O PROJECTO

Contribuições, insultos, projectos de execução, mas principalmente donativos chorudos para:

blog_oprojecto@hotmail.com (com minúsculas)

segunda-feira, junho 30, 2003

 

A Noite

Há certas discussões nas quais às vezes me envolvo que me dão especial prazer. Não porque tenho condições para brilhar e impor-me ao(s) meu(s) interlocutor(es). Mas porque me fazem pensar nas minhas convicções. Uma delas é o já clássico tema viver na cidade vs viver no campo. É claro que muita gente iluminada já produziu pensamentos nesta área que suplantam qualquer argumento que eu possa ter. Um que me vem especialmente à memória é um tirada do (sempre presente no que toca a citações) Woody Allen. Dizia, falando da sua aversão ao campo, a seguinte frase: "I don't trust the air I cannot see". Para quê dizer mais? Hoje falo de apenas um tópico: a noite. A noite da cidade é incomparavelmente mais bela do que a sua congénere do campo. Alguém consegue passar 7 noites seguidas a ouvir grilos a cantar? Pois claro que não. A noite rural faz bem ao stress. É um bom escape. Disfruta-se com prazer quando sabemos que no dia seguinte estamos de volta à cidade.
A noite da cidade é imprevisível. Gosto de ver ruas cheias de gente sob a iluminação dos candeeiros, como gosto de vielas desertas onde mia um gato coxo. O acender das luzes ao fim da tarde/ princípio da noite é um constante deslumbre. Lembro-me que quando fui a NY, em Março de 2000, me recomendaram que subisse ao Empire State Building ao pôr do sol. Ah, não porque esse fenómeno natural seja particularmente belo visto do 77º andar. Não. A maravilha consistia em ver a cidade acender as suas luzes artificiais. Olhar a pique para baixo e sentir essa passagem que tudo muda do dia para a noite foi uma das experiências mais marcantes que já vivi. Nenhuma catarata do Niagara, nenhum pôr do sol numa savana africana, nenhum reflexo de luar numa lagoa, nenhum, mas absolutamente nenhum fenómeno natural irá chegar perto daquele momento.
Porque no campo quando a noite chega, nós abrigamo-nos e permanecemos os mesmos.
Na cidade quando a noite chega nós anoitecemos também. LAC
 

obrigado

Quero agradecer ao Jaquinzinhos, ao Crítico, ao Fumaças, ao pano para mangas, aos Putos e ao Voz do Deserto pelas simpáticas referências que nos fazem. Bem, o Jaquinzinhos chama-nos o lobbie da arquitectura, mas interpreto isso como uma coisa boa. Descobri à pouco um novo apontador de blogs nacionais, fica em http://blogues.no.sapo.pt/. Para já começa bem para estes lados, já que nos coloca em destaque. Se me tiver a esquecer de alguém avisem. Obrigado a todos. LAC
 

NY #2

Daniel Libeskind é judeu. É também um dos maiores símbolos da arquitectura contemporânea. Polémico e visionário, batalhou muito até ver o seu trabalho começar a ser construído. Nascido em 1946 só em 1989 (já com 43 anos) consegui construir alguma coisa. Essa coisa abriu ao público em 2001. É o Museu Judeu de Berlim. O concurso pedia a ampliação de um edifício existente de modo a constituir-se como museu de memória ao holocausto. Ali seria exposta todo o tipo de arte relacionada com o tema, que pudesse transmitir ao visitante todo horror sofrido. O edifício desenhado pelo arquitecto é violento. Antes de qualquer exposição ter sido montada, o museu recebeu cerca de 400 mil visitantes. Sem nada para expor excepto o edifício. É obra. Diz quem já lá esteve (infelizmente não tive essa oportunidade) que o simples percorrer do museu é um murro no estômago. Sem dúvida não é um lugar agradável para se estar.
É este homem controverso e brilhante que vai construir o ground zero. A sua proposta é densa e carregada de significado. É bom ver que uma obra tão emblematica é atribuída a um arquitecto pouco consensual. Numa época em que impera o politicamente correcto também na arquitectura, Libeskind é um pedra no charco.
Daniel Libeskind é judeu. Qualquer mente perversa facilmente atribui a sua vitória no concurso a esse facto. Qualquer projecto de arquitectura tem muito a ver com o mundo interior do arquitecto. Conheço um arquitecto que por exemplo diz que seria incapaz de projectar uma prisão, pois isso significaria que teria de andar uns meses obcecado com os melhores mecanismos para prender alguém. Como isso está completamente fora do seu mundo é incapaz. Nunca conseguiria desenhar uma boa prisão. Como judeu Libeskind percebe bem o que é ser-se atacado de uma forma tão violenta. E mais importante, percebe como ninguém a dimensão global desse ataque. Quando se fere um povo as questões tornam-se delicadas. E o WTC representava muito mais do que o seu país.
Fica aqui a transcrição do primeiro parágrafo do texto do estudo do projecto. Poderia ter sido escrito por qualquer um de nós.

"I arrived by ship to New York as a teenager, an immigrant, and like millions of others before me, my first sight was the Statue of Liberty and the amazing skyline of Manhattan. I have never forgotten that sight or what it stands for. This is what this project is all about."
LAC
 

NY #1

Quando o segundo avião desapareceu no interior da torre, já a primeira ardia à vinte minutos. Foi esse o tempo que durou a possível ideia de um acidente. Após o segundo embate tudo ficou mais claro. Lembro-me que por uns intantes não consegui falar. Aquilo ultrapassava-me. Por tudo o que aquela cidade representa era a última que merecia ser alvo de qualquer atentado. De volta aos meus sentidos telefonei a um primo meu, engenheiro, para lhe fazer uma única pergunta: "Ouve lé, achas que aquilo cai?". pausa . Estes três segundos de hesitação foram o suficiente. Já sabia que a cidade de Scorcese e Woddy Allen não voltaria a ser o mesmo. Mesmo quando veio a resposta "É pá, acho que não... quer dizer..." nada me tirava da cabeça que o WTC já tinha desaparecido. Fiquei a ver para confirmar o inevitável. À medida que a temperatura subia, a estrutura de aço (que perdera a sua protecção anti-fogo no embate) cedia. Era uma questão de tempo. Os 20 andares de cima cairiam como se tivessem sido largados sobre os restantes. O jornalista da CNN que fazia a reportagem numa varanda relativamente afastada do sítio dizia que não coneguia ver por causa do fumo. De repente ouve-se um estrondo. O jornalista, na sua varanda relativamente afastada, baixou-se para se proteger ( do quê). Quando se pôs em pé virou-se de costas para a câmara para tentar perceber o que se tinha passado. "Só vejo fumo" dizia. E depois, não escondendo alguma incredibilidade, disse o que eu já tinha percebido "Parece que a primeira torre acabou de cair, não tenho a certeza". Queríamos acreditar até à última que aquilo não tinha acontecido. Enquando o fumo não se dissipou a torre manteve-se de pé. Porque aqueles edifícios, de aço e vidro, não pertenciam a uma cidade. Pertenciam a uma imagem que não tem nacionalidade.

O centro do mundo tinha sido atingido. Live on camera. Quem, por um segundo que seja, tenha pensado que "pois isto também é resultado da política dos EUA, não é?" apresenta sérios desiquilíbrios. Desiquilíbrios esses que são responsabilidade dos media. Não conseguem perceber que NY represanta-nos a todos, a sociedade democrática e livre.
Perversa a mente que acha que o WTC era o símbolo do "capitalismo selvagem americano".
O WTC era o elemento mais identificável se uma imagem que continua fazer sonhar o mundo inteiro. LAC
 

Obvious

Este blog nasceu há 15 dias. Nessa altura tudo o que tinha sido escrito na imprensa sobre blogs resumia-se ao editorial do José Manuel Fernandes. Passados 15 dias já temos um destaque do Público, uma reportagem na Visão, um artigo no Correio da Manhã, outro no Diário Económico, mais outros também no Público, programas de rádio e mais outros tantos que de certeza me esqueço.
É caso para dizer que, sem dúvida, O Projecto é o grande responsável por este boom. É uma simples constatação factual. LAC

domingo, junho 29, 2003

 

o étimo de arquitectura

Bonita ideia esta de "Arquitectura" poder significar "arte inicial". No entanto só queria fazer um reparo à Bomba Inteligente (a quem agradeço o tempo dedicado a esta questão): os arquitectos nunca foram engenheiros. Em tempos passados estas duas especialiades eram uma só, o construtor, o mestre pedreiro. Acontece (acho eu) que a classe da engenharia tornou-se independente mais cedo. Só depois nasceu a arquitectura como escola.

P.S.: Ainda não foi aqui referido nada sobre as relações arquitectura - engenharia. Bolas, andamos distraídos.
LAC
 

Arquitectura low-fat

Da Tempestade Cerebral chega-nos esta sugestão: o edifício da Robert Wood Johnson Foundation em Princeton, N.J. A CBS dedicou ao edifício uma reportagem. Qual é a novidade? Ora bem, os EUA tem sérios problemas de obesidade. Isto tem impacto não só na saúde pública, mas também nas contas das empresas, que gastam balúrdios de dinheiro (literalmente) em comprimidos, médicos, programas de saúde, etc.
Este particular edifício foi desenhado tendo em conta um objectivo principal: obrigrar as pessoas a andar constantemente de um lado para o outro. Isto é exactamente o oposto do que é normal. Qualquer empresa quando define o programa para o seu edifício, exige "redução de custos", "optimização de recursos", "eficácia operativa", etc. Isto tem conduzido a que os edifícios de escritórios contemporâneos sejam, no geral, bastante desinteressantes. São coisas sem vida. Muito herméticamente fechados.
Neste caso quem visite o edifício depara-se com um cenário diferente. Pessoas que se cruzam nos corredores, que sobem e descem escadas apressadamente, que vagueiam com um tabuleiro de almoço pelo átrio. Diz um dos trabalhadores que já perdeu 20 quilos desde que começou a trabalhar naquele sítio. Diz a administração que esta constante actividade física se traduz num aumento de produtividade.
Este caso deve ser encarado com seriedade. Sabe-se que a Europa corre o risco de atingir os EUA nos índices de obesidade. A excessiva sedentarização da nossa sociedade vai trazer problemas. Hoje em dia as pessoas já não se cruzam na rua a caminho do super-mercado porque fazem uma e-compra. Bem sentados na cadeira fazemos as compras do supermercado, encomendamos livros e filmes, vamos às finanças, etc.
Vivemos num mundo que dá um valor muito grande às "novas tecnologias". Esta embriaguez do wireless, da internet, tapa-nos os olhos aos seus vícios. Viver na cidade é cada vez mais sinónimo de atrofia física. Os ginásios facturam.
Fica então esta sugestão, agradecendo à Tempestade Cerebral. Vale a pena ver o video da reportagem. Realmente o movimento constante das pessoas dá uma imagem activa da empresa.
É um bom exemplo para mostrar que a arquitectura é muito mais do que a estética, o gosto, a côr, a moda. A arquitectura estuda e influencia profundamente o modo de viver das pessoas. Mesmo quando não dão por isso. LAC
 

