito, representado)
O discurso arquitectónico começou por apoiar-se na beleza. A estética como justificadora de todas as decisões, como principal indicador de qualidade da construção. Associada à estética esteve também uma noção de ordem divina ligada à simbologia. No período da Renascença esta divina ordenação tinha como suporte a geometria, o purismo do desenho. Estes princípios sempre foram fundamentais ao longo da história, até chegar a idade Moderna.
Com o modernismo o discurso voltou-se para outras sensibilidades, fruto também da conjuntura social. Falou-se então de funcionalismo e racionalismo. Um corte com qualquer tipo de expressão historicista, um voltar as costas à tradição, fundamentalmente. E esse corte traduziu-se também pelo abandono do conceito de beleza e da noção de simbologia. Em vez disso exaltava-se a economia de recursos, a mecanicidade da construção, os modelos, os tipos, a redenção da sociedade através da racionalização da arquitectura. Uma revolução social.
Rapidamente se percebeu os malefícios destas posturas e o modernismo faliu. O que lhe sucedeu, o originalmente denominado à falta de melhor como Pós-Modernismo, caraterizou-se fundamentalmente por recuperar a expressão arquitectónica. Voltou-se a falar de elementos construtivos reconhecíveis, elementos esses afastados do discurso arquitectónico na era Moderna, em prol de uma abstracção racional do entendimento do espaço. Voltou a olhar-se para a história, identificaram-se os tais elementos considerados base de toda a construção, e promoveu-se uma cultura de re-interpretação que conduziu à tal expressão.
Como a história faz-se por ciclos voltamos a ter hoje temos um mundo altamente racionalizado. Mas uma racionalização diferente daquela que aconteceu no princípio do século XX. Os avanços informáticos e tecnológicos permitiram uma capacidade de análise e projecto nunca antes alcançada. A análise espacial não foge à regra, e muito do discurso arquitectónico contemporâneo baniu certos conceitos que sempre foram o seu suporte. A beleza, a simbologia, a cultura, a expressão. Foram substituídos pelas certezas, as mais valias, os índices, a optimização. O discurso já não entusiasma, informa.
Talvez seja por isso que o Star-System seja hoje anti-funcional. Criadores como Frank Gehry,
Rem Koolhaas,
Coop Himmelblau,
Daniel Libeskind ou
Zaha Hadid, abrem-nos os olhos para esta realidade através do contraste e choque que as suas obras provocam. E por isso não são modelos que se possam repetir, não são exemplos, não podem ser. São ao mesmo tempo uma reacção e um produto, por mais preverso que isto possa parecer. Nós criámos a sua projecção, nós precisamos dos seus cenários. Nunca a arquitectura atingiu este carácter de entertenimento, de show buisness.
E talvez seja por isso que muitos jovens sejam facilmente seduzidos por esta arquitectura e sintam dificuldades em entender a outra arquitectura, a arquitectura do banal, do quotidiano, do habitar. O verdadeiro entendimento da cidade e dos seus problemas, que está muito distante do discurso hollywoodesco desta arquitectura fenómeno.
LAC
segunda-feira, outubro 06, 2003
A Verdade
Este mundo da arquitectura é uma máfia, está cheio de mensagens subliminares, verdades ocultas e mistérios por resolver. Tenho andado desconfiado em relação ao nome de alguns ateliers. Eu não sei, mas a criatividade ás vezes é traiçoeira, ora vejamos:
ARX – parece uma moto, a nova ARX 2000 anda bem mas gasta muito
OMA – contagem à nortenho, OMA, DOAS...
Atelier de Santos – ora venha lá outra imperial!
G
hery- o novo brinquedo que veio suplantar o tamagoshi ( é preciso muita atenção porque senão só faz porcaria)
Foster & partners – o arquitecto e a sua descendência
Promontório – empresa de mudança de terras
MVRDV – erro nº 475216#23W na página de módulo. É favor reiniciar o computador.
Dito isto espero que o computador não tenha nenhum
MVRDV porque ainda preciso de ir na minha
ARX comprar um
Ghery... bom bom era ainda beber
OMA ou DOAS imperiais lá pa santos.
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Periferias
Viver na periferia, ou nos arredores, é peculiar. Só o nome dá que pensar. Periferia de quê? Porquê? Em Lisboa a situação está fora de controlo. Apesar de estarmos num período de relativa estagnação, a periferia de Lisboa cresceu muito e muito depressa. Se planeamento, sem política, sem desenho. Era para ser apenas um dormitório, isso é verdade, e como dormitório não lhe era exigido muito. E tinha um impulsionador forte, uma razão incontornável: o preço. Realmente era mais barato comprar casa na periferia. O preocupante é que isso já não é tão verdade assim. Mas adiante.
