O PROJECTO
Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:
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sexta-feira, janeiro 30, 2004
Volver!
Há uma certa direita que detesto. Quando estou na sua presença - confesso - apetece-me ser de esquerda. Comunista mesmo, fazendo a apologia da violência. Quando, porém, estou na presença da esquerda portuguesa, aí divirto-me com a argumentação reaccionária. Para uns sou um «liberal», um «progressista», um «revolucionário». Para outros não passo de um incurável «conservador». Amanhã é dia de vestir a capa progressista.
LAC
Gentrificação
Vinha decidido a escrever um post sobre uma relação numérica ouvida ontem no
Goethe Institut, quando um comentário ao post anterior me levou a
esta notícia, que já tinha lido mas injustamente esquecido. Os números eram estes: Almada tem 180 mil habitantes. Lisboa tem 50 mil fogos vazios. De uma simples conta se conclui que em abstracto se poderia alojar a população toda de Almada em Lisboa. Quem diz Almada diz qualquer outra área periférica (perdoem-me as gentes de Almada, mas concordarão que é dependente de Lisboa.) O assunto do colóquio era
Lisboa em Trânsito. Quando se fala de mobilidade urbana não se pode ignorara a questão da densificação. Estão intimamente ligadas. Outro número ajuda-nos a compreender isto. 50% das deslocações Lisboa-Lisboa são feitas por transporte público. O maior problema do trânsito rodoviário é aquele que decorre da entrada em Lisboa de (outro número) 400 mil carros. É urgente redensificar Lisboa, trazendo a população (jovem preferencialmente) de volta.
Por isso, e pondo de lado as simpatias políticas, só devemos esperar que esta medida dê certo, e que de facto os edifícios devolutos de Lisboa sejam reabilitados pelos jovens.
LAC
Quem vê caras não vê corações
Escrevo este post ao ver as telas alusivas ao Euro 2004 espalhadas por Madrid.
Hoje em dia as redes de protecção das obras são um espectáculo em si mesmo. É raro encontrar nos dias que correm nas obras do centro da cidade a verde serapilheira. Em vez disso acontece um de duas coisas: as redes que reproduzem em tamanho real o alçado do futuro edifício; e as enormes redes publicitárias (a marcas, a produtos).
Devo dizer que abomino a primeira e deliro com a segunda.
Abomino a primeira porque é rasca. Não se percebe a intenção da coisa. Na avenida Fontes Pereira de Melo há vários exemplos destes. Edifícios (estes) por recuperar, embrulhados numa representação «realista» da sua cara. Tenho para mim como uma enorme fonte de curiosidade e espanto um edifício coberto em obras. Pela surpresa que provoca o seu desvendar. Passam-se meses em que a rua apresenta ao mundo um edifício escondido, que está para nascer ou renascer, que oculta os seus mistérios. Chegado ao dia, e como uma criança que nasce ou um actor que aparece por trás da cortina vermelha, a tela desce a construção aparece brilhante e nova.
Estas telas que reproduzem o desenho são um atentado a esta surpresa. Não por serem fiéis, porque nunca o poderão ser, mas porque alimentam pobremente uma espectativa popular que é, invariavelmente, defraudada (para melhor ou para pior) quando o edifício finalmente se mostra.
Quanto às outras telas, as publicitárias, representam um manifestação urbana por excelência. A arte publicitária há muito que é reconhecida. Nestas teles, enormes, os criativos têm a oportunidade de emprestar à obra, durante uns meses, uma pele estranha e fantástica (pela estranheza ao meio). No imaginário urbano contemporâneo os símbolos publicitários representam um papel fundamental. O exemplo urbano por execelência: Times Square. Quem ousa retirar-lhe aquela orgia publicitária que a enche de cor todos os dias (e noites)?
LAC
quarta-feira, janeiro 28, 2004
Perequação
Tenho uma profunda admiração por quem a inventou e um ódio a quem a percebe.
LAC
terça-feira, janeiro 27, 2004
«(...)não há verdadeiro Estado de direito em Portugal(...)»
O bastonário da Ordem dos Arquitectos não devia desperdiçar tempo com
estas coisas. O trabalho na Ordem devia consumir todas as suas energias. Pelos vistos não o faz.
LAC
O ruim de S. Paulo
Ontem, no programa «Manhattan Connection» no GNT, Diogo Mainardi saiu-se com esta (resposta à pergunta: o que tem S. Paulo de bom?): «
S. Paulo é tão ruim, tão ruim, tão ruim, que impele toda a gente dali para fora», tornando assim, na sua perspectiva, qualquer Paulistano numa pessoa aventureira e com os olhos postos no mundo.
LAC
Para Mim Ainda é Uma Questão de Forma
Podemos (certamente) dizer que nos interessa o território, o esquema, o diagrama, o óbvio. A actual vanguarda holandesa dá-nos rectaguarda nesse campo. Na publicação da Porto 2001
Post.Roterdam, Pedro Gadanho escreve:
«Relacionando-se as opções de projecto com dados mensuráveis que se traduzem em verdades estatísticas ou regulamentações comunmente aceites, delineou-se um instrumento crucial de comunicação do projecto(...)»
Parece não haver lugar a contraponto, a contraditório. Acaba a discussão, os
SuperDutch têm razão, as
verdades estatísticas são indesmentíveis. E como são dados
mensuráveis são desprovidos de beleza. Diz Rem Koolhaas, umas páginas à frente:
«Mas penso que talvez a nossa mais profunda dificuldade na relação com a estética é que hoje em dia a estética está muito próxima da beleza, e a beleza está muito próxima do luxo.»
A arquitectura nega a beleza. A beleza não é objectivizável.
Mas para mim não acaba aí. O fascínio das possibilidades infindáveis da análise computadorizada leva a uma obsessão pelo
projecto.verdade. É um admirável mundo novo que nos hipnotiza mas não chega.
No meio das estatísticas ainda há lugar para o humanismo?
Ana Vaz Milheiro chamou a Manuel Vicente o último dos humanistas. Não quero acreditar que seja verdade. Vivo na utopia que hoje ainda é possível essa arquitectura do deslumbre e da paixão, uma paixão falsamente ingénua que maravilha, desenhando lugares, sombras e materialidades que nos aprisionam na sua essência.
A arquitectura ainda é um meio de nos redimirmos do mundo.
Para mim ainda é uma questão de forma. Seja ela qual for, mais discreta ou exuberante, melhor ou pior, mas torta ou mais direita, mas a forma ainda é tudo! Quero continuar a perder a fala numa luz surpreendente.
Um espaço que sirva para uma coisa, serve para tudo (as reapropriações dos conventos, dos claustros, das igrejas). O contrário não existe.
Não aceito o óbvio.
Por muito indiscutíveis que sejam as análises (e são-no quanto maior for a escala), o espaço é sempre resultado de uma opção. Uma escolha motivada e enquadrada por uma conjuntura cultural do autor, que decide que a luz vem da esquerda e não da direita.
Os argumentos irrefutáveis devem ser utilizados na comunicação (e aqui dou razão a Gadanho) do projecto. Ao cliente, ao repórter, à revista, ao investidor. Mas o importante, aquilo que fica, aquilo que redime, não se explica num índice, num esquema, numa planta colorida, numa abstração.