Outras casas

Chego de um espaço nocturno. Algo se passa, pois em vez de ir dormir vim escrever. Quando começar a frequentar um psiquiatra ele perguntar-me-á: "Então, qual é o seu problema?" Eu respondo: "Sabe, eu tenho um blog..." O médico não resiste e solta um "ah..." condescentende e compreensivo.
A rede de espaço nocturnos é bastante peculiar. O ambiente que se vive em cada sítio pouco tem a ver com a sua arquitectura. Salvo raras excepções, não posso deixar de referir o Lux, alvo de um brilhante trabalho de Margarida Grácio Nunes e Fernando Sanchez Salvador. Mas no geral a arquitectura é um elemento passivo. O sítio onde hoje estive está na moda. Não quero dizer o que é, mas posso referir que é um espaço com bastante proKura. O tipo de pessoas que o frequenta é intrigante. Fico com a sensação que quando olho em volta não vejo pessoas, mas personagens. Cada um parece-me uma caricatura do que quer parecer ser. Pouca coisa é genuína. Impera a fachada, o "look", o estilo. E o sítio? Badamerda para o sítio. O que interessa é se é falado nas revistas. O ambiente soturno que impera nada tem a ver com a música que se ouve, ou com o estado de espírito dos clientes.
Toco nas estátuas. São de cartão. Ao olhar desprevenido parecem obras em pedra. Ah, que falso.
Ao contrário do que considero ser o fascínio da arquitectura e dos ambientes controlados, interessa mais "ser visto" do que "ver". Infeliz atitude esta.
Eu, sempre tocado por este espaço que já foi várias coisas diferentes, sinto-me o único que repara nisso. Os outros dançam, riem, posam, conversam. E voltam para casa com vontade de para a próxima terem um melhor desempenho, no teatro da noite. LAC

sábado, junho 28, 2003

 

volto a falar de blogs

Uma imagem vale por mil palavras. Nos blogs o template usado define a identidade da coisa. Às vezes, distraído, clico num link do blogo e aterro num determinado sítio, que devido às suas cores e à minha distracção, que se confunde com outro. Isto é muito chato. O Desejo Casar já falou nisto. Dizia que suspeitava que depois de ter iniciado actividade apareceram muitos blogs a usar o seu template. Acrescento o Aviz, que produziu o mesmo efeito.
Outro exemplo: a bomba intiligente mudou o seu "vestido da festa". Agora apresenta-se com uma imagem semelhante à flor de obsessão. Estão a ver a gravidade da questão, não estão. Imagem o que é, devido à sugestão visual que as cores nos dão, achar que a Charlotte nos está a dizer: "Ando por Lisboa nesta noite amena, vagamente ventosa. Sinto qualquer coisa no ar mas não atinjo. Então cruzo-me com um grupo de raparigas e, subitamente, chego à luz. Esta cidade tresanda a sexo."
Quem não concorda que o as cores quentes da Coluna ou o verde seco do Gato não são já um clássico? Não vos é esquisito ver, e lembrei-me agora deste por mero acaso, os Putos a usar aquelas cores?
Se calhar sou só eu.
É fácil mudar as cores ou o tipo de letra do blog. Não é preciso grandes conhecimentos de html. Tentem lá. Torna o vosso blog mais único. LAC
 

Ir ao Campera é como visitar um (mau) site da internet

Pensemos num site de internet. Tem uma morada que conhecemos, num formato familiar: www.site.com. Através desta morada acedemos ao seu interior. Utilizamos um meio físico para nos transportarmos, uns cabos telefónicos ou digitais. Meio esse que não vemos e que não tem qualquer outro fim senão transportar-nos para o site. Nessa viagem não paramos em nenhum sítio. Vamos directamente. E directamente acedemos ao conteúdo desse site. Esse conteúdo é totalmente livre. Quem o criou teve total liberdade para fazer o que lhe bem apeteceu. Se quis um background rosa-choque então assim seja. Não há constragimentos. Não lhe conhecemos o exterior. O lugar onde esse site está instalado é-nos indiferente, a não ser que torne a viagem mais lenta, ou mais cara. Tanto faz que este blog esteja alojado num qualquer computador da remota Tailândia ou que esteja no Brasil. Desde que cheguemos lá no mesmo tempo. Só la vai quem quer. Ninguém passa opor um determinado site a caminho de outro. A relação é directa. Se eu não quiser visitar um site qualquer, nada me obriga a visitá-lo. Como ficamos a conhecer um site? Através de um link, ou de uma publicitação num outro meio, ou através de uma pesquisa. Qualquer das maneiras implica um interesse objectivo, uma atenção especial.

Ora bem, ir ao Campera é em tudo semelhante.

Conhecemos a sua morada. A referência é uma saída da autoestrada. Essa autoestrada constituí-se como o meio de transporte. Á semelhança dos cabos electrónicos, a autoestrada não tem outro fim senão transportar-nos para o nosso destino. Ela vai a direito, corta caminho, constrói muros de protecção. Não tem nenhuma relação com a envolvente. Não paramos em lado nenhum. Nem olhamos para o lado. Metemo-nos no carro e só saímos no destino. Tal como o site, o conteúdo é que interessa. Ou se quisermos o interior. O exterior da coisa não existe, nem precisa de existir. E, uma vez lá dentro, perdem-se as referências exteriores. O Campera utiliza uma linguagem arquitectónica "típica" (o template) que vai buscar referências exteriores e abstractas. Também aqui há liberdade total. O mundo criado é completamente isolado. Foi uma construção típica portuguesa como poderia ter sido de inspiração havaiana. Vale tudo. O beirado artificial das suas lojas é um link para uma qualquer aldeia portuguesa. Também nos é indiferente se este outlet se situa no Carregado ou na Cruz Quebrada. Desde que exista uma autoestrada que nos leve lá num tempo aceitável ele pode existir onde quiser. Pois uma vez lá chegados impera o imaginário interior. É uma coisa autista. Também só lá vai quem quer. Quando vamos para o Porto passamos pela saída que dá acesso ao outlet. Mas nem lhe ligamos. É-nos totalmente indiferente. Não nos causa nenhum transtorno. Como descobrimos o Campera? Através de publicidade, de um aviso de alguém, ou de uma pesquisa em busaca dos preços baixos. Não se descobre por acaso, até porque apesar de estar perto da autoestrada (condição fundamental) passa despercebido.

Tal e qual um site da internet.

Isto é um fenómeno estranho. Estranho e assustador. É a negação da cidade como espaço de trocas e comércio. É a negação da arquitectura, pelo imaginário autista e falta de relação com a envolvente (também ela inexistente). É um sinal dos tempos. LAC

sexta-feira, junho 27, 2003

 

Mexam-se, pá!

A blogosfera nos últimos dias tem andado ocupada com assuntos pouco interessantes. Ele é acentos, ele é cedilhas, ele é mudanças de template, ele é migrações de servidor... Já para não falar do constante ruminar do combate que já deve ir no 78º round, Imprensa vs Blogosfera. Se isto continuar assim, já nem o PRD nos irá prestar atenção. Caros entusiamados e apaixonados bloggers, mexam-se! LAC
 

Temos livro de reclamações

O Projecto fala de arquitectura. De uma maneira muito larga. Tudo para nós pode ser sujeito a uma interpretação arquitectónica, ou urbanística. Tenho por exemplo um texto na cabeça no qual vou tentar estabelecer um paralelismo entre o outlet "Campera" com uma qualquer morada virtual da net. Deixo uma pista: ambos são um não-sítio.
De qualquer das maneiras já sabem. Estamos abertos a insultos. Não se acanhem. Por incrível que pareça a arquitectura não é um bicho de sete cabeças. Afinal, de cidade todos nós falamos.
Se quiserem ler coisas interessantes vão ao blog do Pedro Mexia (escuso-me do trabalho de pôr o link). blog_oprojecto@hotmail.com LAC
 

Hi-Tech

Fala-se muitas vezes na arquitectura Hi-Tech? Mas o que é isto? Basicamente é uma corrente de pensamento que se basea nas inovações construtivas para apoiar as decisões de projecto. Promovem o uso de materiais e técnicas vanguardistas na procura de novas formas de habitar ou trabalhar. É essencialmente um fenómeno britânico, embora esteja espalhado pelo mundo todo.
Este tipo de arquitectura é muito espalhafatosa. Seduz facilmente o olhar mais desprevenido. Com isso os seus autores conseguem criar uma imagem de marca que atrai clientes. E o tipo de cliente do Hi-Tech são principalmente instituições abstractas, mais do que pessoas individuais. O cliente ao procurar este tipo de expressão arquitectónica, procura através dela tentar fazer identificar a própria imagem da sua empresa com essa inovação. Usa-se desse fácil poder de sedução para, perversamente, seduzir o público/ cliente.
Muitas sedes de empresas optam por este tipo de arquitectura. De uma certa forma ela é intimidadora, pois à primeira vista foje dos processos tradicionais de construção, o que aumenta o fenómeno do "boi para palácio". Contudo esse processo de construção não é assim tão original. Muitos exemplos dessa arquitectura não passam de operações de cosmética, que introduzem materiais raros de uma forma pouco natural.
Devemos no entanto separar o trigo do joio. O Hi-Tech tem-se constituido como uma das poucas correntes contemporâneas que revela coerência. Tem oferecido bons casos de estudo e contribuído para o desenvolvimento da disciplina. Não podemos é deixar enfeitiçar-nos nesta magia aparente.
Na arquitectura o segundo olhar é sempre mais rico que o primeiro.
Deixo três links para páginas de arquitectos que mais se têm destacado nesta área. Não falo de Renzo Piano pois não o incluo nesta onda.

1. Foster and Partners
2. Grimshaw
3. Richard Rogers LAC
 

à deriva

Por graça digito falatorio.blogspot.com. Existe. Mas sem grande conteúdo.
Por perversão digito pedromexia.blogspot.com. «The following Blog*Spot page was not found.» LAC
 

1000

12 dias, 1000 visitas. "Oiça lá, você é parvo? - Parvo é o senhor, que já cá veio 3 vezes!"
Obrigado a quem tem nos visitado. LAC

quinta-feira, junho 26, 2003

 

Ops!

Fui ao dicionário ver o significado das palavras "arte" e "artista". Afinal pode dizer-se que o futebol é arte. Estamos sempre a aprender. Deixo-vos esta preciosidade relativa ao significado de "artista": «(...) astuto, manhoso (...)» ai ai, o mundo está perdido. LAC
 

Acredito nisto

Ando a ganhar forças para escrever um texto sobre a questão da arquitectura como arte. Não é fácil. Não pretendo dar nenhuma resposta sobre esta questão. Para isso basta ler qualquer coisa do Umberto Eco. Mas vou tentar organizar a minha cabeça nesse sentido. "Será a Arquitectura uma arte?"
O problema tem a ver com a banalização da palavra "arte", e ainda mais da palavra "artista". Carlos Queiroz disse ontem em Madrid que o "futebol é arte e rigor". O futebol é uma arte? Pior ainda é quando se tenta explicar que as touradas são também uma "arte". "A arte de bem cavalgar". Até me dá arrepios quando oiço isto. Ou quando se fala por exemplo da "arte de fazer política". A palavra "artista" é ainda pior tratada. Até se costuma usá-la com um sentido depreciativo, por exemplo quando estamos no trânsito e vemos uma caramelo com mania que é um carapau de corrida. Sai-nos logo um "olha-me para aquele artista"... Ou então quando queremos realçar a capacidade de alguém conseguir realizar alguma coisa de difícil, como por exemplo quando o presidente do Benfica contrata um jogador caro, como o Simão: "Onde é que ele vai buscar o dinheiro? O gajo é mesmo um artista desta merda..."
Parece que hoje em dia tudo é arte. Ah! maravilha, estamos rodeados por arte! "No outro dia passou por mim uma gaja que era uma autêntica obra de arte..."
Mas infelizmente nem tudo é arte.
Mas felizmente a arquitectura ainda é um arte. LAC
 

Santana Lopes, o PDM, e o presidente

O presidente da Câmara de Lisboa vai enviar para o Ministério Público processos de licenciamento de obras que, segundo ele, não podem ter respeitado a lei (PDM). Os processos dizem respeito às administrações de Jorge Sampaio e João Soares. "Mas afinal o que é legal?" é a pergunta que faz Santana Lopes. É uma boa iniciativa se produzir algum efeito. As constantes violações do PDM tornaram-se tão banais que hoje em dia já ninguém liga. Estamos habituados a tudo. "Já nada me espanta", uma expressão que ouvimos todos os dias. Mas o que me chamou a atenção foi a reacção do ex-presidente da câmara e actual presidente da república. Questionado sobre esta decisão de PSL, Sampaio não conseguiu esconder o nervosismo. Desta vez não disse "eu não estou irritado" mas o embaraço era visível. Para termos uma ideia Sampaio deixou escapar frases como "eu tenho muita estima pelo dr. Santana Lopes", "estou sempre disponível para conversar", "estou de consciência tranquila", "acho uma boa atitude", " a verdade deve ser descoberta"... Imediatamente depois de ter dito "apoio a decisão", descuidou-se e soltou um "para mim é-me indiferente". Conclusivo. Só faltou puxar do chavão "confio na justiça" para a desgraça ser total. O que incomoda o presidente? A consciência pesada da sua actuação? O constante ganhar terreno de PSL para as presidenciais? A ideia de que como presidente JS deve ser intocável?"
Fico à espera de duas coisas: que o MP se pronuncie e diga qualquer coisa. Se o PDM existe, bom ou mau, tem de ser respeitado. Escrupulosamente. Não há cá "contrapartidas" ou "mais valias" que possam justificar a violação de um Plano Director Municipal. Se é assim, então que se reveja o PDM. É disto que também fico à espera. LAC
 

Teoria da Conspiração

Número 2 da rúbrica olhando-para-o-nome-dá-para-perceber-perfeitamente-quem-está-por-de-trás-do-blog. Aqui vão mais 3:

1. A Janela Indiscreta, Equipa da Endemol
2. Monólogo, Carlos Carvalhas
3. Desejo Casar, Margarida Rebelo Pinto

continua. LAC

 

Update

A coluna da esquerda cresceu. LAC

quarta-feira, junho 25, 2003

 

A dualidade, gatos que dormem ao sol e casas que são

Quando tiver fôlego tentarei escrevinhar qualquer coisa acerca do tema da dualidade da condição de arquitecto: negócio-arte. É um tema fundamental que pode significar uma crise na disciplina. O problema não se centra na pessoa do arquitecto, na sua condição, na sua definição. Mais grave é o resultado da sua obra. Devemos preocupar-mo-nos com o fenómeno contrastante da arquitectura/ produção face à arquitectura/ arte. Ou se quisermos podemos ver a coisa de outro prisma. De um lado há a arquitectura que se demite de qualquer responsabilidade cultural e se limita a "satisfazer" um cliente (também este cada vez mais abstracto), do outro há a arquitectura como ciência humanista, que procura responder a comportamentos e se assume como espelho/ provocador da sociedade.
Lembrei-me do assunto por causa do Siza. A sua arquitectura não é, já o disse, aquela com a qual mais me identifico. Mas sempre que visito uma obra sua sinto que alguém sofreu bastante para que aquele espaço, no qual eu me encontro, comunique comigo. A sua arquitectura reflete uma coisa espantosa. Produto como é das angústias do criador (daí o ritmo próprio de trabalho) o seu resultado não deixa de ser o oposto disso tudo. Cito Eduardo Souto Moura, pois foi ele (seu discípulo) que melhor traduziu a arquitectura do Siza:

«Gosto da naturalidade dos edifícios do Siza. Parecem gatos a dormir ao sol.»