O centro das cidades fora ocupado pelas empresas. As pessoas fugiram e foram para a periferia. Agora as empresas vão para a periferia, disfrutar das vantagens que a habitação já conhecia: mais espaço, menos dinheiro. E constróiem-se os Parks. Mas isto é numa periferia, a que reúne algumas condições, a que não envergonha os administradores. A outra está cada vez mais selvagem, desordenada. O suburbano tem aí razão de ser. Aí o periférico também quer dizer marginal.
O espantoso é a proximidade. Pensamos que isto se passa lá longe, mas é já aqui ao lado. E é revoltante ver o centro desocupado. Basta percorrer a av. da República ou a Baixa para sentir isso.
A Cidade está a mudar. Eu já estive em S. Paulo, e não estou a gostar nada disto.
domingo, outubro 05, 2003
Pierre von Meiss
A revista Arquitectura e Vida publica na sua edição de Outubro uma interessante entrevista com Pierre von Meiss. Ficam alguns excertos:
«Sou um pouco radical, penso que não existe (a ideia de progresso em arquitectura). Em arquitectura há, isso sim, o aperfeiçoamento, o desenvolvimento, uma reinterpretação.»
«Na sociedade de hoje há duas espécies de concepção: uma que defende que nada deve ser mudado na cidade e que tudo deve ser preservado, que é preciso protegê-la dos arquitectos e políticos; outra, a dos arquitectos, que gostariam de estar na vanguarda... mas não creio que hoje exista uma vanguarda. Para se ser vanguardista é preciso ter-se consciência da retaguarda, porque a vanguarda é qualquer coisa que se segue. Logo é vanguarda de quê?»
«A fonte, a igreja, a porta da cidade, tinham um sentido colectivo; eram objectos que se destacavam do tecido. Hoje começa-se a destacar a villa do milionário, o banco – apesar dos bancos serem significativos na nossa época, são os novos templos. É difícil escolher quando falta uma cultura. Então compra-se uma marca.» LAC
sexta-feira, outubro 03, 2003
Portas de vidro
Não é uma metáfora, estou mesmo a falar de portas de vidro, ou portas com vidros, nomeadamente em casa.
Não gosto. Então o vidro martelado ui, que beleza.
Irrita-me fechar uma porta e continuar exposto. Abrir uma porta e não acontecer nenhuma revelação, pois tudo estava à transparência.
Devia haver um decreto a proibir as portas de vidro. Ou então que se passassem a chamar de outra coisa qualquer. Sei lá, tipo «elemento translúcido de segmentação espacial», sim, acho que ficava bem.
Uma porta á rija, faz barulho a fechar, é pesada, pode encostar-se o ouvido para bisbilhotices.
Tem uma maçaneta. Pomos lá a mão e abrimos/ fechamos.
Ah, e nota-se. Quando está fechada parece dizer: «Estou fechada. Atreve-te a abrir-me». Quando está aberta então diz: «Aproveita agora que não dura muito».
Gosto de portas.
Portas de vidro são uma cobardia.
LAC
quinta-feira, outubro 02, 2003
Pois é
O
Francisco não escreveu nada ontem. Será uma azia que veio de Madrid?
LAC
Três notas sobre o recém chegado:
1. Agradeço o link.
2. Muito bom o texto de EPC, revela um grande e democrático bom senso.
3. Muito respetinho que também lá está a senhora Bastonária.
LAC
quarta-feira, outubro 01, 2003
então e eu?
Lido nos
Marretas:
«O júri que escolheu este ano o filme português que vai representar Portugal na pré-candidatura à nomeação ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro foi formado por João Lopes, Beatriz Pacheco Pereira e... Bárbara Guimarães.»
Sem palavras.
LAC
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Para breve: um texto sobre «Portas».
o primeiro dia do resto da vida dele
Vi na RTP o locutor do telejornal anunciar: «Álvaro Siza dá hoje a sua última aula». Ah, santa ingenuidade. Mas alguém duvida que vamos todos continuar a aprender?
LAC
Não me passa pela cabeça ter um blog
Vicente Jorge Silva, Eduardo Prado Coelho e António Mega Ferreira juntos num blog sobre Lisboa? Para mim é socialistas a mais, mas não deixo de exaltar o nascimento do
Fórum Cidade .
LAC
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