Reside naquela incerteza inquietante quase mágica que só arte suporta.
Sem querer estamos a ficar quadrados como este ecrã.
LAC
segunda-feira, janeiro 26, 2004
Contemporânea
Estava a ver que
eles nunca mais
se ligavam.
LAC
Interrupção Voluntária da Gravidez
Poucas causas me movem actualmente como esta. Posso estar enganado, mas agora tenho de seguir o que sinto. Eu já vi. Muitos dos que apregoam a liberdade da barriga não viram. Eu já vi. Um vídeo da coisa a ser feita, legalmente. Exactamente. A ser feita. Vi um ser humano a ser morto. Antes da ferramenta metálica sequer lhe tocar, o seu batimento cardícado sobe. Agita-se. A pinça agarra-lhe o crânio. É o primeiro passo. A coisa é feita por aspiração, suga-se o corpo. Mas a cabeça é demasiado grande, tem de ser dilacerada. O feto tinha 10 semanas. As imagens eram a preto e branco. Este assunto deveria ser preto no branco. Não é.
Por isso agradeço ao
Valete Fratres esta notícia:
Harvard-MIT Study Shows Pro-Life Laws Reduce Number of Abortions. É reconfortante saber que isto vale a pena.
LAC
Fiscal, dá cá um abraço!
Planeia, planeia
Meu licenciado
Mas o teu projecto
Vai ser arquivado
Autarca, dá-me um beijinho!
Fiscal, dá cá um abraço!
(bis)
O Polis, devagarinho,
Há-de compor este espaço!
Venham prédios
Venham vivendocas!
Venha a corrupção
Trocas e baldrocas
(bis) Autarca, dá-me um beijinho!
Fiscal, dá cá um abraço!
(Etc.)
Que belos loteamentos
Esta nossa aldeia tem!
Nos prédios de apartamentos
É que a gente vive bem!
(bis) Autarca, dá-me um beijinho!
Fiscal, dá cá um abraço!
(etc.)
Os subúrbios sem remédio
São do melhor que se viu!
Quem não quer viver num prédio
Vá p’ra p... que o pariu
(bis) Autarca, dá-me um beijinho!
(etc.)
Excerto de «Carta da Serra», Francisco P. Keil do Amaral, JA nº204
Miki
Morreu como viveu: num estádio com o público entoando o seu nome. Serás sempre recordado pelos teus golos.
LAC
sexta-feira, janeiro 23, 2004
Globalização
Os gestos feitos ao computador, o olhar atento no monitor, a mão irrequieta no rato, a destreza ao teclado, são exactamente os mesmos feitos por mim, pelo vizinho, pelo Espanhol, pelo Afegão, pela Rainha de Inglaterra, pelo Zidane, por um cientista da Nasa.
LAC
quinta-feira, janeiro 22, 2004
serendipity
O simples facto de o caríssimo leitor estar a ler isto no seu monitor é uma prova que o espaço público como o conhecemos está a mudar.
A cidade serve para obrigar as pessoas a cruzarem-se. A sua riqueza reside nesse fenómeno a que os ingleses chamam de
serendipity, a possibilidade de nos acontecerem coisas por acidente. Basta sairmos à rua que estaremos expostos ao inesperado.
Mas hoje escolhemos sair sem sair. Pela nossa janela já não entra ruído nem vento, apenas
bits e
bytes. Como diz Catherine Slessor:
«From its modest begginings, the World Wide Web has evolved with dizzying rappidity into the ultimate virtual public space, a vast, throbbing cyber agora populated by a global community of real users, indulging in all kinds of activity – shopping, browsing, chating, studying, being entertained, stimulated and informed. »
Para que serve hoje uma praça?
LAC
quarta-feira, janeiro 21, 2004
por aqui
O Planeta Reboque tem andando em grande forma à volta do tema
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA, já vai na ronda IV. O hARDbLOG escreveu um post sobre o
genius loci de alta qualidade. Nas águas do rio Jordão
dança-se. Os Gansgsters fazem uma
investida de rompante a uma revista. Num
estômago algures fala-se da arte de vilar o PDM.
Por isso hoje só escrevo isto.
LAC
terça-feira, janeiro 20, 2004
Rezingão
Mas porque é que quando se vai à Fnac do Chiado, ver os livros da parte de arquitectura, há sempre dois ou três “pelintras” lá sentados no chão, a ver livros com se estivessem em casa? Recuso-me a ser consumista sem poder sequer chegar aos livros. Saí, fui à Bertrand ali ao lado e servi-me. Toma lá!
AD
Quando por cima não dá...
Volta-se a falar do túnel do Marquês. Parecem haver alguns problemas, sobretudo porque nem toda a gente concorda com a construção do dito cujo. Muitas têm sido as questões colocadas à futura eficiência do túnel. Por um lado há a consequência imediata de um acesso directo ao Marquês, sendo que a partir daí se vai para qualquer sítio. Por outro lado talvez não fosse desprezável olhar para o que acontece “lá fora”. É que enquanto cidades como Londres estão a tentar controlar ao máximo a entrada de veículos na cidade cá implementa-se a eficácia dessa entrada sem no entanto dar respostas à circulação propriamente dita. Por algum motivo no Japão só é aceite o registo de um carro quando é apresentado um comprovativo da existência de um lugar de estacionamento para este. Claro que “eles” são muito mais do que nós, mas de qualquer forma não deixa de ser estranho. Talvez com isto esteja relacionada a recente proliferação de silos automóveis, quando se chega à conclusão de que não é só um problema de circulação dos veículos, é também um problema de acomodação destes dentro da cidade. Prateleiras para carros! Curiosas não deixam de ser também as imagens constantemente apresentadas pelos meios de comunicação. Um túnel é um túnel! Invariávelmente é um buraco no chão com umas luzes amareladas a iluminar o sítio. O que é apresentado através dos “renders” é no entanto um espaço impecávelmente branco e iluminado, não se vê o céu mas também não é necessário porque é arejado e desafogado, o paraíso. Sim sim, se aquilo não levar lá uns azulejos nas paredes até fico admirado.
AD
to be or not to be
Que ilações tirar hoje?
Sobre a discussão do assunto da
Arquitectura Popular em Portugal, levantou-se a questão das consequências que os resultados do inquérito, a republicar, terá nos dias de hoje. De que obviamente serão diferentes dos de então, estamos todos de acordo. Que é necessário manter uma identificação cultural dos povos através da sua arquitectura, também me parece que é consensual. Então como se conciliam estes dois mundos hoje, o Popular e o erudito?
As referências no mundo da arquitectura de hoje sofreram uma pesada transformação com a globalização. Na Europa esse fenómeno associa-se a uma crescente integração dos estados membros, com a abolição das fronteiras, as leis comuns, as políticas convergentes, etc. A multiculturalidade é um valor politicamente correcto, que ninguém se atreve a questionar, que paradoxalmente tem expressões opostas.