Sobre esta dualidade, que pode ser abordada de vários ângulos, apetece-me dizer mais uma coisa. Coitado do leitor que vai ficar ainda mais confuso. Mas repito aqui uma ideia que oiço repetir muitas vezes, e que aos poucos vai adquirindo significado. Louis Kahn, falando desta responsabilidade que a arquitectura tem de ir mais além do simples cumprimento de requisitos e parâmetros, costumava falar na diferença da «casa do ser e da casa do estar». Em alguns edifícios está-se, outros são maiores e são, conquistam a sua identidade. De certeza que mais tarde vou voltar a falar destas coisas. E suspeito que o António e a Luísa também. LAC
 

A desilusão do artista

Soube pelo Acontece que o Siza faz hoje 70 anos. Num livro de escritos editado há pouco tempo (Imaginar a Evidência) o arquitecto confessa que está desiludido com o mundo da arquitectura. Diz no entanto que terá de continuar a praticá-la pois não sabe fazer mais nada. Curioso, um artista caír no beco do artesão, durante uma vida treinou a mão a fazer uma coisa que já não há espaço para mais nada. A profissão mudou muito nos últimos anos (aliás, está em constante mudança). Ultimamente tem-se assistido à imposição das empresas de arquitectura, dos grandes escritórios, das grandes estruturas. O arquitecto-artista (que denominação horrorosa) está em vias de extinção. Pelo seu legado, pela sua poética, Álvaro Siza (como é conhecido no estrangeiro, por cá tratamo-lo por Siza Vieira) é hoje com 70 anos um símbolo de um tempo perdido. Apesar da sua grande produção sempre afirma que é lento a trabalhar. Tem um ritmo muito próprio.
Como poeta do espaço está desiludido. O negócio da arquitectura nunca foi com ele. LAC
 

a tentar manter a dignidade

Bom...de salientar que o exímio colunista Lourenço Cordeiro não percebeu que simplesmente não queria ofender tal personalidade, daí o "parece-me" que de outra forma não teria utilizado. Compreendo que tenha ficado chateado e a partir de agora certamente nunca mais me engano e raramente irei ter dúvidas. AD
 

esclarecimento

Escusado será dizer o António Damásio que aqui assina não tem absolutamente nada a ver com o António Damásio cientista, personalidade que engrandece o nome deste resistente País. Basta reparar no baixo nível dos seus posts, nomeadamente quando diz "(...) parece-me que o LAC se enganou (...)" para perceber a sua falta de capacidade de análise. Eu até aceito críticas, mas chegar ao ponto de dizer que eu me enganei parece-me que estamos a pisar o risco! "Sejamos sérios" *

* frase que Vale e Azevedo imortalizou ao repeti-la insistentemente durante um debate em directo na TV com 4 membros da oposição benfiquista. LAC
 

Ainda as amoreiras

Sei que o arquitecto Taveira é conhecido, tanto no meio como fora dele, pela linguagem que utiliza, pelo tipo de imagem que dá ao projecto, pelo festival de cores que emprega. Ora as Amoreiras não são um caso à parte, são a imagem de marca daquilo que é um cunho pessoal. Eu até já lá passei, “numa altura em que o sol se estava a pôr e aquilo até disfarçava”, mas quando lá volto fico sempre com a sensação de estar a ver o tipo de arquitectura que é adaptada à maneira de construir portuguesa e que tem como resultado final uma imagem meio híbrida. Sabemos que o que vemos está de alguma forma ligado ao imaginário dos arranha-céus e à construção em altura, mas falta ali qualquer coisa, há uma linguagem diferente. Aqui creio que a questão está ligada com o que o LAC disse como sendo de identificação popular. Pois, é verdade, é populuxo, e o facto em si não tem nada contra,não foi afinal de contas feito para o povo de lisboa ? Mas não tem o arquitecto uma certa responsabilidade de educação cultural?Não foi assim que se superaram sempre as correntes estéticas/ideológicas de determinada época? Parece-me ter existido sempre em Portugal, de uma forma generalista, uma certa debilidade no que diz respeito à construção de obras de uma certa dimensão, não só nas tecnologias mas também no pensamento projectual/arquitectónico que está por trás.
No entanto o que aqui se discute não anda muito longe da imagem do edifício e acredito que, apesar de não ter conhecido o local antes, o projecto em si tenha trazido mais valias ao local.
Só para terminar parece-me que o LAC se enganou na bitola, é que às vezes a fasquia parece tão baixa que o vencedor não tem grande mérito. AD

 

DO IU SPIK INGLISH???

Apesar de saber que o que aqui se fala é sobretudo arquitectura, não resisto no entanto a fazer uma incursão pela 7ª arte.
À bem pouco tempo lia numa revista de cinema a carta de um leitor assíduo que se tinha deparado com uma situação algo estranha mas no entanto sem deixar de ser invulgar: No dvd de matrix , na parte dos extras, vinha um documentário alargado sobre o making off dos efeitos especiais. Ora o mastermind por detrás dos efeitos especiais é o sr John Gaeta e a frase que despertou a atenção do leitor era: "Somewhere on the line they connected up with John Gaeta", que foi traduzida por : "algures ao longo do percurso ligaram-se a John Gaita".
Bom, verdade verdade, é que de tão habituado aos frequentes deslizes nas traduções, o caso nem me perturbou particulamente. Acabou por acontecer que duas edições mais à frente a revista publica uma carta enviada por dois tradutores de audiovisuais que demonstram o seu profundo pesar com a situação (até porque se tornou moda a caça aos erros). A carta, para além de ter um tom de queixume irritante, fala sobre a questão acima mencionada. A resposta era muito simplestemente: Como deve imaginar, torna-se particularmente difícil escrever o grafismo de alguns nomes, especialmente se forem nomes invulgares como “Gaeta”. Isto não justifica de modo algum a opção do tradutor por “Gaita”, longe disso, mas há que reconhecer-lhe o mérito de ter tentado fazer o seu trabalho o melhor possível, por forma a que nada faltasse ao seu público.
A resposta parece ser bem elucidativa acerca do estado da nação:

1º - a vida é dificil e quem tenta fazer alguma coisa merece os parabéns (idéia tipicamente portuguesa de que a vida é um sofrimento e de que estão todos contra nós)

2º- fez-se mal?oh, isso não interessa, o que interessa é fazer! (aqui a mentalidade do desenrasca que nos é tão querida)

3º - o facto de o tradutor poder pensar que a melhor forma de satisfazer o público era com Gaita, demonstra que só pensamos numa coisa.

As respectivas cartas podem ser lidas nas edições de Abril e Junho da revista Premiere. AD
 

O defeso

O Desejo Casar anunciou duas novas contratações. A vontade de casar não é um blog, é uma equipa de futebol com direito a banco e reservas. LAC
 

José Magalhães?

Entre as 10:45 e as 10:57 de hoje (ontem, terça-feira) foram debitados no blog do José Magalhães 19 571 palavras e 105 289 caracteres (ou 125 211 contando com os espaços). Não pode ser o blog do José Magalhães. Ou então, estamos perante o primeiro não-blog na blogosfera. LAC
 

Patrocínios?

Será que a publicidade vai chegar aos blogs? Eu se quisesse vender alguma coisa vendia-o no Gato Fedorento. Gato Fedorento, sponsored by Vodafone. Eu admito, estou à venda. Venham de lá esses produtos ranhosos. LAC

 

O Sistema Y€$

Rem Koolhaas teoriza sobre a globalização. Sobre o capitalismo. Sobre esta coisa que é o desparecer de fronteiras. Chama-lhe o sistema Y€$, que se obtém juntando as iniciais das moedas mais influentes do planeta, o yene, o euro e o dólar. Genial. LAC

terça-feira, junho 24, 2003

 

De passagem pelo DeDireita

O DeDireita volta à carga. Ainda bem. Esta discussão é saudável. Contudo prefiro comentar as afirmações feitas com mais tempo e melhor estruturadas. De passagem apetece-me comentar esta avaliação estética que vulgarmente é feita da arquitectura: "(...) em nome de um subjectivo conceito estético cuja pertença lhe é negada por decreto, e que já por si é hiper-díspar ou contraditório entre os próprios Arquitectos (...)". Quando se defende a exclusividade de autoria dos projectos de arquitectura por arquitectos, não se reduz o problema à estética. Esse é um grande equívoco. Grande parte do trabalho do arquitecto não se vê. Aliás a discussão estética é muito difusa e complexa. Tentei abordar a questão da imagem num post anterior.
Vamos tentar dar resposta às restantes "provocações". Mas para já ficamos com esta: a arquitectura vai muito para além da estética. Já lá vai o tempo do "decorador de fachadas". LAC
 

EURO 2004

O prometido é devido. Amantes do futebol, corram para as bancas. Acaba de saír a edição de Junho da revista Arquitectura e Vida inteiramente dedicada aos estádios. É um trabalho muito bom. Para guardar. LAC
 

Agradecimentos

Isto das citações circulares é uma chatice. Mas não posso deixar de agradecer ao Mar Salgado quando diz "E seremos iluminados pela sapiência arquitectónica da brigada anti-crime urbanístico constituída pelo Arquitectices e O Projecto. Sejam bem vindos."
Já a Bomba Inteligente sem querer oferece-se para nos ilucidar sobre o étimo de arquitectura (não, eu não conheço): "O blogue O Projecto faz-me uma grande vénia. Não me ponham ainda mais insuportável do que já sou! Mas gostei. Uma vénia é sempre bonito de se ver. E não, não vos vou impingir a maçada do étimo de arquitectura. Só se não souberem e me pedirem muito." Como é que se pede muito?
Também o Minimalismo nos acolhe " Para meu próprio espanto, acabo por fazer, numa só noite, duas grandes descobertas:
1- Ther's Only One Alice (o segundo melhor blog de toda a blogosfera);
2- O Projecto e Arquitectices (dois excelentes blogs de arquitectura). "

Obrigado a todos. LAC
 

Bom, se alguém estiver interessado, aqui tem uma reflexão sobre a árvore na cidade...

A árvore é um elemento essencial ao ambiente urbano. A sua existência valoriza o espaço, por diversas razões que vão desde o campo científico ao campo estético.
A árvore desempenha funções vitais na cidade, como a regularização dos microclimas, a protecção contra o vento, ruído e agressões variadas, o ensombramento de ruas e praças e como não podia deixar de ser, contribui para uma melhoria da qualidade do ar.
A variedade das espécies abre um leque de diferentes características estéticas, como texturas, cores, dimensões, etc., que variam a sua inserção na cidade. Por sua vez, a forma como a árvore é utilizada, quer seja isolada, em alinhamento, agrupada ou de qualquer outra forma, ajuda na caracterização e definição do espaço urbano.
Encontramos árvores um pouco por toda a parte. Umas em espaço público, outras em espaço privado que apenas deixam adivinhar as suas copas.
A sua existência é algo banal, o que leva a que a maior parte das vezes nem reparemos que elas lá estão. Mas a verdade é que quando entramos numa área em que não existe uma única árvore, o espaço urbano torna-se mais pobre. Muitos casos em Lisboa são disto exemplo. A ausência de árvores em certas ruas deixa a nu alguns ‘desastres’ arquitectónicos. A árvore tem essa capacidade, a de valorizar uma arquitectura de interesse e de camuflar as ‘aberrações’ da construção. LR

 

O Problema da Imagem

Ontem pela primeira vez pus umas imagens no blog. Hesitei. Sendo este um espaço de discussão da arquitectura teria lógica apresentar imagens. Ou talvez não.
A imagem hoje em dia torna-se muitas vezes inimiga da arquitectura. Falo concretamente da fotografia. A velocidade de comunicação, televisão e internet, banalizou de uma certa forma a descoberta da arquitectura. Uma boa fotografia corre o mundo instantaneamente, divulgando um ângulo, num dia, com uma certa luz, com um certo campo de visão de um edifício. Com base nesta imagem gera-se um conceito (um pre-conceito) do que é a construção. Isto é muito perigoso e falso. Por duas razões.

1. Muita da arquitectura que é feita hoje é feita para a fotografia. Já não são só os guarda-redes. Os arquitectos também jogam para a fotografia. Há no processo de escolhas projectuais um excessivo peso do resultado da imagem. "Mete isso mais brilhante, senão não aparece na revista". Este factor contribui fortemente para o empobrecimento da disciplina da arquitectura. A imagem de um edifício é apenas uma pequena parte das responsabilidades de um edifício. A arquitectura não deverá cair na sedução fácil da imagem. Tornar-se-á uma coisa de moda.

2. A imagem tem também outro problema. Alguns edifícios ficam rotulados, ou identificados com um determinado resultado da fotografia. O que por vezes é uma injustiça. A obra não é apreciada correctamente, ficando sujeita a uma distorção de percepção através dessa imagem. É claro que apartir do momento que geramos essa percepção na nossa cabeça, a visita ao edifício está condicionada. A relação edifício-visitante fica adulterada. Vamos a um determinado sítio comprovar ou testar aquela imagem. Claro que depois há decepções. Porque a fotografia é tirada com condições de iluminação escolhidas, normalmente quando o edifício é inaugurado, sendo portanto uma imagem muito pura. A realidade é diferente.

Voltando a este blog. Quando eu disse que "vale a pena conhecer este edifício" e remeti para o site dos SNOHETTA é claro que cometi um grande erro. Não se "conhece" um edifício através de um texto auxiliado de umas imagens. Por muito boas que essas imagens sejam. Assim, e ao pôr as imagens neste blog, espero contribuir para a divulgação do fascínio da arquitectura. Nada mais. LAC
 

Inocências

Após infindáveis lutas com o computador consigo finalmente publicar aqui qualquer coisa, o que até vem a calhar porque ainda podiam pensar que a humilde participação era mesmo so a apoiar e sem mexer uma palha.

O que vai dentro da cabecita de um estudante de arquitectura? Muita, muita, mas mesmo muita confusão...pelo menos dentro da deste aqui.Os textos que se seguem foram escritos durante a transição do 2º para o 3º ano e se não são própriamente um contributo para o desenvolvimento teórico da arquitectura também não creio que sejam um grande atentado. Perdoem a obcessão pelo limão.



ARQUITECTURA?

Que pergunta...o que é um limão? Um limão é um citrino, um fruto amarelado, normalmente com um paladar pouco adocicado e muito ácido.
Todos vieram na inconsciência do que era arquitectura, guiados por alguma razão interna que lhes apontava um provável futuro no ramo. Mais de 10 já desistiram, a bússola estava avariada....mas não desistiram por saberem o que é arquitectura e saberem que não a queriam. Se o aluno de quinto ano é capaz de dar a definição de arquitectura, aquela que se podia encontrar no dicionário, então algo está mal, o aluno entrou com a cabeça aberta e saiu com um limão na mão. A arquitectura não deixa de ser o que é, no entanto a definição torna-se constrangedora. Mas é uma prática, uma actividade quase como qualquer outra, semelhante á mais básica das actividades que sustentam o Homem e ao mesmo tempo semelhante à mais complexa e inútil das actividades humanas...quase que podia ser assim, mas estamos a falar de arquitectura, é melhor ficarmos com o limão, afinal falar de um fruto amarelo com alguma acidez está longe de definir o que é um limão.


A ILUSÃO

A grandeza de poder fazer, do poder eventualmente ser, da possivel conquista.
Existe tudo desde o início, a pequena semente está lá, germina, e impele-nos para a frente. Mas também existe a desilusão, do não poder, do já não querer. A forma como se passa de uma para a outra é das mais pérfidas e passa pelo, lá está, professor. Que grande animal, esse tipo que nos seduz com a poética adquirida na profissão e que no instante seguinte nos corta as pernas...mas não faz mal, o que conta é o aluno, não é a opinião do professor, o aluno aprende por si, por si se desenvolve e por si mesmo se critíca. O professor não existe. A assunção de que contratar o tipo que projectou o edificio X vai ser excelente porque vai ser capaz de ensinar muito melhor o aluno é ridícula...o pedagogo ficou em casa, o professor delira com as utopias que tinha vontade de construir mas que não pode e cujos repflexos vê na nova geração. Mas ele sabe, e demonstra que sabe, consegue falar interminávelmente sobre uma tematica e iluminar os ouvintes, e então, quando finalmente diz “ Eu não vos posso ensinar nada...” tem razão, o homem afinal de contas é apenas isso. Mas a frase está incompleta, na realidade ele diz “ Eu não vos posso ensinar nada que não saibam ja, so estou aqui para vos mostrar que voçês sabem que sabem”. Aqui sim, percebemos...temos realmente um limão, senão mesmo O Limão, na mão. AD

 

Outra vez o cinema

Arquivos do Cinéfilo. Mais um sítio onde poderemos acompanhar a sétima arte.

Se há arte com a qual a arquitectura deseja parecer-se é o cinema. LAC

 

Ante-Estreia

Um blog sobre cinema "Tópicos de cinema, análises, notícias, tudo relacionado com a sétima arte". Promete. Pela amostra é mais "notícias" e menos análises. Mas lá voltaremos. Genial a citação do sub-título: "I'm not normally a religious man, but if you're up there, save me, Superman!" Homer Simpson, The Simpsons. LAC

segunda-feira, junho 23, 2003

 

Biblioteca de Alexandria

No E Deus Tornou-se Visível fala-se na Biblioteca de Alexandria. Puxando a brasa à minha sardinha lembro que a Moderna Biblioteca de Alexandria abriu em Outubro de 2002. Aqui fica o link para os arquitectos responsáveis pelo projecto, SNOHETTA da Noruega. Vale a pena conhecer este edifício. LAC





 

mais blogs

Vénias actualizadas.
 

Nova rúbrica

Seguindo a ideia do último post (pouste em português, JPP?) inauguro a rúbrica personalidades-que-se-tivessem-um-blogue-eu-ia-lá-todos-os-dias-sem-falta. Aqui vão os primeiros 3:

1. Paula Bobone, com o SocioBlogue
2. José Hermano Saraiva, com o Memória Inventada
3. Ferro Rodrigues, com O Complot
LAC
 

Também quero escrever sobre o artigo do suplemento-de-praia do Diáro de Notícias

Assistiu-se à primeira tentativa de assassinato ciber-jornalístico! Um grande profissional foi alvo de uma cabala nunca antes vista! Qualquer dia, hum, estão a dizer 'prá i que o PRD anda envolvido no processo Casa Pia! Isto é uma cabala, meus amigos e minhas amigas! Só porque alguém escreve, raivosamente e numa atitude de inveja incomparáveis, uma crónica de mal dizer sobre um grupo (como alerta o Pedro Mexia esse grupo não existe como tal), isso não significa que ele tenha sido mal intencionado! Não. O Pedro (o rolo, não o outro) só nos quis alertar a todos dos perigos que corremos. Porque um blogue (pronto, já está, já me converti ao mandamento do JPP) é uma coisa perigosa. É de baixo nível. Vicia. Centra as nossas vidas. Dar opinião é uma arte. Não é para qualquer um. Eu nem leio blogues, vejam lá vocês, mas disseram-me que isso é mau. Deixem-se disso enquanto é tempo! Fechem o blogger.com! Saiam para as ruas! O colunista unido jamais será vencido! Vão mas é escrever para suplementos de fim de semana! Isso sim! Vão ver o que é doer...
Vá lá. Devemos todos reconhecer que lido a frio, o artigo até diz algumas verdades.
Esta blogosfera é muito sensível, chiça!
Todos devemos muito ao PRD. Obrigado por sabiamente teres aberto os nossos confusos olhos.

P.S.: Não quero estar a dizer nenhuma anormalidade, mas se a Vera Roquete tivesse um blogue eu ia lá todos os dias. LAC
 

A Europa, Portugal e o Património Cultural

A constituição europeia é mais um passo para o esfumar das fronteiras nacionais. Tudo começou com um tratado que tinha nome de jogador de futebol (ah, saudoso Sousa Cintra). Entretanto, com o evoluir da coisa, já temos moeda única. Em breve iremos ter uma constituição, um exército, um presidente. Com o seu tempo chegará também o Hino Europeu (que será cantado numa mescla de inglês, francês e alemão).
O que será de Portugal? Estaremos destinados a ser um gigantesco campo de golf? Tornar-se-ão as nossas cidades em parques temáticos? Seremos reduzidos às manifestações regionais, de artesanato, "very typical"?
O que é uma cidade "parque temático"?
Com o crescer de uma atitude iminentemente económica de preservar tudo o que é típico a todo o custo, as cidades, ou os seus centros históricos, correm o risco de se cristalizar. A população abandona a habitação para dar lugar a lojas de "recuerdos". Tudo é pensado em função do turista. Em vez de se assistir ao pulsar natural de uma cidade, as ruas transformam-se em cenários conservados de uma realidade histórica. Impede-se o desenvolvimento natural da cidade, congelando um cenário que é vital para manter os níveis de turismo lá em cima.
Nunca a consciência histórica foi tão presente como hoje. Tudo é valorizado. Tudo tem de ser catalogado. Vivemos num período que procura cada vez mais no passado soluções para o futuro. A historiografia tornou-se numa ciência preponderante.
Um País como Portugal corre um sério risco: o complexo da identidade nacional.
Com o avançar cavalgante desta "redução ao mínimo divisor comum" que vemos na Europa, Portugal sente a sua identidade ameaçada (soube no outro dia que até o ouro já foi alvo deste fenómeno, agora os 24 quilates do ouro nacional transformaram-se em 22, é mais europeu...). Como poderá este pequeno País resistir? Como poderá manter ainda a sua identidade cultural? Qual irá ser a diferença entre nós e Espanha? A língua? (já saíu a directiva que obriga os sinais de trânsito a ostentar comunitariamente a tradução para inglês e francês?)
É neste cenário que o perigo espreita. Confiantes de que a nossa história é um valor importantíssimo para a Europa, vamos lá preservar a todo o custo estes oito séculos? Lisboa terá de se cristalizar, de modo a que daqui a cem anos a memória Portuguesa ainda perdure.
Se vamos relegar todas as manifestações arquitectónicas contemporâneas para guetos como a Expo, é meio caminho andado para a tranformação de Lisboa (e Porto) em parques temáticos. E isso já se vê. Porquê esta febre colectiva de se considerar que a melhor localização do casino seria na Expo? Chegámos ao ponto de considerar (como o fez José Sá Fernandes) que o Jardim do Tabaco é uma zona histórica!
Para a Cidade parar é definitivamente morrer.
Vou apenas dar um exemplo. França é, a par da Itália, o país europeu que mais estudos faz sobre a sua história. É normal. São os países com os maiores legados arquitectónicos. Como todas as cidades Paris tem um série de ex-libris que contribuem para o seu orgulho. O Louvre é um deles. Pois bem, neste edifício carregado de história e significado nacional, foi construída uma pirâmide de vidro com uma linguagem contemporânea. A pirâmide (arq. Ieoh Ming Pei) é hoje mais um desses símbolos. Tornou-se património. A cidade ganhou. O País ganhou.
Confundimos muitas vezes a noção de Património com a História. Cada época tem o dever de fazer património. Que património irá deixar o séc. XXI português para as gerações futuras? LAC


 

Só por acaso...

É impressão minha, ou o Pedro Mexia está a levar à letra as diferenças entre ter um blog partilhado e um blog pessoal? LAC
 

Mil quê?

O contador diz-me que este blog ultrapassou as 1000 pageviews. Em 8 dias. Não se preocupem. Já mandei o mail para o servidor a informar do bug que têm no sistema. LAC
 

A Casa das Músicas

Fala-se muito da Casa da Música (arq. Rem Koolhaas). Parece que anda para aí uma polémicazita sobre um pianista que queria ser gestor mas afinal só queria ser pianista e vai acabar como director cultural. Oh, que assunto importantíssimo! Oh, o país pára para ver! Infelizmente, a Casa da Música inspira preocupações muito mais importantes do que esta história de comadres. Não visitei o edifício (ainda). Portanto só posso contar uma pequena história.