Tradicionalmente a esquerda sempre foi, no campo cultural, mais progressista (ou pelo menos assim reivindica), atitude que tem passado invariavelmente pela negação do tradicional. O Movimento Moderno, que aboliu por completo as referências históricas, foi impulsionado por ideiais socialistas, utópicos e subversivos. Hoje a esquerda sonha com um mundo sem fronteiras, onde a imigração não é regulamentada, num regime de portas abertas. E aqui é que acontece o maior paradoxo. Apesar disto, a mesma esquerda que vive numa idealização da mistura de culturas torna-se a maior crítica ao fenómeno da globalização, porque esbate a identificação cultural (a mesma tradição que gosta de negar em favor de uma atitude progressista) tornando tudo mais
americano. Nasce o intrincado conceito de
alterglobalização.
Hence for instance the plastic, plasticine world of Rem Koolhaas. And the endless gesturing of Peter Eisenman, or Daniel Libeskind, who in their different (and sometimes similar) ways, are paradoxically trying to show that they have not been seduced by commerce by always trying to shove themselves into the limelight.
Esta contradição tem dominado as conciências arquitectónicas contemporâneas, já que o pensamento arquitectónico não se libertou ainda desse domínio da esquerda. Ao mesmo tempo, e para ajudar a esta festa, a vanguarda dominante holandesa nasce de um clima
tabula rasa gerado em Roterdão desde o pós-guerra, gerado nos escombros de uma cidade dilacerada. Quere-se que a expressão arquitectónica se liberte da tradição, que descubra novos caminhos, que reflicta uma nova mentalidade social que se instalou. O problema é que nada nasce sem referências. E se as referências culturais de um povo (para evitar chamar-lhe nacionais) não servem, então outras são necessárias. Desta necessidade incorre o risco do esbatimento cultural, numa corrente de pensamento que se auto-referencia.
Outro factor subversivo entra em cena. A questão da vanguarda cultural é também um assunto intocável, do domínio do politicamente correcto. O problema está, como todos sabemos, na situação que advém do domínio de uma elite cultural instalada que decide o que é válido e o que não é. O novo separa-se entre o bom e o disparate. Quem decide?
Neste cenário a reinterpretação da arquitectura popular é da maior importância. Porque lança pistas que podem alicerçar a nossa vanguarda, que tem condições para se diferenciar da cultura tecnológica anglo-saxónica, da cultura
tabula-rasa holandesa, da cultura pop pós-modernista de Venturi, ou seja de que cultura fôr.
Este é aliás um dos factores decisivos para a influência que quer Siza Vieira quer Souto Moura têm vindo a obter, de formas diferentes. Muito interessante é, por exemplo, comparar o discurso deste último, herdeiro de Mies e da abstração minimal, com a sua obra, que inexplicavelmente (ou não) se apresenta com uma carga
portuguesa muito forte.
Uma das obras que melhor resumiram, na minha opinião, esta interpretação das referências populares da arquitectura (desta vez) portuguesa é o Pavilhão de Portugal em Hanover (2000), da autoria dos dois arquitectos. Veja-se o que dele diz Peter Davey, director da Architectural Review:
« The Portuguese pavilion is, perhaps, an argument for expos. Here is a small and rather poor country making an exquisite, imaginative, economical thing, and showing up the stupidity of the blundering bureaucratic taste of big rich nations like the Germans and French (not to speak of the appalling market mediocrity of the British). It simultaneously demonstrates deep traditional appreciation of materials, light and space, and a lively understanding of the potentials of modern technology, without swanking about them. In its modest and gentle way, it is a triumph. »
Pois.
LAC
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A Europa, Portugal e o Património Cultural
Apesar de não ser tradicional
Dedicado aos conservadores da blogosfera
Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal (IAP sec. XX)
segunda-feira, janeiro 19, 2004
Sobre o aborto
Alguém me pode explicar qual é a diferença entre um feto de 10 semanas e um feto de 20 semanas? A sério.
LAC
Pontos nos 'i's
Só agora reparei que o
Lutz ficou desiludido por eu ter apoiado o texto do
Crítico sobre as torres. Ora bem, convém esclarecer uns pontos.
1. Não nego que é da maior importância questionar qualquer intervenção na cidade plural, seja do pato bravo, seja de um grande nome. Não excluo Siza, nem sou um fã incondicional do arquitecto portuense.
2. Ainda ninguém conhece o projecto. Apenas a ideia. E a ideia, em abstracto, agrada-me. Ficam por discutir os pormenores. A única pessoa que estudou o assunto a fundo foi o próprio Siza. Isso dá-me alguma segurança.
3. O texto do Crítico, expressões mais ou menos discutíveis à parte, basicamente é uma ode ao génio, e uma crítica cerrada a esta mentalidadezinha portuguesa do «a mim ninguém me engana». Temos uma dificuldade enorme em aceitar e reconhecer o valor da nossa gente, dos nossos heróis, de quem muito faz pelo bom nome de Portugal. Tirando o futebol, o reconhecimento público da excelência não existe.
4. Goste-se ou não da sua obra (interpretação subjectiva), Siza é já hoje um enorme cartão de visita do nosso país. Ganhou esse respeito pelo seu trabalho e devíamos estar-lhe grato. Quando o acusam de estar ao serviço do interesse imobiliário comete-se uma grande injustiça. Nas torres em questão, se Siza tivesse optado pela solução
PDM, dos 13 blocos de 8 pisos, provavelmente já estariam em marcha e o promotor estaria já a engordar a conta bancária.
A solução das torres não benificia financeiramente o promotor.
5. Por isso aplaudo o Crítico. Porque toma essa atitude politicamente incorrecta de glorificar o trabalho de outrém, apelidando-o de génio, oh! coisa infiel! Não admira que este país esteja deprimido. O sentimento do «lá fora é tudo melhor» é incombatível. Instalou-se e pronto. Portugal é uma merda, nada a fazer.
Tenho dito.
LAC
Entre o branco branco e o rosa-choque
Abordar o tema da cor é sempre delicado. Sobretudo em Portugal, nesse país onde «
quando um gajo não faz uma coisa lisa e toda branca, está logo lá a televisão no dia a seguir a filmar e a fazer um escândalo». Parece que é necessário sempre de um argumento muito forte para não se utilizar o branco, para se fugir, para se querer fazer outra coisa, como se o branco, na sua pureza, fosse a cor oficial, o politicamente correcto. Num certo sentido é, no país de Siza. Resulta do nosso clima, quente, esta necessidade do guardião de branco, que repele o calor incómodo.
Mas a cor como elemento arquitectónico é um factor de enriquecimento, de aumento de significado, de
vontade. É esta
vontade que parece faltar a este manto branco que corre o país de norte a sul, falando da arquitectura que se faz hoje.
Convém identificar claramente duas situações completamente distintas da expressão da cor: aquela que resulta como consequência, e aquela que se apresenta conscientemente como opção. A primeira está claramente ligada à expressão natural dos materiais, à sua cor indissociável que imediatamente se afirma como a identidade do próprio material: a madeira é castanha, a cerâmica é
cor de tijolo, o betão é cinzento, o metal é reluzente, o granito é escuro, o mármore é claro, o vidro é incolor. Uma gama cromática que se baseie nesta naturalidade é aceitável, está bem, não faz ondas, é reconfortante. A estas parece só ter direito juntar-se o branco das paredes.
Outra coisa completamente distinta é falar na cor com opção. Escolher um azul vivo é uma atitude muito mais forte, e por isso mais importante, do que deixar o betão à vista. Quando digo mais importante não digo que é mais válido, ou mais rico, mas apenas que é uma opção mais difícil de tomar. Porque quando a cor foge ao esperado corre o risco (não necessáriamente mau) de se tornar o elemento preponderante, relegando tudo o resto para segundo plano. Não é por acaso que o Taveira é o arquitecto às cores. Será que se pintássemos as Amoreiras de branco aquilo se mantinha o mesmo edifício?
Há também uma questão de gosto. O que vem baralhar esta história toda. Porque quando se introduz uma variável tão subjectiva como o gosto, perde-se o referencial e corre-se o risco de entrar na anarquia. Os brasileiros têm um ditado bastante revelador: «Se todos gostasssem do verde, o que seria do amarelo?»
Estará para inaugurar em breve o novo teatro municipal de Almada, já intitulado «Teatro Azul», numa referência ao mosaico que o reveste na totalidade. Como aconteceu esta opção, do azul intenso, tão intenso que se apropria do próprio nome do teatro? Graça Dias revelou-o numa conferância. Numa das muitas reuniões que os arquitectos foram tendo com o cliente, foi apresentada uma maquete em roofmate, material bastante apreciado na construção de maquetes e usado na construção civil como isolante térmico. Ora bem, acontece que este material é azul, sem nenhuma razão em especial. No final dessa reunião o cliente pergunta: «o teatro vai ser azul?» Obviamente não era essa a intenção, o que ali estava era apenas uma maquete de estudo volumétrico, sem nenhuma intenção cromática. Neste ponto os arquitectos entreolharam-se, numa dúvida instantânea, e, antes que pudessem dizer alguma coisa, o cliente continuou: «é que eu gosto muito do azul, gostava muito que fosse essa a sua cor». Imediatamente a resposta aconteceu: «sim, sem dúvida, o teatro será azul.» Assim foi e assim lá está, o
Teatro Azul. A cor como referência mãe, assumindo as rédeas do edifício e mostrando-o ao mundo através da sua
azulidade. Será que isto aconteceria do mesmo modo se fosse branco?
LAC
Move on
Há uma característica que confere à blogosfera uma qualidade única: a sua independência. Liberdade e independência, ainda que não anarquia. Por isso não percebo as reacções que se geram devido a possíveis referências na imprensa, seja qual for, ainda que mal informadas ou desinteressadas. Sinceramente, isso altera o que por aqui é dito?
LAC
sexta-feira, janeiro 16, 2004
«Um Portugal que mata os seus génios, os seus referentes e valoriza o nada»
Pelo estilo, pelo desassombro, pela paixão, pela exaltação do génio, aplaudo
este texto do nosso Crítico. Que remata assim:
«Mas essa é uma história totalmente diferente. Uma história triste de um Portugal mesquinho e acobardado. Um Portugal que mata os seus génios, os seus referentes e valoriza o nada.»
Aproveito para ressalvar o único ponto sobre o qual continuo a ter dúvidas, mas que confio (tem de ser) nos profissionais qualificados: a viabilidade geológica da coisa, tendo em conta os cursos de água subterrâneos. Como diz o mesmo Ribeiro Telles que o
m'A tanto gosta de citar:
as coisas podem sempre ser feitas, têm é de ser bem feitas (citado de memória).
LAC
Herzog e De Meuron no CCB
Não é todos os dias que se tem a oportunidade de assisitir a uma conferência de um prémio
Pritzker.
LAC
Errata
De facto é um pequeno grande pormenor. Onde se lê nos posts passados «
Arquitectura Popular Portuguesa», deverá ler-se «
Arquitectura Popular em Portugal». Esta minúcia tem toda a importância. Como se diz no texto já aqui publicado:
«As zonas, ou áreas, nas quais se espraia e define uma feição peculiar da Arquitectura, raramente coincidem com as fronteiras nacionais. São, em geral, anteriores a elas e têm raízes mais fundas e sólidas. A Nação e os seus limites constituem, em certa medida, criações artificiais, que os azares de uma simples guerra podem alterar ou até suprimir. Mas nenhuma guerra até hoje modificou a natureza do solo, o clima, e outros factores determinantes da Arquitectura regional.» LAC
quinta-feira, janeiro 15, 2004
Logo novo, vida nova
Dia de pomposa inaugaração nesta casa. Com todo o orgulho apresentamos o novo logotipo, que encabeçará de hoje em diante os nossos pensamentos. Um dia depois de completar 7 meses, O PROJECTO passa a apresentar-se com um renovado cartão de visita.
crónicas da profissão
Há pouco tempo pediram-me para fazer um projectinho caseiro, coisinha pouca, daquelas que não têm sequer que passar pela Câmara. Obra clandestina de uma casita T0 ou T1 - “vê lá o máximo que consegues fazer”, como se por artes mágicas conseguisse esticar a área (o mito de criar espaço). A conversa não podia deixar de terminar com: “...então depois logo falamos do preço, afinal de contas como é aqui para o amigo...!”. Ora, posso estar enganado, mas porventura não seriam os amigos para estas ocasiões? É que se é para pedir dinheiro mais vale que seja a uma pessoa conhecida!
AD
40 anos atrás
O texto não é novo, é da década de 60, e se é aqui transcrito é pela forte impressão deixada pela coragem do arquitecto ao assumir esta posição. Fica a dúvida se seria ele capaz de o fazer actualmente, tendo em conta a "guerra 73/73".
AD
«O arquitecto projecta, actualmente, uma percentagem muita pequena do espaço organizado; não vemos aliás como poderia projectar “tudo” e do interesse mesmo que haveria em que ele tudo projectasse, até porque não têm limite as actividades de organização do espaço arquitectónico. Cremos, sim, que a ele compete a criação de protótipos e sem dúvida, portanto, o comando do espaço organizado no que à sua profissão diz respeito; mas aceitamos que, para um grande número de obras ele possa não ser chamado, na medida em que “os outros” – profissionais ou não – saibam organizar o espaço com lógica e com beleza, condições que, diga-se em abono da verdade, o arquitecto muitas vezes não possui, facto que deve dotá-lo de uma certa humildade ao criticar os mesmos “outros” que, por vezes, possuem tais qualidades em maior grau que ele próprio.»
Fernando Távora - Da organização do Espaço
quarta-feira, janeiro 14, 2004
Sobre a Arquitectura Popular
Recebemos do Pedro, d'
O céu sobre Lisboa, uma preciosa contribuição sobre o tema. Por falta de tempo a discussão continuará dentro de um dia ou dois.
«É preciso ter em conta que o Portugal rural dos anos 50, quando os trabalhos do inquérito foram feitos, é um país que pertence ainda ao século XIX – sem comunicações (estradas, telefones, TV), com comunidades relativamente isoladas que utilizavam apenas os materiais construtivos que tinham à mão - daí talvez que se integrassem tão bem na paisagem.