Há alguns anos um arquitecto holandês fez um projecto. Mais um. Era uma residência unifamiliar. Tinha umas formas arrojadas, com uns ângulos interessantes. Mais, a casa utilizaria o vidro como material fundamental. Essa residência não foi construída. O projecto foi para o lixo? Não, ficou na gaveta à espera de uma oportunidade para se vingar...
Passados uns tempos o mesmo holandês descobre um concurso internacional para uma sala de espectáculos numa cidade de um país periférico. Perfeito! São obras destas que dão status aos grandes arquitectos. Mas, não tenho projecto! Está muito em cima da hora! Como resolveu o arquitecto-argumentista-jornalista este problema? Simples. Foi à gaveta, mandou tirar cópias dos desenhos com uma ampliação de dez vezes, mudou as legendas pondo a palavra "betão" onde estava "vidro" e concorreu.
Ganhou o concurso.
E nós por cá, nesta periferia esquecida, aplaudimos mais uma obra de um grande arquitecto internacional.
Boa. LAC

domingo, junho 22, 2003

 

Recuperação do Património

Eu sei. Mas não há volta a dar. Por muito que tente o contrário todos os sábados de manhã leio o Expresso. E tento encontrar algo de interessante. Hoje, depois de uma busca intensiva e já desconfiado que ia ter o mesmo resultado que o Hans Blix, encontrei no Imobiliário alguma coisa que me merece um comentário (qualquer leitor bem intencionado que ainda estava a ler este post acaba de desistir agora, ao saber que vou escrever sobre o Expresso). Diz o nosso ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues: "Temos de recuperar o imenso património edificado degradado das nossas cidades". Fala sobre a importância deste sector da indústria da construção. O que deve ter posto os cabelos em pé aos "construtores". Fazer uma obra de recuperação é extraordinariamente mais cara do que construir de raiz. É mais demorada e dá menos lucro. Mais, é necessário o uso de técnicas avançadas e, pasme-se, normalmente é necessário arquitecto. Como se pode ver não é por aqui que o sector da construção gosta de ir. Por isso assinalo com agrado esta mensagem do sr. ministro, ex-homem forte da Câmara de Lisboa.
Isto passa-se na página 8.
Na página 9, imediatamente ao lado, aparece um anúncio de página inteira, a cores, ao novo edifício de escritórios do Palácio Sotto Mayor, na av. Fontes Pereira de Melo. O que é que isto tem a ver? Tudo. O Palácio foi alvo de uma intervenção profunda de reabilitação. O próprio edifício foi recuperado. O que só por si já não era mau. Mas a partir de agora o Palácio vai passar a ter companhia. Um edifício contemporâneo, com preocupações claras de distinção de linguagem arquitectónica, acaba de ser completado. A vida do Palácio Sotto Mayor começa a contar-se no ano 2003. E contudo a marca histórica de 100 anos de existência está lá. É este tipo de intervenção no património (de que falava o ministro) que se deve aplaudir. Há um grande pudor em mexer no que é "antigo". Há inclusivé movimentos que defendem a construção nos dias de hoje segundo os exactos moldes de há 100, 200 anos, conforme o período da história que mais se encaixar no gosto pessoal. A sério. Vale a pena observar estas aberrações. Elas constituem-se como uma negação completa do que é a arquitectura.
Quando se trata de intervenções no património corremos o mesmo risco. Ás vezes pensa-se que o mais correcto, o mais leal, o mais valorizador do ambiente será devolver a construção ao seu estado inicial. Mesmo se isso significar um esforço financeiro que não se justifica. Mas esta atitude vale também para a envolvente. Basta lembrar o processo do CCB e a polémica que gerou apenas por estar "demasiado próximo" dos Jerónimos para se perceber o alcance desta mentalidade. Corre-se o perigo de uma cristalização dos centros históricos, provocando um "imobilismo total" como diz o arq. Souto de Moura, ou uma tranformação das cidades em "parques temáticos" como alerta o prof. Jorge Gaspar.
Defendo, e agora corro o risco de ser um pouco radical, que qualquer intervenção no património de fundo deixe a sua marca. É fundamental que se perceba que o diálogo entre as épocas é o que faz a história. Uma reconstrução profunda que simplesmente represente a imagem que algumas pessoas possam ter do edifício original não deve ser incentivada. Um edifício reconstruido, ou reabilitado, não deve poder confundir-se com um edifício conservado. O diálogo de linguagens arquitectónicas, de materiais e técnicas, de leituras sociais, só enriquece o meio urbano.
Fiquei muito contente quando vi uma notícia que dava conta da não aprovação de um projecto de acresecento de dois pisos num edifício pombalino. Dizia a Câmara que a linguagem arquitectónica dos novos pisos deveria ser distinta da original. Tinha de anunciar o seu tempo. O projecto foi refeito e hoje em dia lá está, o edifício tem dois novos pisos que não deixam dúvidas, mesmo ao transeunte mais distraído, que foram construídos hoje. Isto é autenticidade. De outra forma seria um baralhar da identidade de uma obra arquitectónica.
Sabendo da intenção do governo em apostar na indústria da recuperação do património, fico com a esperança que o país não se lance em operações de "lavar a cara" aos edifícios "velhinhos". Uma coisa é ligar um ser vivo a uma máquina com a esperança que dure mais uns tempos, outra é dar-lhe vida nova. LAC

sábado, junho 21, 2003

 

Assim vale a pena ver televisão

A sic tem um novo programa. Chama-se "Campeões Nacionais". É tipo Jogos sem Fronteiras, mas com fronteiras. As nossas. Hoje houve um empolgante embate entre Lisboa e Figueira da Foz (o meu Santana Lopes é melhor que o teu). Durante uma das provas a Marisa Cruz repetiu insistentemente durante cinco minutos as expressões "boa" "boa" "isso" "força" "mais rápido" "calma" "calma" "mete a mão por dentro das calças". Eu gostei. LAC
 

Rés vés Campo de Ourique

Devo fazer um esclarecimento. Quando disse que Campo de Ourique tem uma arquitectura francamente má talvez tenha sido incompreendido. Disse-o numa lógica de elogio ao bairro. Se repararmos bem, não é pela arquitectura dos seus edifícios que Campo de Ourique se destingue. As condições de habitabilidade da construção são medianas. Está certo que temos uma arquitectura competente, se quisermos, como é tantas vezes a construção anónima. Talvez seja esta a melhor maneira de caracterizá-la: anónima. É raro neste bairro que um edifício faça alguém parar para se maravilhar. É certo que «A Arquitectura é uma festa como a Vida deve ser, não tendo contudo que ser algo excessivamente festivo a não ser por circunstâncias de mercado», como nos escreve um leitor. Sobre isto, lembro-me de uma frase do arq. Silva Dias que repondia assim, quando lhe perguntavam sobre o estado da arquitectura em Portugal: «Nós temos uma boa alta costura. Falta-nos é um bom pronto-a-vestir».
Neste sentido só me apetece mais uma vez elogiar a "má arquitectura" de Campo de Ourique. Aqui há uma identificação total entre as pessoas e a "sua casa". Muita da "boa arquitectura" não tem esta identificação. É pena.

P.S.: O mesmo leitor alerta para o facto de Campo de Ourique ter um Plano, um bom Plano, e o que é um Plano senão arquitectura? É claro. Nem podia ser de outra forma. Um bairro tão equilibrado teve de ser pensado. Nada disto nasce espontâneamente. E esse Plano não se vê, sente-se. LAC
 

O Bairro

Moro em Campo de Ourique. Dentro de dois meses mudo-me. Para uma “boa zona”, mais “digna”, com “edifícios mais bonitos”. Esta casa é um quarto andar sem elevador. Vou mudar-me para um quinto andar mas com elevador. A minha futura casa é maior. Vai ser mais fácil parar o carro à noite (mas mais difícil de dia). A casa é uma reconstrução de um edifício de “interesse ambiental”. Está como nova. Então a que se deve este meu sentimento de perda?

Campo de Ourique é o bairro perfeito. Conheço a mulher do quiosque e a mulher do quisoque conhece-me. Quando saio à uma da manhã para fazer qualquer coisa de improvável encontro alguém que passeia o cão, que volta para casa do restaurante, que estaciona o carro. As pessoas em Campo de Ourique fazem vida de bairro sem serem bairristas. Todas as ruas são minhas. Em nenhum lugar de Campo de Ourique me sinto um estranho. Mesmo com tantos estranhos à volta. No outro dia tocaram à porta. “Boa tarde. Fala de casa da sra. ...? Daqui é a polícia. Por favor pode confirmar se é o dono do carro xx-xx-xx? O carro está destrancado. Será que poderia vir cá alguém a baixo trancá-lo? O meu colega está á espera junto da viatura.” Campo de Ourique não tem partido (embora se suspeite de um ligeiro pendor socialista, dados não confirmados), não tem clube, não tem classe social. A arquitectura é francamente má. Não há um único edifício que se assinale. Bom, talvez um ou dois, não me esqueço do cinema Europa. O que quer isto dizer? Que é possível fazer boa cidade com má arquitectura? Se eu não conhecesse Campo de Ourique diria que não. Tem um jardim com reformados que jogam dominó (daqui a uns anos suspeito que os cámones que hoje vêem tirar postais de alfama virão tirar postais dos jardins com os reformados). Dantes tinha merda nos passeios. Hoje tem menos. Tem a loja do Simão Sabrosa (nunca lá vi ninguém dentro). Mas não por isto que eu tenho este sentimento de perda. É que já por várias vezes dei com a Marisa Cruz a passear na minha rua. Perder isto é que é o drama. LAC

sexta-feira, junho 20, 2003

 

as maravilhas da alma que requerem ser expressas


É do domínio do inacreditável que se situa
a maravilha do surgimento da coluna.
Do muro, emergiu a coluna.
O muro fez bem ao homem.
Com a sua matéria e a sua força,
ele o protegeu contra a destruição.
Mas, logo, o desejo de olhar lá fora
levou o homem a abrir ali um buraco,
e o muro ferido então clamou:
"O que você está fazendo comigo?
Eu o protegi, eu lhe dei segurança,
e agora você abre um buraco em mim?"
O homem respondeu:
"Mas eu olharei lá fora!
Eu vejo coisas lindas lá fora,
e quero olhar!"
O muro, porém, ainda se sentia muito triste.
Mais tarde, não contente com o buraco,
o homem abriu ostensivamente o muro,
com o cuidado, porém, de revestir o vão com filetes de pedra,
colocando, ainda, um lintel sobre ele.
E logo o muro sentiu-se muito bem.

A ordem de construir muros revelou
uma ordem de construir muros com aberturas.
Assim surgiu a coluna,
como uma ordem maquinal
de construir aquilo que se abre.
Um ritmo de aberturas foi determinado pelo próprio muro,
que então deixou de ser um muro,
e passou a ser uma sequência de colunas e vãos.
Essas realizações não são encontradas na natureza.
Elas surgem da misteriosa faculdade
que o homem tem de expressar as maravilhas da alma
que requerem ser expressas.


Luz Branca, Sombra Negra Louis Kahn (trad. brasileira)
 

Manifestação

Para quando um blog do Albano Homem de Melo? LAC
 

Novos Links

Actualizei os links. Além dos indiscutíveis queria realçar a visibilidade de Deus. Um blog sobre filosofia, com textos curtos, claros e muito interessantes (Chegar a Deus pela Física, por exemplo) que interessam até o leigo na matéria (objectivo aliás que este blog de má fama persegue). Fica feita a sugestão. Curiosamente nasceu também a 14 de Junho. LAC
 

Um centro comercial, uma participante de Big Brothers e flores

Passei ontem em frente ao Saldanha Residence (arq. João Paciência). A entrada exibia uma tela em formato XL que, e perdoem a minha memória se não for exactamente correcto, mostrava uma jovem Cinha Jardim aparecendo sorrateiramente num ambiente floral e primaveril, ostentando as frases:

AQUI LISBOA JÁ É BONITA
Cinha Jardim
O MELHOR NO CENTRO DA CIDADE

Quero informar o leitor (que só por acaso é que veio parar a este blog, estou certo) que se eu alguma vez falar numa situação descrevendo-a como "o melhor no centro da cidade" não estou, de forma alguma e sem qualquer dúvida, a referir-me à Cinha Jardim sorrindo por entre as flores.
Achei importante fazer esta nota. LAC
 

Importa-se de repetir?

«Pôr uma casino na zona histórica de Lisboa (nota: Jardim do Tabaco) é uma piroseira»
José Sá Fernandes, in Visão

E dizer «piroseira»? Também não é uma piroseira?