Essa realidade pode ser esteticamente bela mas ser-nos-ia insuportável hoje em dia – escrevi um post sobre o assunto, podem lê-lo.
O bom gosto muda com o tempo – e ocorre-me, por exemplo, a moda das casas dos emigrantes do Brasil no Porto, que eram gozadas pelas elites da época (passagem do século XIX para o XX) e que hoje não chocam ninguém.
É inevitável que o contacto com outros países e culturas através da emigração se reflicta na arquitectura, de um modo ingénuo que a nós, urbanos, nos pode eventualmente chocar. E as pessoas que constroem ou mandam construir essas casas associam a arquitectura tradicional das terras delas à miséria que os fez fugir de Portugal – nada mais natural que tentem assimilar a arquitectura dos países que lhes proporcionaram uma dignidade que no Portugal salazarista não tinham.
Em todo o caso, parece-me que, nos últimos 10 anos, tem-se dado um fenómeno (que aconteceu antes noutros países, nomeadamente em Espanha) de revalorização das tradições locais, que se reflecte, entre outras coisas, na arquitectura popular. Pode ser impressão minha, mas as famosas "casas de emigrantes" estão em declínio, pelo menos nas zonas rurais, e há agora uma nova moda (também ingénua, claro) que é o revivalismo da casa rural, com o regresso aos materiais tradicionais. Isto pode ver-se um pouco por todo o país, do Minho ao Alentejo, passando pelas Beiras, e é bastante visível até em interiores de bares, cafés e restaurantes.
De um modo simplista e caricatural, há uma antinomia nesta polémica do "eu sou mais português do que tu" entre, por um lado, a linha Raul Lino-português suave e, por outro, a linha Távora-Inquérito. Fazendo um paralelo com uma questão semelhante que ocorreu com a música tradicional, e que me parece esclarecedor, há duas linhas opostas: a linha SNI-Verde Gaio-ranchos folclóricos e a linha Michel Giacometti-Lopes Graça-José Afonso-MPP, a primeira com maior aceitação nos meios populares e na direita e a segunda mais do agrado das elites urbanas e da esquerda. Agora, qual delas é mais portuguesa é impossível de dizer, acho eu.
Só mais duas coisas: primeiro, acho de evitar quaisquer paternalismos em relação à cultura popular, por uma questão de respeito pelos outros. Quem quer ir ao Lux que vá e quem quer dançar num rancho folclórico idem – são ambas atitudes igualmente dignas. Segundo, se os arquitectos se escandalizam com as casas rurais, então que as façam – eu sei que é mais fácil de dizer do que fazer, mas sempre se pode tentar, e ainda deve haver muita gente a querer casas – é mais que um nicho de mercado, é um verdadeiro manancial. E o gosto só se melhora pelo exemplo.»
Por sugestão do
m'A tentarei resumir o meu resumo da introdução do referido livro. Muito ficará pelo caminho. Sobre a reedição mencionada
ver notícia do DN.
LAC
terça-feira, janeiro 13, 2004
Post «tenho dúvidas se não será uma democracia» do dia
Li no
Quinto dos Impérios:
«
O cadáver político mais o/adiado das Caraíbas resolveu dar mais um ar da sua graça: fez aprovar uma lei que limita o acesso dos cidadãos à Internet, "que fica reservado a funcionários públicos, funcionários do Partido Comunista e médicos".»
Eu só gostava, e estou a falar a sério, que esta medida tivesse sido tomada por um qualquer governo de direita deste mundo. Era ver manif's no Camões lideradas pelo vingador Louçã; medidas de protesto na Assembleia com discursos do nosso bom Bernardino. Logo se levantariam os arautos da liberdade contra esta opressão.
Mas como foi o camarada Fidel, ele lá terá as suas razões, não é verdade?
LAC
seria lamentável
A César o que é de César
Em relação ao post de ontem, dizia que o tema tinha sido introduzido pelo
GANG. Para os mais atentos, fica a rectificação: o tema surgiu através de uma reacção d'
O céu sobre Lisboa a uma provocaçãoo de cariz
gangster.
segunda-feira, janeiro 12, 2004
Arquitectura Popular Portuguesa
Foi recentemente introduzido pelo
GANG um tema que irá, sem dúvida, provocar muita discussão: a Arquitectura Tradicional Portuguesa, ou, se quisermos, a Arquitectura Portuguesa, aquela que revela uma identidade nacional, e não apenas a que cá é produzida. Há uma grande confusão que se instala quando se fala de «tradicional», «popular» ou de «regional». Sobre o assunto gostaria de identificar 3 expressões distintas que costumam ser baralhadas:
1. A arquitectura que foi identificada no Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa (IARP), puplicado sob o título: «Arquitectura Popular Portuguesa» (APP). Como se diz na introdução da publicação, que mais à frente referirei, trata-se de uma expressão eminentemente rural e regional, sem influências (fortes) eruditas ou exteriores
2. O fenómeno conhecido como «Casa de Emigrante», a que Graças Dias frequentemente se refere, que se traduz numa construção desligada do local (quer do sítio geográfico, quer do sítio cultural), amadora e, ao contrário da arquitectura popular, cheia de referências desadequadas.
3. Um aproveitamento comercial de um instalado gosto popular, este sim muito prejudicial para a paisagem urbana dos nossos dias. Basicamente trata-se de uma fusão de mau gosto entre um imaginário de «Casa Portuguesa», a de Raúl Lino, inspirada na arquitectura do sul do País, de paredes caiadas e rodapés azuis, com um imaginário (também deturpado) clássico, de colunas e frontões.
Como se vê a arquitectura popular não é um fenómeno negativo, nem podia ser, pois reflecte uma identidade pura e verdadeira que é indissociável da cultura nacional. Mal ou bem temos de viver com isso, com essa portugalidade.
Como mote para a discussão transcrevo aqui alguns excertos da introdução ao «Arquitectura Popular Portuguesa», de 1960. Peço desde já desculpas pela extensão do post, mas não duvidem do interesse do que se segue. Digo isto sem rodeios, trata-se do texto que resume as preocupações que levaram ao IARP, numa década de cinquenta preocupada e desiludida com o Estilo Moderno. Transcrevo também, no final, um excerto da introdução da 2ª edição, de 1980.
« Desde que os homens conseguiram romper o isolamento que os continha em pequenas áreas, os aperfeiçoamentos técnicos e as inovações formais da Arquitectura alastraram pela superfície da Terra, acompanhando a expressão territorial de certos povos, das doutrinas religiosas e do intercâmbio económico e cultural.
Com a formação do Império Romano espalharam-se pela bacia mediterrânia e por vastas regiões da actual Europa os edifícios típicos, os processos de construir e as concepções plásticas greco-romanas. Posteriormente, o cristianismo levou mais longe, ainda, uma maneira especial de edificar – a do estilo românico. E quando os «mestres de obras» franceses aperfeiçoaram o sistema das abóbadas ogivais e criaram a partir dele um novo estilo, não se reduziu à França a sua área de utilização: irradiou por toda a cristandade, ignorando fronteiras, distinções éticas e políticas. A partir do século XV, impôs-se a feição renascentista da arquitectura a quase todo o mundo europeu. E, com os descobrimentos, as conquistas, a colonização, a intensificação do comércio, chegou das terras a América e da Índia um estilo comum – o Barroco.