«o seu impacte arquitectónico final terá na relação com os jogos de água um dos factores conceptuais dominantes»
Mário Assis Ferreira, in Visão

Jogos de água? Olhos de água? Polo aquático e saltos para a piscina? Ou repuxos e fontes iluminadas? Aquamatrix? Mas afinal, do que é que estamos a falar? LAC

quinta-feira, junho 19, 2003

 

Tomás Taveira e as Amoreiras

Ah! Ainda bem que a frase polémica gerou reacção! Vou tentar explicar o que me levou a escrevê-la.
Antes disso um nota prévia: é claro que a obra do Taveira tem muitos pontos negros, mas isso pronto, o que é se há-de fazer?
O conjunto das Amoreiras é uma obra emblemática. Poucas obras em Portugal conseguiram atingir aquele nível de identidade. É uma obra fortíssima. Rejeito os argumentos que dizem que essa força advém da dimensão e do factor-choque que provocam.
Vou tentar argumentar este meu reconhecimento comparando as Amoreiras com os três edifíos que a circundam tendo sido construídos posteriormente: o Diana Parque, o Hotel D. Pedro e por último o Amoreiras Square.

1. Sobre o Diana Parque (não sei quem é o arquitecto) não me apetece falar muito. Haverá ali alguma coisa que saia do banal? É um edifício revestido a um mármore bastante horrível, volumétricamente sem interesse e que, apesar do seu pretenciosismo, passa perfeitamente despercebido.
1a. As Amoreiras são tudo menos banal. Tem uma marca muito forte, uma boa implantação e uma imagem que (não entrando pela conversa do gosto) revela a arquitectura de autor.
2. O Hotel D. Pedro (arq. Nuno Leónidas) é um objecto francamente desinteressante. Tirando a brincadeira formal que se faz na base para anunciar a entrada do hotel e, consecutivamente, jogar com a esquina, a torre é um monolíto de catálogo. O modo como os dois materiais da fachada se conjungam, a pedra e o vidro espelhado, é uma desilusão (o esboço que é apresentado no site é bastante mais interessante).
2a. As Amoreiras maravilham. Criam um imaginário próprio (não me estou a esquecer de todas as suas referências, nomeadamente dos EUA) e com isso contribuem para o enriquecimento de Lisboa. São sem dúvida um local de dinamização da cidade. O jogo formal que é conseguido, quer nas torres quer no edifício de habitação, é na minha opinião feliz. Conseguiu-se um ícone.
3. O Amoreiras Square (arq. Arsénio Cordeiro) é um desastre. Quando estava em betão ainda se podia vislumbrar algum interesse. Agora que está praticamente concluído é de fugir. O pórtico da fachada é dos gestos mais arrogantes que podemos encontrar em Lisboa. Parece querer atingir uma monumentalidade superior. Dá ares de tribunal de país sub-desenvolvido, onde o estado quer marcar a sua força. Aqueles quadrados superiores que formam um triangulo invertido e que reforçam a simetria da coisa são aberrantes. O vidro espelhado não tem qualquer sentido. A pedra de revestimento fica manchada com a água da chuva, parecendo uma esponja. As janelas à face (também espelhadas) do corpo mais baixo contribuem para a diluição do gesto tridimensional, transformando a fachada numa pele desinteressante.
3a. Apesar da sua pompa, as Amoreiras não são megalómanas. Não são arrogantes. Identificam-se até com o popular. Uma vez ouvi um comentário interessante. Dizia determinada pessoa, no meio de uma crítica feroz ao "gosto" das Amoreiras: "... e estes arcos aqui da entrada, francamente, fazem lembrar aqueles arcos do St. António, não é?" É. De um certo modo, há nas Amoreiras uma vontade algo ingénua de forma e côr. Sem ser a aberração da guitarra do BNU, aqui o edifício aproxima-se de um imaginário que tem mais de popular do que de elitista cultural. Sinto-me bem no centro comercial das Amoreiras.

É por isto que digo que o arq. Tomás Taveira é um grande arquitecto. Está preso a uma época? Talvez. Mas é daí que vem a sua verdade artística. De uma coisa podemos ter a certeza: não se trata de um arquitecto camaleão que se contorce para ir agradando ao "gosto" do cliente ou do povo. Há ali algo de genuíno. Uma imagem de marca para vender? Claro. Quase todos os arquitectos tentam construir uma "brand" para vender. O mercado não perdoa. LAC
 

40 graus à sombra...

Ando sempre a elogiar a arquitectura. Mas se não fosse o aparelho de ar condicionado que tenho instalado não havia isolamento térmico nem ventilação natural que me valesse hoje. O meu sincero obrigado a quem inventou esta máquina. LAC
 

Frase polémica do dia

O Taveira é um grande arquitecto. LAC
 

Porquê um blog sobre arquitectura ou Será possível discutir arquitectura num blog

Quando O Projecto foi criado não sabia ao que vinha. Continua sem saber. Mas a constatação de que a maioria dos blogs são "generalistas" (aqui está a tele-linguagem em funcionamento), e por "generalistas" entendo também aqueles que são de política, deixa algumas dúvidas sobre a viabilidade de um blog sobre um assunto tão específico: Arquitectura. Por isso é que decidi falar nas "cidades" no sub-título, é mais abrangente.
Os blogs que conseguem criar um ambiente mais direccionado são normalmente sobre literatura. Compreende-se. A blogosfera é um meio escrito. Portanto, tirando os blogs "políticos" e os "literários" não há muitos blogs que eu visite com frequência. Gosto dos blogs simples (será que é já obrigatório escrever "blogues"?) Os blogs que usam um grafismo mais desenvolvido não me prendem a atenção. Acho que lhes retira a característica do imediatismo. Um diário é algo que se rabisca quando se vai no autocarro e que normalmente tem má caligrafia. Portanto será interessante tentar divulgar a arquitectura neste meio?
Já há algum tempo para cá tenho reparado na avassaladora presença das temáticas da arquitectura nas conversas quotidianas. Sempre que alguém mantém uma conversa que dure mais de cinco minutos invariavelmente falará ou da "casa", da "rua", dos "transportes", do "centro comercial", "na Expo", na "igreja", etc, etc. Para um ouvido atento é muito engraçado reparar nisto.
O Projecto tenta ser um espaço onde a arquitectura é tratada com este nível de aprofundamento, o da conversa de café. Queremos fazer a tentativa de tirar o pensamento arquitectónico (chiça, digo tantas vezes a palavra que daqui a nada perde o sentido!) da cristalização intelectual dos meios restritos e trazê-la para o dia-a-dia. É claro que sempre que possível meteremos a nossa colherada pseudo-teórico-proto-intelectual.
Nem que seja só neste nosso cantinho dessa pequena gaveta chamada blogosfera, onde parecem ter sido enfiadas todas as manifestações pessoais com interesse na Internet. LAC

 

Desmentido

A rapidez dos blogs tem destas coisas. Num minuto auto-proclamo a glória de uma grande descoberta, no outro sou informado da total falsidade do que canto. Dois minutos antes (o que na blogosfera equivale a uns 231 novos posts) já o 100nada fazia voar a informação. LAC
 

Nota

Ao dizer "fiz história" espero ter subido no ranking das "citações mais umbiguistas" da blogosfera. Seria interessante alguém tentar fazer esta estatística. LAC
 

Dicionário do Diabo

Última hora: Pedro Mexia regressou. Dicionario do Diabo. Acho que fui o primeiro a reagir à notícia. Fiz história. A blogosfera está de novo muito mais interessante. Obrigado pelo regresso. Os orfãos aclamam o retorno. LAC

quarta-feira, junho 18, 2003

 

Ainda o Manifesto

O De Direita rebate com argumentos interessantes o que aqui foi dito sobre o Direito à Arquitectura. No entanto falha num particular ponto: quando diz que "Apenas 4.1% dos projectos são feitos por arquitectos, mas 100% são aprovados por Arquitectos." Aqui toca na ferida. Todos sabemos como funcionam as câmaras. Todos sabemos o que fazer para aprovar um projecto. Os critérios de avaliação camarária são, aliás, muito frágeis. Limitam-se a observar a concordância com os regulamentos, e mesmo assim quando consideram estar a fazer cumprir uma determinada lei esquecem-se que há dezenas de outras leis que estão a ser infringidas. O ser humano é limitado.
Não quero falar na corrupção. Não quero ir por aí.
Deixo a transcrição (truncada) de um texto do José Pulido Valente, editado no seu livro ACUSO, Crónicas de Urbanismo/ Arquitectura, como ilustração do referido processo de aprovação:

(...) Foi assim: um belo dia fui notificado para ir à Administração Regional de Saúde (ARS) porque a câmara tinha recebido um parecer desfavorável a um dos meus projectos e não podia/ queria passar a licença de construção sem que eu fizesse as alterações(...)
(...) Fui recebido por um jovem Engº sanitário (...)
(...) Identifiquei o processo e o Engº Rebelo da Silva (assim se chama o simpático interlocutor) (...) disparou a seguinte pergunta: "o sr. não é desenhador, pois não?"
Humildemente reconheci que não. "Logo vi. Se fosse não fazia as coisas assim."(...)
(...) Então fui informado de que o meu projecto não podia ser aprovado porque: 1º - a entrada da sala se fazia pela cozinha, e 2º - a cozinha não tinha janela. (...) Fiz notar que as entradas na sala e na cozinha eram feitas a partir de um patamar, ao nível da sala, e que a cozinha ficava bem diferenciada do patamar por três degraus que desciam e, ainda, que tinha um grande lanternim (...) que servia às mil maravilhas para iluminar e ventilar, ao mesmo tempo que, por efeito de chaminé, ajudaria a tirar os cheiros.
Nada feito. O regulamento diz que as janelas são praticadas nas paredes e o lanternim está no telhado, portanto "sopa" no lanternim.(...)
(...) Já eu estava a ver que aquele projecto não ia ser construído quando veio a explicação sobre a minha condição profissional. É que "um desenhador não tinha chamado sala à sala e cozinha à cozinha, tinha chamado a tudo cozinha e assim a cozinha passava a ter a janela que estava destinada à sala" (que deixava de existir ali). Atónito pergunto a medo: "mas, e a sala? posso fazer uma casa sem sala?"
"Não, não pode, mas não tem aí um quarto com doze metros quadrados ou mais?" Tinha. "Então chame-lhe sala".
Sabem o resultado? Fui para a minha oficina; raspei "sala", raspei "cozinha", escrevi cozinha num sítio mais central, raspei "quarto" e escrevi "sala"; tirei cópias, entreguei na câmara e... o projecto foi aprovado como estava desenhado e com legendas diferentes. Esta operação de burocratização do projecto durou para aí dois meses (...) Quando a obra foi vistoriada para ser concedida a licença de habitabilidade, ninguém se lembrou que a cozinha tinha de ter lambris pelo menos até 1,50 metros de altura e a sala que no papel é cozinha não tinha lambril. (...)
(...) Foi tudo aprovado. Sem cumprir com aquilo a que as cozinhas são obrigadas a "obedecer".
Escusado será dizer que, desde que aquela casa começou a ser habitada, a sala foi sempre sala, a cozinha foi sempre cozinha, e só, cozinha (com o lanternim e sem janela) e o quarto tem sido sempre quarto.
O que é que eles estão lá a fazer atrás do balcão?


Como esta há enúmeras outras histórias. O argumento da responsabilidade da aprovação não tem fundamento. Nenhum. O Direito à Arquitectura não é, de modo algum, garantido nesta fase. LAC

 

LR abre o activo

para ser lido em tom perfeitamente irónico
A Luísa já faz estragos. Logo no seu primeiro post faz questão se separar as mulheres dos homens. Mas quem é que me manda a mim pedir opinião a gajas? O mundo está perdido. LAC
 

Estádio às cores

Meu querido LAC: curioso como costumas dizer que os benfiquistas nada têm contra os amantes do Sporting. Por sua vez, segundo a tua opinião, essa é uma característica dos sportinguistas: atacar sempre o Benfica, dê por onde der.

Acho pois interessante o modo como afirmas que uma das razões pelas quais gostas do estádio é porque deixa a massa associativa com os cabelos em pé!! Muito bem!

Sou sportinguista, mas (como grande parte do público feminino) não consigo perceber qual o fascínio pelo futebol.
Uma ida ao estádio é sempre emocionante, confesso, principalmente se estiver cheio: já vivi a experiência... o Sporting perdeu, mas como o título já era nosso fez-se a festa na mesma.