[...]
Contudo, a par da renovação e da expansão que essas feições conheceram, outras há – as da Arquitectura Popular – que se mantiveram, através dos tempos, mais constantes e localizadas, como panos de fundo sobre as quais se vinham encastoar e destacar as peças ricas, evoluídas e desenraizadas do património comum dos povos que entre si mantinham afinidades materiais e espirituais.
[...]
Se atentarmos em certos aspectos das feições populares e das feições eruditas a edificar, ressalta claramente esse antagonismo.
Nas primeiras, assumem capital importância a correlação estreita com as condições naturais da região, o seu radical utilitarismo, a rusticidade e a permanência.
A Arquitectura popular regional não é urbana de origem nem de tendências. Pode «urbanizar-se», melhorar de cuidados construtivos e apuros formais, mas não se lhe cortam as raízes que a prendem fortemente à terra e aos seus problemas, desvirtua-se, perde a força e a autenticidade.
[...]
Nas feições eruditas da Arquitectura, a essa atitude humilde de cooperação com a Natureza e aceitação quase fatalista dos seus imperativos, contrapõe-se o desejo de a dominar, com o auxílio de técnicas, em constantes transes de aperfeiçoamento; ao utilitarismo, as preocupações estéticas e estilísticas; à rusticidade, a erudição e os requintes urbanos; à permanência, uma inquitação renovadora, com raízes em fenómenos de ordem económica, social, e de outras naturezas, cada vez mais generalizada e internacionalizada.
[...]
As zonas, ou áreas, nas quais se espraia e define uma feição peculiar da Arquitectura, raramente coincidem com as fronteiras nacionais. São, em geral, anteriores a elas e têm raízes mais fundas e sólidas. A Nação e os seus limites constituem, em certa medida, criações artificiais, que os azares de uma simples guerra podem alterar ou até suprimir. Mas nenhuma guerra até hoje modificou a natureza do solo, o clima, e outros factores determinantes da Arquitectura regional.
[...]
Portugal, por exemplo, carece de unidade em termos de arquitectura. Não existe, de todo, uma «Arquitectura portuguesa», ou uma «Casa portuguesa». Entre uma aldeia minhota e um «monte» alentejano, há diferenças muito mais profundas do que entre certas construções portuguesas e gregas.
[...]
Não existirá contudo, nessa diversidade de feições, qualquer coisa de comum, especificamente portuguesa? Cremos que sim, que há certas constantes, de subtil distinção, por vezes, mas reais. Não dizem respeito a uma unidade de tipos, de feitios, ou de elementos arquitectónicos, mas a qualquer coisa do carácter da nossa gente (...).
[...]
Mesmo sem arredar pé da aldeia, da vila, ou da pequena cidade onde a Vida nos lançou ou nos reteve, essa aproximação impõe-se. O fulgor dos grandes centros chega lá, insinua-se e instala-se. Através da imprensa, da TSF, do cinema e dos produtos e ideias que se pretende incultar, atinge as terras mais remotas, impressiona as gentes e perturba a placidez tradicional da sua vida estreita, monótona, mas regrada e coerente.
[...]
Não se exagera ao afirmar, por exemplo, que muitos lisboetas estão mais próximos de New-York, do que de Miranda do Douro; que entendem melhor as reacções típicas dos vaqueiros do Texas do que as dos rústicos de Montemuro; que sabem mais dos anseios hollywodescos das dactilógrafas norte-americanas do que das aspirações autênticas dos camponeses do Alentejo.
De igual modo o proprietário rural abastado, o presidente da Câmara ou da Junta, o professor, o abade, (...), estão agora mais perto, em pensamento e interesses, dos grandes centros, do que dos povoados erguidos em seu redor.
[...]
Eivados de influências citadinas, seduzidos pelo fulgor dos grandes centros e do aparato das suas realizações, desprezam as lições de sobriedade, de funcionamento e de coerência, que podia colher «in loco», para imporem aos burgos aquilo que consideram uma feição progressiva – e que é apenas, em enúmeros casos, parecida com a dos meios maiores. Feição inadequada, com excessiva frequência, que alimenta vaidades pacóvias mas não beneficia nem embeleza esses mesmos burgos.
[...]
A Arquitectura popular regional reflecte, como não podia deixar de ser, a perturbação reinante. Perturbação tão profunda que já se torna difícil, em certas regiões, encontrar meia dúzia de edifícios, funcional e harmoniosamente construídos, segundo princípios que ainda constituíam norma há quatro ou cinco dezenas de anos.
[...]
Contribuir para salvaguardar o que merece ser mantido, é pois, uma das finalidades deste trabalho – e não das menores.
[...]
(...) o fenómeno da Arquitectura popular e regional só há poucas décadas começoe a interessar vivamente os estudiosos, e a ser encarado com olhos limpos de preconceitos estilísticos, que lhe diminuíam o significado e a importância.
[...]
O claro funcionamento dos edifícios rurais e a sua estreita correlação com os factores geográficos, o clima, como as condições económicas e sociais, expressões simplesmente, directamente, sem interposições nem preocupações estilísticas a perturbar a consciência clara e directa dessas relações, ou a sua forte intuição, iluminam certos fenómenos basilares da arquitectura, por vezes difíceis de apreender nos edifícios eruditos, mas que logo ali se descortinam, se já estivermos preparados para os compreender e apreciar.
[...]
Tem-se admitido e proclamado que as construções antigas do nosso país podem e devem servir de inspiração para os arquitectos de hoje, e que o seu portuguesismo se revelará mais intenso e louvável quanto mais directamente se inspirarem num certo número de elementos e de aspectos, tidos e havidos por mais portugueses. Ideia simpática, mas ingénua!
Tem-se admitido também que para projectar um edifício, destinado a determinada região do país, se devem copiar ou estilizar os elementos arquitectónicos mais interessantes da região, para que o edifício se integre no ambiente regional.
Maneira primária de conceber o problema da integração em ambientes pré-existentes, e por consequência a própria arquitectura.
[...]
Do estudo da Arquitectura popular portuguesa podem e devem extrair-se lições (...) que em muito podem contribuir para a formação de um arquitecto dos nossos dias.
[...]
»
Da 2ª edição:
«
[...]
Das apetências do regime, e dos propósitos dos arquitectos que levam por diante esta obra, surge como que um equívoco que será intencionalmente mantido por estes para a viabilidade dos apoios financeiros indeispensáveis, enquanto o governo espera deste trabalho todo um formulário figurinista que venha a permitir a definição epidérmica da arquitectura, ou pelo menos das arquitecturas certas para cada província. Equívoco que a publicação dos resultados do inquérito vem destruir, juntamente com o mito, acalentado pelo regime, da existência de um «estilo nacional».
[...]
»
Comentários, reacções, estimulações, ficam para os dias que se seguem.
LAC
A inqualificável manchete do Expresso
A mensagem que anuncia não me choca. Que Lisboa vá ter uma nova Catedral, e que ela possa vir a ser desenhada por Niemeyer não me provoca nenhuma reacção de maior. O que me leva a reagir é a desadequação total da manhete face ao conteúdo da notícia, bem como o execrável destaque dado à 'importância' do Expresso nesta história. Diz o espesso:
«NIEMEYER VAI DESENHAR NOVA CATEDRAL DE LISBOA», e em jeito de subtítulo: «convite foi 'feito' pelo Expresso.»
Este deturpação dos factos é fantástica. Lendo a notícia ficamos a saber que isto não passa de um desejo de Pedro Santana Lopes, que terá obrigatoriamente que passar por um entendimento com o Patriarcado, a quem cabe a palavra final. Curiosamente não é citada nenhuma fonte do Patriarcado, ficando subentendido que não foi sequer contactado. Extraordinário, se tivermos em conta que dele sairá, como não podia deixar de ser, a decisão final.
Mais.
O 'convite' do Expresso não passou de uma informação deste desejo de PSL a Niemeyer que, habituado ao funcionamentodo Brasil, caiu na armadilha e comentou o facto como consumado. Diz mesmo que está disposto a viajar para Lisboa, sugerindo um arquitecto de malas aviadas.
Não sei se será obrigatório recorrer a um concurso internacional, mas talvez isso não seja imperativo se considerarmos que se trata de uma encomenda de uma entidade não estatal. Contudo o mais sereno será recorrer ao dito concurso, coisa que acredito que o Patriarcado fará, revelando bom-senso.
Por último fica a dúvida se o Expresso não terá mais informações que não divulga. Seria a única explicação para o carácter afirmativo da referida manchete. Seria mais um capítulo para um outro livro de 'Saraivadas', revelando mais uma vez que tudo, e absolutamente tudo, em Portugal é decidido na redacção do semanário.
LAC
sexta-feira, janeiro 09, 2004
Não é comum associar a arquitectura a causas humanitárias, ou de solidariedade. Outras profissões parecem (e são) mais necessárias em tempo de crises. Não se percebe muito bem como pode um arquitecto, através dos seus conhecimentos, prestar ajuda a quem precisa. Convenhamos, numa sociedade que põe em causa a pertinência do trabalho do arquitecto, achando que se trata de questões estéticas, torna-se complicado entender como pode a arquitectura contribuir para melhorar a vida a quem a vive em situação precária.
É de salutar portanto a existência da
Architecture for Humanity (AFH), uma organiza??o n?o lucrativa criada em 1999 que promove e incentiva soluções arquitectónicas para crises humanitárias. Actualmente a sua rede de colaboradores estende-se a 5.000 arquitectos e designers que actuam por todo o mundo. Entre as suas iniciativas conta-se o concurso para
Habitação Temporária para refugiados do Kosovo, ou o concurso para uma
Clínica Móvel de Saúde de combate à SIDA em África.
Atrav?s de concursos, workshops, fóruns educacionais, colaborações com organizações humanitárias, a AFH dá uma excelente oportunidade aos arquitectos de ajudarem verdadeiramente.
Vem a isto a propósito do seu apelo dirigido a contribuições e voluntários a propósito da tragédia que atingiu a cidade de Bam, Irão. A AFH pretende implementar um programa habitacional que se assume como urgente, que dá apoio aos milhares de desalojados.
Aqui está uma excelente oportunidade para os arquitectos sairem do seu mundo autista e fazerem a diferença.
LAC
1º prémio - Clínica Móvel de Saúde, KHRAS Architects
Boa notícia
Depois de um período de semi-ausência, o
hARDbLOG volta, com um novo visual.
LAC
quinta-feira, janeiro 08, 2004
in america
Este post tentará ser escrito evitando clichés e frases feitas, sentimalismos primários, choraminguices piegas, o que desde já se avizinha muito difícil. Tentará evitar também referências directas ao filme, porque quer assumir-se como um apelo sincero ao leitor para que, se ainda não teve oportunidade, o veja.
De vez em quando há filmes que se ultrapassam, fintando as fronteiras do cinema, elevando-se a qualquer coisa que não é definível em palavras. Este humilde escriba, que tenta passar uma mensagem, está no momento em que escreve estas palavras profundamente angustiado por saber que, independentemente do resultado destas frases, nunca conseguirá transmitir o que quer transmitir. O problema começa em saber o que quer transmitir, o que se torna bastante violento por estar ainda a recuperar a noção da realidade, olhando à volta e querendo acreditar que voltou à terra.
...
Fiquei a olhar para o cursor, cintilando devagar, a pedir-me palavras. Desisto. Não consigo falar sobre o filme. É demasiado angustiante querer partilhar isto e não conseguir. Resta-me dizer alguma coisa sobre as circunstâncias...
Comprei bilhete para o Senhor dos Anéis. Sentámo-nos na sala e o filme não começou. Um senhor vestido de azul (lembram-se, o homem de azul, em irlandês) disse-nos que a máquina avariou, peço desculpa, podemos trocar os nossos bilhetes.
Meia hora depois começava a projecção. Duas horas mais tarde levantei-me da cadeira e olhei à volta como se fosse a primeira vez que visse, que visse, que visse tudo. Espanto-me com a cor da noite, com o brilho das luzes, com os carros que cruzam, com o som do rádio, com o reflexo no espelho, como uma criança. Nada do que apreendo se parece com a sua imagem, estou banzado com a novidade das coisas, e sinto-me absurdo por ser cego, por saber que somos cegos.
in america é um filme sobre a bondade humana. O seu segredo é conseguir inventar essa noção, dizer simplesmente que ela existe. Num país deprimido faz-nos bem à alma. Não nos «toca», não nos «comove», não nos «impressiona». Não. São conceitos demasidado reais para descrevê-lo. Cumpre magistralmente a verdadeira função do cinema: emociona-nos.
Quero falar sobre cada cena, magnífica, cada revelação, todos os pormenores. Mas isso seria ofender o meu querido leitor que ainda não teve a experiência do filme. Desafio-o: veja esta película peculiar e atreva-se a sair da sala a mesma pessoa.
in america, como se todos fossemos crianças...
LAC
quarta-feira, janeiro 07, 2004
Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina
Junto-me a
esta gente toda para dizer que o livro do ano foi, também para mim, a pequena narração de Mário de Carvalho. Para dar um exemplo, são absolutamente extraordinárias e hilariantes as entrevistas, finais, às personagens femininas. A reler.
LAC
ambientes
Curiosas montagens fotográficas sobre o possível crescimento urbano de certas paisagens citadinas. A ver,
aqui.
LAC
Muito bom
o resumo do ano no
Contra a Corrente.
LAC
Ganda Zé!
Ontem, no programa Prós e Contras, Zé Sócrates uma imagem perfeita dos socialistas: capazes de enervar um morto, desfazados da realidade, completamente de consciência tranquila sobre o que andaram a fazer, arrogantes, detentores da pseudo-verdade, falando do que não sabem, politizando tudo o que se mexe, dizendo, sem papas na língua, que estes dois anos de Durão Barroso são incomparavelemente piores do que a meia dúzia de Guterres. Cheira-me a secretário-geral...