Assusta-me a ideia dos azulejos e das cadeiras multicolor... De facto os homens que conheço apaixonados pelo Sporting referem-se a estes com muita "veemência", não irritação. Sofro com eles, pois o estádio, para quem ama o clube é uma segunda casa. Enfim. A arquitectura tem de facto esse condão , como diz LAC. Mas francamente, não há edifício deste Sr. arquitecto que não crie polémica!LR

 

Ah! Eu não vos dizia?

Já falei sobre a cultura popupar e os "monstros dos edifícios". Pensava era que se ficava pelo povo, a bem dizer. Ora aqui vai um exemplo da indignação que a arquitectura tem o condão de gerar:

(...) Como estávamos junto ao estádio de Alvalade, o motorista aproveitou a deixa e avançou com a seguinte frase: "Aqui é que está o meu desgosto."

De início pensei que ele se referia à desastrosa temporada do Sporting, ao Bölöni, ao Jardel e à Karen, ao João Pinto, ao Sá Pinto e companhia e, do fundo do meu sportinguismo magoado, proclamei: "O meu também." Mas o meu interlocutor falava de outra coisa: do estádio, do novo estádio do Sporting. Para ele, era um horror; para mim também. O que criou uma conversa animada até ao fim da corrida. Ele dizia que era uma pena, que "nós" estávamos muito bem equipados, mas o gosto, sobretudo comparado com o Estádio do Benfica, era pavoroso. Pois é. Torna-se difícil passarmos por aquela zona sem nos sentirmos agredidos por aquela monstruosidade verde. É o nosso desgosto. Alguém andou a brincar com o gosto popularucho. Alguém desrespeitou o "nosso" verde. (...)


Ah, já agora, isto é um excerto do Fio do Horizonte de hoje, que como sabem, é a crónica do EPC do público.
Ai Eduardo. Então o estádio é uma "monstruosidade verde"? Eu sou um benfiquista doente, mas fico muito triste ao ouvir um Sportinguista desiludido com o seu estádio, ainda para mais quando o compara com o do Benfica. Acontece que a obra que indigna o "gosto popularucho" é do arq. Tomás Taveira. Não o estádio mas as cadeiras às cores e os azulejos ás cores. É disso que falamos. Acontece que as cadeiras coloridas têm, por incrível que pareça, uma justificação prática: quando virmos um jogo pela televisão mesmo que o estádio estaja com meia casa parecer-nos-á que está cheio (acho que esta decisão tem a ver com a época que o Sporting acaba de fazer...). Quanto aos azulejos repito uma frase que ouvi em tempos, dita por um dos maiores (senão o maior) arquitectos portugueses vivos: "Neste pais se um gajo não faz uma coisa toda branca e direitinha está logo a televisão no dia a seguir a fazer reportagem."
Que haja lugar para a diferença.
Só assim amadureceremos culturalmente.
P.S.: Eu gosto do estádio do Sporting. Por duas razões: porque sou do Benfica e porque o estádio indigna os associados do Sporting. E porque é um bonito estádio.
P.S.2.: A revista Arquitectura e Vida prometeu para o mês de Junho um suplemento especial só dedicada aos estádios. Acho que ainda não chegou às bancas. Para todos os que se interessam nos estádios acho que vai valer a pena comprar. LAC
 

Dois novos blogs

Só ontem me dei conta da existência do DESEJO CASAR, e do AVIZ. Foram imediatamente para os meus favoritos. No Aviz há uma notícia bombástica: o regresso do Mexia e do Lomba. LAC
 

nota de rodapé

O contador regista uma média de 59 pageviews por dia. O que me leva a tirar uma única conclusão: eu visito diariamente o meu blog 59 vezes. Preciso de ajuda médica.
 

Casi No?

Rodrigo Pestana enviou um e-mail sugestivamente intitulado Casi No com os seus pensamentos sobre a polémica do Casino, datado de 14 de Maio. Aqui ficam alguns excertos:

Cada vez tenho mais dúvidas sobre esta ideia do casino para o Parque Mayer (...)
(...) A esquerda era contra e a direita, com os artista do seu lado, era a favor. O casino não consporcava ou sequer comprometia a dignidade e o protagonismo que se esperava a cultura tivesse no novo Parque e era somente uma solução excepcional para um problema (e um lugar) de excepção. (...)
(...) Mas havia também a questão da localização. Aqui, e era aqui que começavam e dividir-se as águas entre esquerda e direita, porque aos artistas esta questão se mostrava indiferente, aqui se esgrimiam os argumento, à direita, e os sentimentos, à esquerda. Uns por um casino aglutinador, capaz de atrair mais gente à cultura (numa falácia tão descarada que quase ninguém se lembrou de rebater), por um casino como mais um entre os diversos equipamentos de diversão que para ali se previam, por um casino que é tão legítimo no centro da cidade, quiçá mais ainda na Avenida, como noutro lugar qualquer. (...)
(...) Perante este quadro, o Presidente da Câmara prometeu um debate alargado mas entretanto tratou de tirar mais um coelho da cartola - o arquitecto Frank Gehry. (...)
(...) e o problema já não é o Parque Mayer mas onde colocar o casino. (...)


1. A questão política não me interessa. Ou melhor a questão ideológica não me interessa. Reconheço que é importante compreendermos as pressões políticas num projecto desta dimensão, e nada mais apelativo do que recorrer ao binómio esquerda/ direita, ou se quisermos poder/ oposição. No entanto quando discutimos cidade acho preferível não ir por aí.
2. Não ponho em causa a existência de um casino em Lisboa. Nem me importa discutir o fenómeno sociológico do jogo. Antes disso, teríamos de resolver problemas muito maiores como a droga, o álcool, o tabaco, a tele-dependência, etc, etc. Aliás considero que o Casino do Estoril tem contribuido para o prestígio da zona turisticamente. Se o mesmo puder suceder com Lisboa óptimo.
3. Confesso que a primeira vez que ouvi em Casino do Parque Mayer me assustei. Mas durou pouco tempo. Depois de analisar mais calmamente tranquilizei-me.
4. Quando vi a pequena notícia do Expresso na primeira página "Frank Gehry constroi Parque Mayer" não resisti a fazer alguns telefonemas indignado. Mais uma vez passou-me. Não me incomoda o facto de não ter havido concurso público. Acho que se o problema é urgente não se podia perder tempo com concursos extremamente burocráticos que são sempre alvo de polémicas. Aliás não se ouviram críticas nesse sentido.
5. Quanto ao facto do Casino já ter mudado de sítio 3 vezes também não me choca. É apenas reflexo de uma transparência na actuação da autarquia pela qual tanto se reclama. Ao ter anunciado consecutivamente as diversas alternativas, Santana Lopes deu a conhecer ao público a sua linha de raciocínio. Enfim, talvez esteja a ser demasiado optimista.
6. Quanto à última citação digo o seguinte: o problema já não é o Parque Mayer mas sim a arquitectura do casino. O Jardim do Tabaco parece-me bem. Preocupa-me é a falta de interesse demonstrada pela arquitectura do futuro edifício. Teve-se o cuidado de contratar um bom arquitecto para o Parque Mayer. E para o casino? Vai ficar entregue a uma qualquer firma de pronto-a-construir de casinos? Frank Gehry já cá anda há alguns meses a estudar a cidade e os seus cidadãos. Quanto ao casino parece-me que nos vai cair ao colo de um momento para o outro. Assim. Tão rapidamente como se esbanja 10.000€ numa slot machine. LAC

terça-feira, junho 17, 2003

 

Sistema de Comentários - O Fim

Apesar de ter recebido e-mails a sugerir que colocasse o tal sistema desisti. Não estou para aturar os consecutivos problemas técnicos. Além disso depois de mais uma leitura do Abrupto reconheço que concordo com o Pacheco Pereira:

13.a.Sobre comentários nos blogs

Eu sei que esta questão é controversa , mas decidi desde início não ter comentários . Este tipo de interactividade não moderada presta-se a um acumular de lixo que abafa qualquer opinião ou comentário de jeito . A experiência que tenho com o Flashback na TSF ou com a leitura do pt.soc.política é do carácter contraproducente dos comentários , que servem quase sempre para trocas de insultos sem qualquer interesse . Poluição de má educação já há que chegue para se dar oportunidade a maior produção de lixo . Agora que paga o justo pelo pecador, paga .
De qualquer modo o e-mail , que só uso para o Abrupto , permite a quem quiser emitir a sua opinião e eu , periodicamente, após pedir autorização para citar o que dizem , coloco essas opiniões em linha . Claro que é “totalitário” .


Para comentários abusem do mail. Daremos sempre resposta, seja directamente ou através do blog. LAC
 

"O execrável manifesto Direito à Arquitectura"

1. O sr. José é chamado a depor em tribunal. Parece que alguém acusou a sua mercearia de aldrabice. O juiz chama o advogado do sr. José. O suposto advogado responde: "Sr. Juiz, eu não sou advogado. Na verdade fui contratado pelo meu cliente porque sou actor de teatro amador e o meu cliente acha que eu faço o papel de advogado de uma maneira muito convincente. E apesar disso saio mais barato, já que não tenho experiência nestas andanças de tribunais e coiso."

2. A sra. Rita tem um filho. Acabou de nascer. Procurando nas páginas amarelas encontrou uma clínica de pediatria. Marcou uma consulta e foi lá. "Boa tarde sra. Dra.". Responde a médica: "Ah, não me chame de Dra. Eu nem sou médica veja lá!". "Não é? Mas então, então como é que...", diz a sra. Rita estupefacta. "Sabe, ia a passar por aqui no outro dia e vi que o andar estava à venda. Pensei para mim: eu até podia abrir um consultório, dá dinheiro que se farta. Como eu tenho muita experiência com crianças, sabe, é que eu tenho irmãos mais novos e toda a vida mudei fraldas e dei xaropes, resolvi abrir uma clínica de pediatria"

3. "Boa noite. Daqui fala o vosso Comandante. Espero que o nosso voo corra conforme o planeado. As condições atmosféricas são boas e em princípio vamos chegar vinte minutos mais cedo. Este é um dia especial para mim. É a primeira vez que entro no cokpit de um avião. Quero agradecer à companhia aérea por me ter feito este convite para vos pilotar esta noite. Já sabia que o presidente era meu fã, eu via-o sempre no estádio. Mas nunca esperei isto."

Caricaturizando é isto que se passa com a arquitectura. As nossas cidades estão entregues a decisões projectuais de profissionais que não tiveram a mínima formação na área. Engenheiros civis, técnicos de engenharia civil, engenheiros mecânicos, engenheiros de minas (!)... Todos nos brindam com os seus desenhos. Todos vivemos num ambiente criado por estes profissionais (o que diria o leitor se soubesse que o cálculo estrutural do edifício onde se encontra tivesse sido feito por um arquitecto?) Aqui vai uma estatística sobre quem projectou as nossas casas (para ser mais bruto) referente ao período entre 1974 e 1984:

Arquitectos = 4,1%

Engenheiros civis = 30%

Engenheiros técnicos de civil e minas = 45,9%

Construtores civis = 13,9%

Outros = 6,1%

Enfim. Ainda há pessoas com o descaramento de criticar os arquitectos com base no que vêem na cidade. Meus senhores, a classe reconhece e pede perdão por 4,1% das críticas. Os outros 95,9% faz favor de endereçar às autoridades competentes.
Se queremos um melhor ambiente urbano temos de exigir a presença de arquitectos na concepção dos projectos.
É o mínimo.
P.S.: Para criticar o execrável manifesto convém lê-lo já agora. São ditas coisas muito interessantes. Direito à Arquitectura.LAC
 

O Projecto mais rico

O Prometido é devido. A partir de hoje O Projecto conta com participação alargada. Quero agadecer à Luísa e ao António terem aceite colaborar nesta loucura. Este humilde blog está sem dúvida muito mais rico.
Em breve teremos novidades deles. LAC
 

MGD

Manuel Graça Dias (MGD) é um prestigiado arquitecto da nossa praça. Além disso é editor do Jornal dos Arquitectos e colaborador do Expresso. As suas crónicas são sempre uma boa leitura. Acabo de ler o texto sobre a Feira do Livro publicado no suplemento Actual do Expresso (pags. 38 e 39). Aqui MGD analisa o trabalho da dupla Margarida Grácio Nunes e Fernando Salvador relativo ao recinto da exposição. É uma crónica que se lê como um passeio. É fácil de compreender e agradável de descobrir. Com as suas palavras MGD dá-nos a conhecer a feira da maneira que mais gosto de ver descrita a arquitectura: como se tudo o que vemos o vemos pela primeira vez, deixando-nos maravilhar pelo ambiente.
Acho que MGD é dos poucos cronistas de arquitectura que consegue aproximar este específico mundo do leitor.
Isso é muito importante. LAC
 

Quanto à Identidade d' O Projecto

1. O De Direita faz uma saudação à criação de O Projecto. Muito obrigado. Espero que este espaço possa servir de meio para essas "tertúlias".