LAC
2:
Sobre o nascimento da 2: só me apetece dizer o seguinte: se era pretendida uma renovação, uma cara lavada, qual a razão de se terem mantido os locutores, ou narradores, dos documentários, gastos e velhos? Aquela sonoridade enervante, aqueles timbres corroídos que nos põem a dormir ao segundo minuto...
LAC
terça-feira, janeiro 06, 2004
não tinhas mais nada que fazer?
Na passagem de ano dei por mim já alcoolizado (pleonasmo, já tinha dito «passagem de ano...) a fazer apreciações de carácter arquitectónico ao local onde me encontrava. (Era suposto agora escrever uma frase com piada, tipo
punchline, mas reparo que já disse tudo.)
LAC
segunda-feira, janeiro 05, 2004
Torres: só nos cabe interrogar
Deve Lisboa ter torres? Sim - é inevitável.
Se sim, qual os locais onde isso deve acontecer?
O
m'A deu-nos umas pistas (
2ªCircular, em Linda-a-Velha, em Odivelas, nos Olivais, no Saldanha ou na Praça de Espanha, em Entrecampos ou (e apenas para citar mais um) no Alto de S.João ). Porquê aqui e não em Alcântara, como advoga?
O assunto começa a ser complicado e a gerar confusões. O que está por trás da negação quer da ideia de Siza (Alcântara), quer da ideia de Graça Dias (Margueira), é uma repugnância natural da densificação da margem ribeirinha. No caso de Alcântara um argumento torna-se decisivo: onde está o Plano Pormenor que regula a volumetria ribeirinha? Sem este instrumento instala-se a anarquia, os movimentos de pressão, os lóbis.
De facto, esta é a inquietação que me assola. Digo:
quero ver as torres do Siza construídas, mas fico apreensivo quanto à falta de uma estratégia de conjunto. Uma margem pontuada ocasionalmente por torres, belas e fortes, torna-se numa mais-valia impressionante para a cidade. Sobretudo porque combateria a imagem «atrasada» e «tradicional» de um pequeno País. Mas uma margem descontrolada e alvo da mais bruta especulação seria um desastre, uma aniquilação urbana fortíssima.
A Administração do Porto de Lisboa está a mais. A área que controla está em parte decandente e obsoleta. É urgente uma intervenção ribeirinha, um plano de conjunto, global. Se lá couberem as torres ainda bem.
Não sei o que é mais preocupante: a instalação de uma alta volumetria claramente absorvida pela ponte 25 de Abril, ou a construção do Casino, à beira-mar plantado, no Jardim do Tabaco, que vai ter muitos «jogos de água».
LAC
domingo, janeiro 04, 2004
2003 - Balanço Blogosférico
O nome próprio:
Pedro Mexia
Para além de uma profunda amiração pessoal, é o maior responsável por isto tudo. Obrigado.
O Blogue:
A Coluna Infame
Convém não esquecer que se extinguiu no dia 10 Junho. Esses cinco meses e dez dias de existência neste ano são suficientes para esta catalogação. Um fenómeno.
O Blogue de Arquitectura:
Epiderme
Pedro Jordão traz uma nova dimensão a este mundo. Declaradamente marginal não deixa de ser uma visita obrigatória.
A Surpresa:
Aviz
Surpresa porque tinha de inventar uma categoria para o FJV. Como é consensual e amplamente elogiado, apeteceu-me catalogá-lo como surpresa.
À direita:
JPCoutinho.com (
photo-finish com
Contra a Corrente)
Não é um blogue, mas é primo chegado. Dos três magníficos foi aquele que se manteve na área política. Fez bem.
À esquerda:
BdE
José Mário Silva merece-o. Leio-os com o maior prazer, sem me irritar.
Para fazer rir:
Gato Fedorento
Apesar de andar um pouco coxo, o que se percebe, é a confirmação do enorme talento daqueles rapazes, especialmente do RAP (perdoem-me os outros).
A maior desilusão:
Fórum Cidade
Afinal não passa de um panfleto partidário. Só admite uma direcção. Com pouco interesse.
Fico-me por aqui, evitando o risco de atafulhar a lista.
LAC
As catalogações
É sabido que este tipo de coisas não se faz a quente. Para uma análise coerente e isenta é necessária uma certa distância temporal, capaz de fazer distinguir o essencial do acessório, o fundamental do epidérmico.
A pós-Modernidade na arquitectura sofre deste factor. Primeiro é ainda e apenas um pós. Ao abrigo desta expressão cabem expressões muito distintas. Confesso que ainda me baralho muito ao tentar definir o pós-Moderno. Fico-me lamentavelmente pela negação do Moderno, argumentação muito frágil. Talvez acrescente uma ideia ou outra sobre o significado da forma, ou da utilização de elementos reconhecíveis, mas mais do que isso trona-se difícil.
Ao reler a publicação de uma mesa redonda com Alexandre Alves Costa, Álvaro Siza Vieira, Domingos Tavares, Eduardo de Souto Moura e Sérgio Fernandez (JA nº 208), deparei-me com esta espantosa evidência:
« ESM: (...) Em relação às ideias de alteração da sociedade era uma coisa; outra coisa eram os meios com que se construía. E os meios com que o modernos se propõe construir são, os que estão aí, profundamente instalados hoje: são os do Mies e acabou-se! Se fizeres um corte nas Amoreiras é igual ao Mies! Portanto, as Amoreiras é um edifício moderno! (...) A “DOM-INO” originou o que está a acontecer, hoje: a “pele”!... Hoje, toda a gente constroi em “DOM-INO” e, depois, arrajam-se uma série de peles, umas com frontões, outras com vidro, outras com madeira, outras com não sei o quê... (...)»
(Reparo agora que esta secção de texto faz parte de um interessante diálogo que se instalou entre Souto Moura e Alves Costa. Vou calar-me e dar a palavra aos dois.)
«AAC: Tens duas opções: ou fazes estruturas em parede contínua ou fazes estruturas em sistemas pilar/viga!
ESM: E a história da arquitectura é a história dessas duas! Desses dois sistemas, e agora começamos a usar tudo misturado, sem carácter... O que eu quero dizer é que o modernismo é um projecto global, e por aí não falhou.Onde é que está o modernismo? Num conjunto de pressupostos, numa “gramática” para se poder materializar que continua válida. (...)
AAC: O problema que se levanta é que esses princípios modernos produziam uma arquitectura silenciosa.
ESM: Mas porque é que a arquitectura deve ser falante? A arquitectura abstracta moderna não é narrativa! A villa Savoye e o imóvel de Marselha não são narrativos! Mas aí o pós-modernismo enganou-se! Confundiu as coisas! Quem quiser ser narrativo escreve! Não faz paredes de betão! Portanto, o problema é o pós-modernismo ter querido que a arquitectura fosse narrativa! Querer que contasse uma história! Nesse ponto houve confusão! Quem quiser pintar paisagens, pinta um quadro; quem quiser contar uma história, escreve; quem quiser que não chova nas cabeças, faz telhados...
AAC: À arquitectura faltava-lhe significado, e Kahn – por exemplo – dá-lhe significado, mas não o faz através da pele...»
E
O Projecto regressa. Um bom ano de dois mil e quatro.
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