2. Em breve escreverei as minhas tresloucadas opiniões sobre o tão batido tema Arquitecto-Homem de Negócios vs Arquitecto-Artista.

3. Também em breve (espero) responderei ao "execrável manifesto "Direito à Arquitectura"." Como é óbvio discordo do que é dito.

4. Quanto ao facto de assinar simplesmente LAC deve-se ao facto de que este blog brevemente irá passar a ter contribuições de mais pessoas (não, não é para esconder um identidade secreta). Por isso, quando a equipa estiver completa divulgarei os nomes. Não vale a pena esperar por nada de especial. Somos apaixonados por arquitectura perfeitamente anónimos, e assim esperamos continuar. LAC

 

Sistema de Comentários 2

Problemas técnicos obrigaram-me a retirar o sistema de comentários. Durou um dia. Deixou de funcionar. Isto das tecnologias às vezes é desesperante. Aceitam-se sugestões. LAC
 

Complexidade e Contradição

Decorria o ano de 1966 e Robert Venturi fazia publicar a sua maior obra escrita. Complexity and Contradiction in Architecture nasceu como um manifesto pós-moderno. Era mais um livro de reação ao já anunciado e pressentido falhanço do Estilo Internacional. Como os outros poderia ter sido apenas mais um. Mas não foi. Muitos anos antes de atingir o reconhecimento internacional devido com o Pritzker, Robert Venturi pôs no papel a teorização mais consistente pós-moderna. O que mais me fascina no livro é o facto de hoje a sua leitura fazer ainda mais sentido do que então. Ler agora o Complexidade e Contradição é um abrir de olhos espantoso. Tantos anos depois ainda vigora nas escolas de arquitectura o pensamento do Estilo Internacional, ou se quisermos do Modernismo. O Funcionalismo impera. Sim, talvez seja por ser "mais fácil de ensinar", como dizia João Mário Grilo. Realmente ainda se avalia a arquitectura pelos princípios modernos. A clareza e pureza do gesto é tudo. O edifício como máquina. O Racionalismo. E por aí fora.
Complexidade e Contradição é um murro no estômago. Faz um apelo à redescoberta dos significados da forma. A expressão como contraponto da linearidade. É por isso que nos dias de hoje, onde diariamente somos invadidos por imagens de vidro e aço, onde tudo parece ser reduzido à força do mercado, torna-se libertador ler o Complexidade e Contradição. Dá-nos a vontade de voltar a questionar a arquitectura.
Não sei se a linguagem usada é acessível a todos, mesmo aos leigos em arquitectura. Mas mesmo assim recomendo vivamente a todos essa leitura. LAC

 

Sistema de Comentários

Muito a custo lá consegui pôr isto a funcionar. Caro leitor, a sua tarefa está facilitada. Agora pode insultar O Projecto directamente. LAC

segunda-feira, junho 16, 2003

 

Um blogodependente em recuperação

Acabei de ler o texto do Pedro Lomba no Blogue dos Marretas. Meus Deus! Será que também vou ficar assim? LAC
 

Já se fazem poucas casas assim

Curiosa a notícia do suplemento Imobiliário do Expresso (não ponho o link porque é a pagar). Diz o expesso jornal que "a construção de palácios caiu em desuso". Ah! Que espanto. No Iraque chegam mesmo ao ponto de andar a rebentar com os palácios. Acho bem. Ao olhar para as fotografias publicadas não sei se sinto pena se sinto revolta. Mas porque é que os palacetes têm de ser de tão mau gosto? Será que quem tem dinheiro para os mandar construir é assim tão bimbo? Deve ser. Construções contemporâneas de inspiração neo-proto-re-classizantes parecidas com bolos de noiva... Quem gosta de viver em tal sítio? Sinceramente, se eu quisesse um bolo de noiva bastante foleiro recortava a imagem do Expresso, levava-a a uma pastelaria e dizia: "Faça-me isto em açucar, por favor".
Não sei se me revolta mais isto ou os condomínios privados com cerca electrificada (de futuro escreverei sobre estes fenómenos). Mas o jornal adianta que estas construções ainda têm mercado. Diz Olga Dâmaso, directora comercial de uma imobiliária: "Geralmente quem as constroi são casais, por vezes sem filhos, e que querem ter a casa dos seus sonhos". Ainda bem que não têm filhos! É da maneira que o provicianismo cultural se fica por esta geração.
Fico muito desiludido com a falta de exigência arquitectónica que vigora em Portugal.
Enfim. Cada um tem o País que merece. LAC

domingo, junho 15, 2003

 

O Betão

Há conversas que me irritam. Uma delas são aquelas lamúrias sobre a "cidade de betão". Fico pasmado quando a responsabilidade dos atentados que diariamente se fazem à paisagem citadina é constantemente atribuída ao betão. Uma ideia repetida muitas vezes torna-se verdade. "Xii, já viste o monstro de betão que eles 'tão ali a construir ao pé da praça?" O betão está sempre lá.
Proponho outra interpretação deste nobre material.
A "Pala do Siza", já por si uma instituição, é de betão. Isso mesmo. Aquele gesto leve, suave, forte, incomparavelmente sugestivo é de betão. Surpresa! Mas o betão não é só usado para fazer coisas feias? É é. O betão é muito mau. Deviam fazer mais coisas em madeira e vidro, isso sim é bonito! Voltando à pala, apelo à consciência popular que sempre que fale de betão se lembre do Pavilhão de Portugal. Podia enumerar outros 2309949273 edifícios, mas fico-me pela obra do arquitecto português. E eu não sou suspeito, já que a obra de Álvaro Siza Vieira nem é aquela que me mais me emociona. Mas fica feita a vénia ao edifício da Expo.
Os monstros não são monstros porque são feitos de betão.
Os monstros são monstros porque não são feitos por arquitectos.
Os monstros são monstros porque são feitos por gente que acha que um arquitecto é um desperdício de dinheiro.
Os monstros são monstros porque não são arquitectura.
Pronto.
P.S.: Também há monstros desenhados por arquitectos, mas isso já é outra conversa. LAC
 

Provavelmente é verdade

O que é a Arquitectura senão a expressão cultural máxima de um povo? LAC
 

Santos Populares

«"Cheira bem, cheira a Lisboa"! Lisboa entrou em festa e não pára até 30 de Junho. Manjericos, sardinha assada e marchas são os ingredientes fundamentais.»
Jornal O Público, 12-06-03

Sem dúvida que Alfama se confunde com as suas festas. É um bairro popular com festas populares.O mês de Junho, quando se celebram as festas do concelho, transforma os bairros históricos numa praça pública que “nunca dorme”. Alfama, the district that never sleeps. Podia ser este o slogan do bairro.
Um dos grandes pólos dinamizadores da festa é o Campo das Cebolas. Com a Casa dos Bicos a apadrinhar, esta praça funciona como ponto de encontro no meio da confusão. Contrastando com as ruas e ruelas tortas e contorcidas, o Campo das Cebolas é uma espaço amplo, generoso, público, de escala citadina. E faz parte da Frente Ribeirinha. Ou seja é o ponto mais próximo do rio onde a festa tem lugar.
Mesmo ao lado a praça mais nobre de Lisboa descansa vazia. Toda a festa a contorna. Cais do Sodré, Bairro da Bica, Bairro Alto, Baixa, a Rua Augusta, Sé, Castelo, Alfama. Por todo o lado sente-se a cidade em festa. Mas no maior cartão de visita da cidade os festejos não têm lugar. Não é alvo de apropriação popular. A grande praça essa é o Campo das Cebolas.
Talvez isso seja o reflexo do espírito da festa bem como todo o espírito da cidade velha. A característica é o labirinto. O escondido. Com praças no meio claro. Mas estas praças, as de Alfama, da Bica, da Sé, funcionam como corações que bombeiam sangue para as ruas. E como as ruas são apertadas as praças têm de se encher de modo a darem força à vida das artérias. Assim o Campo das Cebolas é muito mais um ponto de encontro, de referência, de partida, do que um lugar em si mesmo.
O rio está lá.
Só que não tem importância.
Aliás essa é outra das características muito curiosas da relação da cidade com o rio. Continua a prevalecer o jogo do labirinto. Toda a encosta sul do Castelo vive sem ver o rio. Bem, há algumas abertas, mas o rio existe mais na cabeças das pessoas do que realmente. E isso nota-se nas festas populares. Sendo á “beira rio” o Tejo não faz parte da festa. É um elemento secundário. Não parece muito lógico. Mas o River Front desta parte da cidade é mais Front e menos River.
Talvez tenha a ver com a dimensão do Tejo. A tradição popular não vai muito em grandezas. O Tejo é majestoso, é imperial. A cidade é difícil, tem recantos. E por isso o Terreiro do Paço com a sua abertura majestosa e imperial para o Tejo fica sozinho em noite de festas populares.
O cozimento da cidade com o rio é feito através de aterros industriais. Aterros planos, com barracões grandes, alinhados ortogonalmente com a linha de margem. Tem cancelas que não deixam as pessoas entrar “ZONA MILITAR”. E assim os bairros e os bairristas viram as costas e fazem a festa sozinhos.
É interessante este aspecto da dimensão do rio. O Tejo em Lisboa já não é rio. É Mar. O Tejo não tem habitação, o Tejo tem portos industriais. O Tejo tem a Torre de Belém que imediatamente nos transporta para os oceanos. Assim o rio Tejo acaba em Alverca. Lisboa é banhada pelo Oceano Atlântico. É a única cidade que tem travessias diárias de oceano, os cacilheiros. Não se podem fazer festas no oceano!
A questão da escala é central para a identidade da cidade. Os símbolos da festa são a sardinha e o manjerico. A “sardinha”. Não é a “sarda”, é a “sardinha”. È um peixe pequeno, com um nome familiar, que com um bocadinho de jeito até se come as espinhas sem dar por isso. O manjerico é o bonsai português. É uma planta sui generis que se assemelha a uma pequena árvore. Este é apenas um exemplo que ilustra a centralidade da questão da escala para a identidade da cidade e dos seus cidadãos.
A importância das festas populares dominam os acontecimentos tradicionais desta área. É um mês que domina todo o ano. LAC

sábado, junho 14, 2003

 

The Casino

"O projecto mais interessante do sex. XXI" Pois. O já longo sex. XXI. Mas enfim. O Gehry lá terá as suas razões para dizer isso. A verdade é que Lisboa vai ter um projecto do suposto "melhor arquitecto do mundo". Bem, o melhor não sei se é, mas o mais bem pago provavelmente... É como à Carlsberg. Mas o que me intriga é o seguinte: os projectos Gehry, as "Gehryzadas" precisam de espaço para respirar. São espalhafatosos. Brilham. Dançam. Ora esse espaço não existe no Parque Mayer. Provavelmente vai ser difícil tirar fotografias aos futuros edifícios. Se isto acontecer será um desastre. Toda a propaganda do arquitecto americano é feito com base na imagem. Bilbau mais do que um edifício é uma imagem. E se o Guggenheim foi tão bem sucedido deveu-se muito à difusão das imagens geradas. Com o investimento que se está a fazer se não for possível criar uma imagem de marca para o Parque então não sei não...
Outro aspecto. A renovação do Parque vai ser feita com base no financiamento obtido através de um Casino. Casino esse que, nunca fiando é claro, irá situar-se à beira do Tejo. No Jardim do Tabaco dizem. Ah! Isto sim era um projecto para o Gehry! Um edifício com neons a relfectirem na água! Maravilha! Mas não. Esta coisa irá ser construída pelo Stanley Ho. Diz o empresário oriental ao Independente desta semana: "O Casino vai tar pronto um ano depois de obtida a licença na Câmara." Mais. O magnata nem tem ainda certezas sobre a dimensão da futura casa de jogo. Nem desconfia a escala do empreendimento.
Como é que ele pode então garantir este prazo? É fácil, já tem o projecto. Vai ao armazém dos casinos e tira de lá a proposta que melhor encaixe no coitado do Jardim do Tabaco. Enfim, mais um pré-fabricado. Só que com neons.
Resumindo: o que podia ser um grande acontecimento vai provavelmente ficar reduzido ao seguinte:

- Uma intervenção muito interessante de um grande arquitecto em Lisboa que infelizmente irá ser incompreendida (não pelos amantes da arquitectura atenção!)
- Casino pré-fabricado no rio (este sim, irá fazer correr muita tinta)

Ou seja, com uma ideia inicial (casino no Parque Mayer) vamos ter dois projectos. Espero para ver qual deles irá ser mais emblemático para Lisboa. Espero que esteja errado. LAC

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